A seis meses do fim do governo, a presidente Dilma Rousseff traçou uma estratégia para reverter o baixo crescimento da economia e lançou o esboço de uma nova política para a indústria. Dilma anunciou, nos últimos dias, vários pacotes de “bondades” para empresas, todos destinados a estimular a produção e a tirar a economia das cordas neste ano eleitoral.
Apesar do diagnóstico sombrio do Banco Central - que reduziu a estimativa de crescimento e elevou a previsão de inflação deste ano -, o governo aposta na deflação dos preços de alimentos para impedir nova alta do custo de vida. Dilma sabe que a economia, mais do que nunca, virou fator decisivo na disputa eleitoral e, diante de previsões negativas, tenta dar aos empresários um horizonte de mais longo prazo.
Para estimular a indústria e agradar a consumidores, o governo decidiu prorrogar o desconto no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis. Antes, a equipe econômica planejava elevar o IPI em 1.º de julho, de 3% para 7%. Agora, o governo não sinaliza com nova alta este ano.
Dilma também vai anunciar, nos próximos dias, a entrega de novas moradias do programa “Minha Casa, Minha Vida” em várias capitais. Na última semana em que pode inaugurar obras, por causa da Lei Eleitoral, a presidente quer mostrar que mantém o estímulo à construção civil, outra área importante para alavancar o crescimento e a geração de empregos.
Sem carta
A avaliação do governo é que, ao lançar as bases de uma nova política industrial, Dilma aponta para a recuperação da economia no primeiro trimestre de 2015, indicando o fim da era do “pibinho”. Ao contrário do que em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito pela primeira vez, o PT não lançará desta vez uma nova “Carta aos Brasileiros” para acalmar o mercado financeiro.
Na tentativa de driblar o pessimismo e afastar o mau humor, a estratégia do Planalto é discutir previamente as medidas com os empresários, como Dilma fez na reunião com o Fórum Nacional da Indústria, no dia 18. Na avaliação de dirigentes ouvidos pelo Estado, Dilma protagonizou um importante movimento de reaproximação com o setor produtivo.
O diálogo prossegue e deve produzir novas medidas, para serem anunciadas ainda neste ano. Há negociações com os Ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento. O setor têxtil, por exemplo, discute um regime tributário específico. Se prosperar, as empresas terão queda de 18% para 3% em sua carga tributária. Também está no forno um programa de renovação das máquinas industriais.
Confiança
As causas estruturais da perda de confiança do empresariado, porém, continuam longe da agenda do Planalto. “O buraco é mais fundo e, para fazer o Brasil sistemicamente mais competitivo, o caminho é árduo”, afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Buch Pastoriza.
Para ele, as reformas política, trabalhista, previdenciária e tributária têm de ser feitas no primeiro semestre de 2015. “Se não fizer, daqui a quatro anos a situação estará irreversível e deixaremos de ser uma potência industrial”, disse Pastoriza.
Para Maurício Canêdo Pinheiro, da FGV do Rio, as medidas adotadas até agora são positivas, mas de alcance limitado. “Na ponta do lápis, às vezes não vale a pena.” Diante do calendário político, os empresários optaram por concentrar as conversas com o governo nos itens que podem ser resolvidos no curto prazo e, nesse campo, saíram otimistas. “São as bases de uma política industrial”, resumiu o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Walter Cover.