O fim da relação entre Fred e Fluminense foi conturbado e com explicações vagas sobre os motivos do término. Mas, em entrevista ao GloboEsporte.com, o atacante resolveu detalhar as razões e atacou fortemente o presidente Peter Siemsen. Confira o trecho em que ele faz as revelações e leia aqui a íntegra do papo. E, ao final do texto, a resposta do presidente tricolor.
Qual foi o real motivo da sua saída do Fluminense?
A verdade é uma só. Nos últimos meses que estava no clube, percebi que se iniciou um processo de fritura da minha pessoa por parte da diretoria do Fluminense. Vi que começou a vazar muitas informações a respeito do meu salário, que minha permanência no clube estava inviabilizando a conclusão das obras do novo CT...
Então, percebi todo esse cenário que estava sendo desenhado contra mim e procurei o presidente. Eu disse: “Peter, o Fluminense é minha segunda casa, meu sentimento é de gratidão, devo muito a esse clube. As maiores alegrias que tive na minha carreira foram aqui, o momento mais difícil que passei no futebol, foi o Fluminense que me acolheu de uma forma que ninguém mais faria. Por isso, quando achar que sou um peso financeiro, peço para me procurar”. E não deu outra. Ele procurou meu representante e disse com todas as letras que ele poderia buscar qualquer situação para eu sair, porque estava sendo um peso após a saída do antigo patrocinador e pela suposta dificuldade da Frescatto em honrar a parte que lhe cabia do meu salário. Abriu-se a possibilidade de eu ser liberado até de graça, principalmente se fosse para o exterior.
Recebi essa notícia com certa tristeza, mas estava decidido que, quando ouvisse isso da diretoria, buscaria o meu caminho. Pouco tempo depois, o Levir Culpi assumiu e, coincidência ou não, senti ali que o processo de fritura se intensificou. A sensação que eu tive foi de que aquela situação era algo premeditado. Na primeira oportunidade que teve, o presidente do Fluminense aceitou até mesmo me envolver numa troca de jogadores com o São Paulo. A negociação foi aberta e por muito pouco eu não fui pra lá. Na última hora, a transação não se concretizou porque minha única condição era sair em definitivo. Eu não aceitaria ser emprestado para outro clube por puro capricho do presidente e correr o risco de manchar minha história no Fluminense. Enfim, depois de todo esse tempo, houve interesse concreto do Atlético-MG na minha contratação e, apesar de conturbada, o desfecho da transação se deu muito rápido.
A essa altura, eu também já estava muito chateado com a diretoria do Fluminense por todo o desgaste que foi gerado. O Fluminense fez investimentos infinitamente superiores, com valores de salários e aquisições de direitos econômicos, que superaram de muito longe os meus custos para o clube. Admito que também já não tinha mais força para seguir lutando contra aquilo. Então, cedi e concordei.
Mas Deus é tão bom em minha vida que uma situação que eu nunca tinha imaginado... o que parecia ser o fim se tornou um novo começo. Achava que não teria em outro lugar a mesma felicidade e o mesmo prazer que tinha de jogar no Fluminense, mas consegui encontrar aqui no Galo, no convívio do dia a dia no clube, mas principalmente na torcida, uma alegria tão grande quanto a que tinha no Rio.
Houve problemas com o Levir Culpi (ex-técnico do Fluminense)?
Não serei hipócrita em falar que não houve nenhum problema, mas também garanto que já está tudo resolvido entre eu e ele. Após todos os fatos, sentamos frente a frente e resolvemos todas as nossas diferenças. O Levir é um treinador que sempre admirei, desde a primeira vez que trabalhei com ele, ainda no Cruzeiro.
Todas as vezes que o nome do Levir surgiu como uma possibilidade no Fluminense, fiquei muito feliz, porque tinha certeza que viria um grande treinador pra nos comandar. Para minha surpresa, ele chegou questionando minha conduta desde o começo, e eu não concordei. Por isso tivemos aquele problema. A gota d’água foi quando, numa roda durante um treinamento perante todo o grupo, ele quis dizer que eu desrespeitei o Scarpa por conta da forma que o cobrei dentro de campo. Eu também tenho minha personalidade e não admiti que ele colocasse sete anos de história, de muita dedicação e conquistas em xeque por uma situação que não fazia o menor sentido.
Sempre tive um carinho enorme pela molecada de Xerém, sempre protegi, algumas vezes até mais do que deveria. Quem acompanhou minha história no Fluminense já me viu inúmeras vezes me emocionar com gols, com a ascensão desses garotos, porque sempre enxerguei neles o passado difícil que tive. Então, queria que eles não sofressem o tanto que sofri pra chegar onde cheguei. Meu objetivo sempre foi ser um atalho pra eles, por isso não poderia concordar com uma afirmação que não tinha absolutamente nada a ver com a realidade.
