O Jornal Nacional obteve, com exclusividade, gravações reveladoras de uma reunião de auditores fiscais suspeitos de fraudes milionárias na prefeitura paulistana. Eles conversam, em um clima de muita tensão, sobre dinheiro e sobre as possíveis consequências da investigação da prefeitura.
Foi no apartamento do fiscal Luis Alexandre Magalhães que os investigadores descobriram a prova mais importante até agora contra Ronilson Bezerra, ex-chefe de Luis Alexandre e ex-subsecretário da Receita Municipal, responsável por zelar pela arrecadação de impostos.
Ronilson é acusado pelo Ministério Público de comandar o esquema de corrupção que pode ter desviado até R$ 500 milhões da Prefeitura de São Paulo.
O auditor foi flagrado em uma conversa, gravada pelo próprio Luis Alexandre. Um encontro entre os dois e o fiscal Carlos Augusto di Lallo do Amaral, também investigado por cobrança de propina.
Não se sabe ainda onde se deu esse encontro entre os três fiscais. Segundo os promotores, foi depois de março deste ano, quando o grupo descobriu que a controladoria da Prefeitura de São Paulo estava investigando todos eles por suspeita de enriquecimento ilícito.
Luis Alexandre sentiu que poderia sobrar só pra ele e começou a gravar reuniões do grupo e fazer cópias do material. O Ministério Público confirmou que as vozes são de Luis Alexandre Magalhães e Ronilson Bezerra.
Luis Alexandre: Eu não estava nessa sozinho. Eu tenho todos - todos - os números de certificado. Eu não vou ser bode expiatório.
Ronilson: Isso aí pra mim é uma ameaça.
Luis Alexandre: Não, é um aviso. Eu não vou sozinho nessa p***.
Ronilson: Não vai. Porque eu vou estar contigo.
Luis Alexandre: Eu, o Lallo e o Barcellos não vamos pagar o pato nessa p*** toda.
Di Lallo: Não vai, não vai.
Ronilson: Você não vai precisar me entregar. Sabe por quê?
Luis Alexandre: Eu levo a secretaria inteira. Vai todo mundo comigo. Eu te dei muito dinheiro. Te dei muito dinheiro.
Ronilson: Você sabe por que você me deu dinheiro? Você sabe por quê? Porque eu te deixei lá.
Luis Alexandre: Isso. Então está todo mundo junto.
Em depoimento na quarta-feira (6), Ronilson Bezerra negou ter recebido propina e que soubesse do esquema de corrupção.
“Apresentamos situações em que ele participou, em que era evidente a participação dele e ele primeiro negava ter participado. E após a gente mostrar pra ele que ele estava presente naquele local, naquele dia, com aquelas pessoas, ele dizia que não se recordava daquilo”, diz o promotor Roberto Bodini.
Luis Alexandre Magalhães, que decidiu colaborar com a investigação, disse no interrogatório que Ronilson era o mais ansioso para receber a parte dele da propina, porque sempre achava que estavam passando ele pra trás.
Afirmou também que essa pressa causava sérios transtornos para o grupo, por causa da dificuldade de ficar andando com dinheiro vivo.
O Jornal Nacional teve acesso a outra conversa de Ronilson. É um telefonema gravado, no dia 18 de setembro, com autorização da Justiça.
Ronilson reclama com outra fiscal que saiu no Diário Oficial que ele está sendo investigado, dentro da prefeitura: “É um absurdo. Paula, tinha que chamar o secretário e o prefeito também, você não acha? Chama o secretário e o prefeito que eu trabalhei. Eles tinham ciência de tudo”, afirmou.
A investigação já descobriu muitos depósitos na boca do caixa em conta pessoal do ex-subsecretário de finanças da gestão Gilberto Kassab, eleito pelo DEM e hoje no PSD.
E com dinheiro da propina, Ronilson teria comprado pelo menos 11 apartamentos e escritórios em São Paulo, Minas e Rio, além de cabeças de gado para uma fazenda em Minas.
Até agora, os promotores não encontraram nenhuma prova de que Kassab soubesse da corrupção.
Em nota, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab repudiou o que chamou de tentativas sórdidas de envolver o nome dele em suspeitas de irregularidades contra funcionários públicos municipais admitidos, há anos, por concurso.
Kassab declarou que essa atitude tem objetivo escuso, exclusivamente para atingir a imagem e a honra dele.
Por fim, Kassab lembrou que a investigação preliminar do esquema de propina começou em setembro de 2012 e que só não terminou porque a gestão dele chegou ao fim.
Ainda segundo a nota, essa apuração foi transferida para a administração atual.
O ex-secretário de finanças de São Paulo, Mauro Ricardo Costa, afirmou que as acusações do auditor fiscal Ronilson, de que tinha ciência do esquema, são absolutamente infundadas.
Mauro Ricardo lembrou que Ronilson foi investigado e exonerado do cargo de confiança ainda na gestão de Kassab.