Falsa socialite Kelly Tranchesi aplicava cerca de sete estelionatos por dia

Publicada em 19 de Maio de 2014 �s 13h00

Aos 22 anos, Kelly em uma de suas temporadas na cadeia Imagem: Reprodu��oClique para ampliar Aos 22 anos, Kelly em uma de suas temporadas na cadeiaMentirosa compulsiva, a estelionat�ria mato-grossense Kelly Samara Carvalho dos Santos se apresentava, em S�o Paulo, como Kelly Tranchesi, dizia que era da alta sociedade e aplicava golpes em lojas de grife, hot�is cinco- estrelas e locadoras de carros. Costumava tamb�m “apagar” os amantes de uma noite s�, misturando tranquilizante em suas bebidas para depois subtrair deles dinheiro, tal�es de cheque e cart�es de cr�dito. Entre per�odos na cadeia e em liberdade, a falsa socialite est� com o filme queimad�rrimo no eixo Rio-SP Nascida em Amambai, cidade a cerca de 360 quil�metros de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Kelly Samara Carvalho dos Santos, 25 anos, sempre teve problemas com o pr�prio nome. Considerava Kelly Samara “pobre”. Kelly dos Santos? “Um horror.” Precisava dar um jeito de se livra daquela origem simples. Ainda crian�a, na escola, j� roubava objetos dos coleguinhas mais fracos e amea�ava bater neles caso a denunciassem. Na adolesc�ncia, alternava longos per�odos na Funda��o Casa, ex-Febem. Aos 19, praticamente uma profissional, ela foi a S�o Paulo para uma temporada de estelionatos. Na ocasi�o, 2007, adotou v�rios pseud�nimos “sofisticados” para proteger-se de suspeitas nos golpes que perpetrava em lojas de marca dos Jardins. Apresentava-se como Kelly Lambertini, Kelly Caramazoff e Daniela Garcete (de uma fam�lia rica do MS). Sua identidade preferida, contudo, era Kelly Tranchesi, alus�o � antiga dona da butique Daslu. saiba mais Hotel de luxo oferece iPad de ouro e mordomo para crian�as Nepal�s queima gr�vida para exigir moto e b�falos de dote Brasileiro faz 12 cirurgias para se tornar boneco humano M�e de nove est� gr�vida de g�meos e ter� mais benef�cios Para melhorar "selfies", mulher gasta R$ 30 mil em pl�sticas Leia mais sobre Comportamento Foi nessa �poca que se tornou uma figura nacionalmente conhecida, gra�as ao destaque que a m�dia deu aos seus trambiques. Sua estreia nos jornais foi quando subtraiu do filho da dona de uma galeria de arte uma gravura do pintor espanhol Joan Mir�, avaliada em R$ 35 mil. Kelly e Gianpaolo Gelleni se conheceram quando ele embicou o carro na porta da garagem do pr�dio onde morava. Enquanto ele aguardava que o port�o autom�tico abrisse, Kelly atravessou na frente do carro e o cumprimentou, como se o conhecesse. “Ela me chamou de Bruno, depois pediu desculpas e disse que eu parecia um amigo dela”, contou Gelleni ao jornal O Estado de S. Paulo. Os dois come�aram a conversar, Kelly disse que era do Mato Grosso e que estava em S�o Paulo para estudar, por insist�ncia do pai, dono de um bingo. Eles passaram a sair. Um dia, ele a convidou para ir ao Cafe de La Musique: “Pedi uma dose de u�sque e apaguei”, contou o rapaz, que acordou na cama. “Tomei um ‘boa noite cinderela’ (golpe que consiste em apagar a v�tima e furtar objetos dela).” A m�e dele, Marina, disse ao Estad�o: “Sempre desconfiei, ela n�o tinha todos os dentes”. Gelleni ainda defendeu a mo�a: “S� faltavam alguns do fundo da boca”. Aprendiz de delinquente Criada pelos av�s maternos, Kelly tornou-se uma aprendiz de delinquente j� na adolesc�ncia, quando n�o respeitava regras na escola, inventava para si identidades grandiosas e cometia pequenos furtos. Em um determinado momento, passou