RIO — Uma semana depois do colunista Lauro Jardim revelar que o Ministério Público do Rio de Janeiro vai pedir a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Flávio Bolsonaro e seu ex-assessor Fabrício Queiroz, o senador afirmou que a investigação é “ilegal” e utilizada para atacar o seu pai. As apurações começaram no ano passado, quando um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou que Queiroz havia movimentado R$ 1,2 milhão no período de um ano em condições suspeitas.
No mesmo tom de ataque às apurações do MP-RJ, o presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que seu filho é “vítima de uma acusação política e maldosa” e que seu ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, também pode ser alvo do mesmo tipo de denúncia.
Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Flávio afirmou que a investigação conduzida pelo MP-RJ é ilegal e deve ser arquivada.
Segundo o senador, a quebra dos sigilos fiscais e bancários dele e de Queiroz serve para“dar um verniz de legalidade naquilo que já está contaminado”.
— Eles querem requentar uma informação que conseguiram de forma ilegal, inconstitucional. Como viram a cagada que fizeram, agora querem requentar, dar um verniz de legalidade naquilo que já está contaminado e não tem mais jeito. Vejo que há grande intenção de alguns do Ministério Público de me sacanear — afirmou o senador.
Sem notícias de Queiroz
Em março, após representação do PSL do Rio, comandado por Flávio Bolsonaro, o procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem, negou a existência de investigação ilegal contra Flávio Bolsonaro. Na ocasião, afirmou que“em momento algum faltou com o dever ético-institucional inerentes ao cargo”.
Na entrevista de ontem, o senador afirmou ainda que não sabe do paradeiro do seu ex-assessor Fabrício Queiroz e que talvez tenha “confiado demais” nele:
— Quem tem que cobrar agora explicações é o Ministério Público. Óbvio que cobrei também, mas ele não me deu as explicações precisas à época, me deu de forma genérica. Agora é o Ministério Público que tem de apurar. Talvez meu erro tenha sido esse: confiar demais nele, sem dúvida.
O senador negou ainda que houve em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alej) a chamada “rachadinha” — prática de servidores devolverem parte dos salários aos deputados. Em fevereiro, o próprio Queiroz confirmou, em depoimento por escrito, que servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro devolviam parte do salário e que esse dinheiro era usado para ampliar a rede de colaboradores junto à base eleitoral do então deputado.
Ao ser questionado se os servidores de seu gabinete lhe contaram sobre a prática de devolverem parte do salário para Queiroz, Flávio negou a versão. O senador acusou, mais uma vez, o MP-RJ de vazar informações do caso.
— No meu caso, foi tão absurdo que o Ministério Público pedia por e-mail ao Coaf para que notificasse o banco e tivesse informações que nem o Coaf tinha.
Em entrevista à rádio Bandeirantes, Bolsonaro foi questionado sobre a permanência de Marcelo Álvaro no governo. Ele é acusado por filiadas ao PSL de Minas Gerais de liderar um esquema de candidaturas laranjas na eleição de outubro de 2018 para desviar recursos do fundo eleitoral. O ministro nega as acusações.
— Quando o (Sérgio) Moro (Justiça) era juiz, perguntou: O caso do Marcelo está indo para frente. Se tiver algo robusto, a gente toma providência. Agora, não pode pintar denúncias sem materialidade. Ou vou ter de mandar embora todo mundo.
Ao completar o raciocínio, ele citou o filho.
— Você pode ver. O PSL do Rio tem a acusação de três mulheres laranjas. Cada uma recebeu R$ 2,8 mil. Por que recebeu? Para pagar contador. E a imprensa nos acusa, porque meu filho era presidente do PSL, em cima disso. Agora, vai afastar meu filho do Senado por causa de R$ 2,8 mil para três mulheres? Uma acusação política, maldosa. Não é o mesmo que pode estar acontecendo com o Marcelo? Pode — disse o presidente.
Relação com milicianos
O gabinete do senador empregou a mãe e a mulher do capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, tido pelo MP do Rio como o homem-forte da organização suspeita do assassinato de Marielle Franco. Ele é acusado há mais de uma década por envolvimento em homicídios. Adriano e outro integrante da quadrilha foram homenageados por Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Ao ser questionado sobre sua relação com o miliciano, Flávio diz que o ex-PM foi apresentado a ele por Queiroz, em 2003, na época em que ele respondia a uma denúncia de ter matado um trabalhador, que segundo ele, na verdade, era um traficante.
O senador diz que homenageou centenas de policiais por situações específicas, como prisões e apreensões efetuadas, e que não era possível "puxar a ficha" de todos. Flávio diz que nunca defendeu miliciano e que "qualquer agente público que esteja à margem da lei tem de ser punido".