Mas, como disse, quando tivemos uma conversa de homem para homem, tudo isso ficou claro. E o meu respeito e a minha admiração pelo Levir permanecem intactos. Acredito que, hoje, mesmo com toda sua experiência, o Levir também deve ter percebido que ele foi enganado pelo Peter; as declarações dadas por ele após a sua saída deixaram claro isso.
Como é a política no Fluminense?
Se toda disputa política em um time de futebol for igual à do Fluminense, te garanto que isso não é nada saudável pra essência do clube, que é o futebol. O que vejo ali é uma disputa pelo poder, custe o que custar. Vejo que em muitos momentos falta respeito com a instituição, falta ética, zelo pela história do clube, que é, no final das contas, o mais importante de tudo. Infelizmente, percebo que o interesse pessoal está acima do clube.
Não estou me referindo às questões financeiras, digo mais por poder e vaidade. O dia que quem estiver no comando perceber que fazer um futebol forte e manter uma estrutura de trabalho digna é o que realmente importa, os bastidores da política terão um nível muito mais elevado.
"Li a entrevista concedida pelo jogador Fred, atualmente no Atlético Mineiro, a respeito da sua saída do Fluminense. Lamentável o momento escolhido, pois acaba por parecer um oportunismo eleitoreiro a serviço de uma candidatura de oposição. O relato de uma vitimização de um atleta renomado e experiente como Fred não combina com o tamanho e o sucesso de sua carreira. Pelo contrário, acaba por enveredar por um caminho pouco profissional e claramente de quem não gosta de ser contrariado.
Em seis anos à frente do clube convivi com funcionários e atletas, sempre sem privilegiar ninguém. Quando investi em Xerém e na construção do novo Centro de Treinamento dos profissionais, pensei sempre no clube e no coletivo, melhorando a qualidade de trabalho de todos. Jamais tratei alguém com privilégio. E nesse caso, não poderia ser diferente. O que eu ganharia “fritando” um atleta do tamanho e com a história do Fred? A irritação da torcida, um enfraquecimento político, crianças tristes com a saída do ídolo etc. Ora, com certeza não pensei em mim em nenhum momento. Porém, uma acusação oportunista não pode ficar sem resposta.
A saída foi solicitada pelo atleta e por seus assessores, situação reafirmada de forma contundente dentro do departamento de futebol do Fluminense na presença de várias outras pessoas. Naquele momento, disse ao atleta que gostaria que ficasse e que se concordasse em ficar, aquele assunto seria imediatamente esquecido e ele já treinaria no dia seguinte. Como o atleta não concordou, assim como seus assessores não concordaram, o negócio foi finalizado. Pouco tempo depois apareceu uma foto dele ainda no vestiário do Fluminense, já com a camisa do Atlético. A vontade do atleta de ir para o Atlético era tanta que ele recusou o contato com o clube rival pelo qual despontou no seu início de carreira e que, por diversas vezes, fez juras de amor.
Enfim, eu não misturo o ídolo com o homem, por isso não quero macular os grandes momentos e nem esconder os momentos difíceis que vivemos no Fluminense. Só lamento mais uma vez que o atleta tente interferir na política do clube para apoiar quem, na época, investido na vice-presidência de futebol, discutia com ele salários, contratações de jogadores, técnicos etc. Escolhas que, se tivessem sido corretas, teriam rendido vários campeonatos nos últimos dois anos. Entendo que cada um deva cuidar do seu papel e o clube tem que estar acima de todos."
Mário Bittencourt, ao se sentir atingido pela manifestação de Peter, fez o seguinte pronunciamento:
" 'O presidente mente, não é firme, irrita... É difícil engolir as mentiras sendo ditas em sua cara como se fossem verdades'. Essa avaliação do presidente Peter não foi feita por mim, mas pelo próprio candidato da situação, Pedro Abad. E a avaliação do Abad sobre o presidente é perfeita. Ele mente mais uma vez hoje ao falar do Fred, o maior ídolo recente do Fluminense, que foi escorraçado do clube por ele.
Peter criou factoides e está fazendo campanha eleitoral há meses para seu candidato. Agora, que a verdade sobre como ele e seu grupo político tratam o futebol do Fluminense veio à tona, ele diz que é atitude eleitoreira.
Não tenho nenhum vínculo com o Fred, além da dignidade e hombridade com que sempre nos tratamos. Nos damos bem porque somos verdadeiros. E por isso não estamos do lado do presidente. Esse Fluminense de mentira tem que acabar. E o nosso torcedor vai saber escolher amanhã, nas urnas."