a ser acompanhada pelo conselho tutelar do Mato Grosso do Sul. Quando se viu livre, com a maioridade, deixou a cidade de 31 mil habitantes para fazer a vida em lugares maiores e mais ricos, onde o relativo anonimato a deixaria sossegada para praticar seus delitos. Atuou no Mato Grosso do Sul, Goi�s, S�o Paulo e interior (Ribeir�o Preto, Dourados e Jaboticabal) e Rio de Janeiro. “Ela circulava com um status social bastante interessante”, disse o delegado Jos� Eduardo Vasconcelos, de Bebedouro, que a investigou em um de seus golpes. Da primeira vez em que a prenderam, em S�o Paulo, em 1� de agosto de 2007, a pol�cia chegou a ela gra�as � den�ncia de uma locadora de autom�veis para qual devia R$ 6,5 mil. Foi detida dirigindo um carro importado alugado. Morena de cabelos lisos, corte chanel, 1,76 metro de altura, 56 quilos, ela at� enganava como patricinha. Saltos altos, Kelly entrava nos lugares pisando firme, poc, poc, poc, batia a cinza do cigarro no ch�o e tratava mal os servi�ais. N�o suspeitava que esse comportamento poderia revelar justamente seu complexo de pobreza. Assim que come�ava a falar, despejava nos ouvidos alheios um portugu�s t�o castigado de erros de concord�ncia que era imposs�vel n�o suspeitar. Quando contrariada, ainda subia o tom de voz. “Ela era do tipo escandalosa. Falava: ‘Voc� sabe com quem est� falando?’, e as vendedoras das lojas, com medo que ela espantasse os outros clientes, acabavam aceitando o pagamento com os cheques suspeitos”, lembra a delegada Aline Gon�alves, do 15� Distrito Policial, Itaim Bibi, zona oeste de S�o Paulo, em entrevista a J.P. Muito sol�cita Depois de uma saison na penitenci�ria de Santana, na zona norte de S�o Paulo, a luxuosa detenta conseguiu alvar� de soltura e logo estava pronta para recome�ar a agir. Kelly n�o escolhia v�tima, era a que estava � m�o. Certa vez, ao amparar uma aposentada de 84 anos que trope�ou na rua, ela se prop�s a acompanh�-la at� em casa. A mulher at� disse que j� estava bem, mas, muito sol�cita, Kelly insistiu em subir ao apartamento dela. L�, conversa vai, conversa vem, pediu um copo d’�gua e, enquanto a outra foi buscar, pegou um tal�o de cheques que estava dando sopa em cima da mesa da sala de jantar. “Essa mo�a subestimou minha intelig�ncia, foi muito c�nica”, disse, � �poca, Amena Campos de Souza. Entre uma temporada e outra na cadeia, Kelly Samara executou um de seus golpes mais ousados. Foi � delegacia prestar queixa contra a pr�pria advogada, Yara Alves Brasil, a quem ela acusava de ter roubado suas roupas. A verdade � que, quando foi presa anteriormente, Kelly pediu a Yara que pegasse sua mala no hotel onde estava hospedada. Como n�o tinha resid�ncia fixa, nem bons antecedentes para alugar um apartamento, ela aplicava 171 em cinco-estrelas. “O gerente do hotel estava furioso porque ela n�o tinha pago sequer uma di�ria”, conta Yara em entrevista a J.P. A advogada tamb�m n�o recebeu os R$ 4 mil que cobrou de honor�rios. Intimada na delegacia, Yara falou de suas suspeitas sobre a cliente e entregou a mala cheia de roupas ainda com etiquetas aos detetives. Ao chamar Kelly para pegar seus pertences, a pol�cia a prendeu em flagrante com o tal�o de cheques de dona Amena na bolsa. Tal qual as adolescentes deslumbradas do filme A Gangue de Hollywood (2013), de Sofia Coppola, que entram em casas de celebridades para furtar roupas de grife, Kelly insistia em manter a pose mesmo ap�s ser detida. Tentou, inclusive, fazer uma social com a delegada: “Doutora, por que a gente n�o sai para jantar?”, ela