A cinebiografia “Papa”, sobre a amizade do escritor Ernest Hemingway com o jornalista Denne Bart Petitclerc, conseguiu um feito histórico: rompeu o embargo dos EUA a Cuba. Ao obter autorização para ser filmado em Cuba, tornou-se o primeiro filme americano a ser rodado no país em mais de 50 anos – desde a revolução castrista de 1959. A informação é do site The Hollywood Reporter.
O longa pôde ser rodado na ilha porque o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos eliminou a maioria das restrições de embargo, que poderiam impedir a realização das filmagens.
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Dirigido por Bob Yari (produtor de “Crash: No Limite”), suas filmagens se estenderam pelas ruas de Havana até o último final de semana.Todos os equipamentos tiveram de ser levados dos EUA para garantir a qualidade técnica. Mas, durante as filmagens, a produção teve o suporte do Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográficas (ICAIC), que disponibilizou locações, figurinos e atores locais.O longa é estrelado por Giovanni Ribisi (“Caça aos Gângsteres”), que dá vida a Petitclerc, e Adrian Sparks (“Minha Noiva É uma Extraterrestre”), que já interpretou Hemingway no teatro. “Estive exatamente no mesmo quadrado de terra em que ele pisou e fiquei com sua máquina de escrever na minha frente… Eu não o estava interpretando, estava canalizando tudo aquilo”, declarou o ator.A equipe teve acesso a alguns dos locais mais emblemáticos de Havana, como o antigo Palácio do Governo, que se transformou em um museu sobre a revolução de Fidel Castro. Uma sala do Gran Teatro, que passa por restauração, serviu de locação para o bar do hotel Ambos Mundos, que o escritor frequentava.
Outra importante locação foi a fazenda em que o escritor viveu, a Finca Vigia, considerado hoje um santuário nem mesmo os turistas tem permissão para visitar.“Para mim, era vital fazer o filme em Cuba, onde aconteceu tudo o que está no roteiro, como a fazenda em que Hemingway viveu… e Cojimar, onde ele pescava. Tudo está aqui. Tentar recriar isso em outro lugar não seria nada atrativo”, afirmou Yari.
Em função do embargo imposto pelos EUA a Cuba em 1962, outros filmes americanos que se passam em Cuba, como “O Poderoso Chefão II” (1974) e “Havana” tiveram de ser rodados na República Dominicana ou Porto Rico.A autorização para “Papa” só foi dada porque o filme está sendo categorizado como “documentário” – é, na verdade, um docudrama – , já que faz um relato de eventos reais que ocorreram no país. Por isso, nenhum outro longa hollywoodiano deve conseguir o mesmo tipo de permissão.
Ironicamente, a atriz Sharon Stone, que deveria participar das filmagens como esposa de Hemingway, está processando o diretor e produtor Bob Yari por ter sugerido que ela viajasse ilegalmente para participar do projeto em Cuba. Yari, porém, garante que possuía todas as permissões, tanto que realizou o filme. O papel ficou com Joely Richardson (série “Nip/Tuck”).EUA e Cuba procuram preservar até hoje as obras e pertences de Hemingway e, por isso, nada é mais conveniente que o primeiro longa hollywoodiano a ser filmado em Cuba, após a revolução, seja uma obra sobre o escritor.
Hemingway foi, provavelmente, o americano mais importante a fazer de Cuba o seu lar e acho que o povo do país até hoje o estima e o ama. Espero que esse filme preencha esta lacuna entre duas culturas e dois povos que se separaram”, declarou o diretor.O escritor viveu em Cuba entre 1939 e 1960 e escreveu várias de suas obras no país como o clássico “O Velho e o Mar”. Já Petitclerc se apaixonou pelas obras de Hemingway ainda menino. Quando trabalhava no jornal Miami Herald nos anos 1950, chegou a escrever uma carta de admiração ao ídolo, mas nunca teve coragem de enviá-la. Mas sua namorada a encontrou e a enviou, iniciando a longa amizade entre os dois, que perdurou até o suicídio de Hemingway, em 1961. O jornalista ainda escreveu livros e roteiros de séries e filmes e chegou a adaptar um dos livros de seu ídolo, “Islands in the Stream”, para o filme “A Ilha do Adeus”, estrelado por George C. Scott (“Patton – Rebelde ou Herói?”). Petitclerc morreu em 2006.