Um dos filhos do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, Anderson Gomes, 21, vai subir pela primeira vez em uma passarela em um desfile de moda na próxima segunda-feira (16) no Intercoiffure Regional do Rio de Janeiro, evento de beleza no Shopping Fashion Mall, em São Conrado, zona sul do Rio de Janeiro.
O rapaz deu os primeiros passos na carreira de modelo em uma sessão de fotos na última quarta-feira (9). A saudade do pai, desaparecido após abordagem de policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, ainda é grande, diz ele, que quer aproveitar a oportunidade para ajudar a mãe e os cinco irmãos.
"Estou muito contente com essa oportunidade. Quero muito poder ajudar minha família. Sinto falta do meu pai, mas a gente tem que seguir nosso rumo", disse o rapaz.
Uma tia de Anderson o apresentou ao coordenador do evento, Ricardo Moreno, também dono de um salão de beleza na cidade. Apostando no rapaz, ele o apresentou ao dono da agência 40 Graus Models, Sergio Motta, que passou a ajudar o filho de Amarildo nos primeiros passos como modelo.
"Ele tem o corpo bonito, uma cor bonita e olhos azuis turquesa lindos. Ele agora precisa vencer essa timidez", disse o empresário.
Anderson está cursando supletivo para terminar o ensino médio. Com a oportunidade, ele pretende seguir na profissão de modelo. "Eu quero seguir essa carreira. Tenho recebido muito apoio da família, dos amigos, da comunidade. Todo mundo ficou alegre", disse.
Em seu primeiro desfile, Anderson, assim como todos que participarão, não receberá cachê, segundo a organização do evento.
Pensão
Na segunda-feira (9), a Justiça determinou que o governo do Estado do Rio pague à família do ajudante de pedreiro uma pensão mensal no valor de um salário mínimo e tratamento psicológico para nove pessoas da família da vítima, no valor de R$ 300 sessão.
Na decisão, o juiz da 16ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio, desembargador Lindolpho Marinho, diz que a medida deve ser cumprida dentro de um prazo de cinco dias, a contar da data da notificação ao governo. Serão beneficiados com o tratamento psicológico a mulher de Amarildo, seis filhos, uma irmã e uma sobrinha.
Com medo da polícia, a mulher de Amarildo passou a morar, no começo de agosto, na casa da cunhada, Maria Eunice Dias Lacerda.
Lá, Elisabeth Gomes da Silva divide com os seis filhos um quartinho de cerca de 3 m², antes usado como cozinha, anexo à casa de dois quartos, sala e banheiro que abriga ainda outros dez parentes. Entre filhos, sobrinhos, netos e agregados, numa escala de idade que vai dos seis aos 60, ao todo 17 pessoas vivem no local.