perguntou, como se as duas fossem unha e carne. Rainha do camarote Sua agenda era recheada de contatos importantes. Como toda boa alpinista social, Kelly sabia de cabe�a uma s�rie de nomes que conhecia dos sites de celebridades. Em seu perfil no Orkut, onde se apresentava com a frase “Eu adoro festa em S�o Paulo”, aparecia em fotos com atores de TV, jogadores de futebol e socialites. Em geral, conseguia acesso aos camarotes vip das casas noturnas porque estava sempre com uma garrafa de u�sque (roubada) para dividir com a turma. Dentro do camarote, ela enfiava a m�o boba em todas as bolsas. Caso sa�sse da balada com algum incauto, dava um jeito de jogar umas gotinhas do tranquilizante Rivotril na bebida dele. Quando foi presa, acharam um frasco do rem�dio em sua bolsa. Um dos boletins de ocorr�ncia contra Kelly foi registrado por um rapaz que, ao despertar, dera pela falta de R$ 5,5 mil e o cart�o de cr�dito. Dependendo do interlocutor, quando queria impressionar muito, se passava por filha do presidente do Paraguai, Nicanor Duarte. O pai biol�gico de Kelly morava naquele pa�s e nunca lhe dera a m�nima. A m�e, segundo ela, a abandonara ainda beb�. Nas delegacias, ela costumava assumir o personagem da perturbada que cometia delitos para chamar a aten��o dos pais. Por�m, do mesmo jeito que come�ava a chorar para sensibilizar as pessoas, ela parava sem embara�o, quando se sentia desmascarada. Apareceram mais de 20 v�timas dela s� em S�o Paulo. A pol�cia imagina que h� muito mais. Segundo a delegada Aline Gon�alves, “ela cometia por volta de sete estelionatos por dia”. “A Kelly era investigada em sete inqu�ritos, mas poderiam ser 35. A pol�cia precisava ter uma delegacia s� para ela.” A maioria das v�timas, segundo a delegada, n�o presta queixa porque se sente constrangida. Sempre que o filme de Kelly queimava em uma cidade, ela se mudava para outra. Depois de S�o Paulo, desembarcou no Rio de Janeiro. Em pouco tempo, a pol�cia a deteve quando sa�a sozinha de uma boate na G�vea, na zona sul. Localizou-a com a ajuda de um taxista que fora v�tima da mato-grossense. Para chegar � casa noturna, Kelly tinha pago a corrida de R$ 56 com um cheque roubado. “� sa�da, no caixa, o cart�o de cr�dito n�o passou, ela disse que ia buscar o dinheiro no carro”, contou o policial que a detivera. Embora houvesse suspeita de que tinha contas a pagar em hot�is da zona sul e um laptop furtado no valor de R$ 8 mil, ela negou tudo. O estelionat�rio quase sempre � posto em liberdade provis�ria, por n�o ser considerado um criminoso violento ou que ameace a ordem social. � uma categoria conhecida por ganhar a v�tima na l�bia. Mentirosa compulsiva, Kelly continuou sua peregrina��o, agora pelo interior, fugindo. Em dado momento, ela ficou na cadeia por quase um ano. Al�m de S�o Paulo e Rio, passou por penitenci�rias em Bebedouro, Viradouro e Colina. Recentemente, esguichou tranquilizante na bebida de um pretendente em Ponta Por�. A �ltima not�cia dela, fornecida pelo Tribunal de Justi�a do Mato Grosso do Sul, d� conta de que estaria foragida, desde 2012, da cadeia de Dourados (MS), onde cumpria pena em regime semiaberto. “Enquanto a gente conversa, ela deve estar aplicando mais um golpe”, acredita a delegada Aline Gon�alves. Por sua vez, sempre que � capturada, Kelly se mostra arrependida, com uma frase que j� virou seu bord�o: “Agora me aposentei. S�rio”. Ent�o, t�.

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Fonte: Vooz �|� Publicado por:

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