Um ex-servidor e um ex-gerente de bancos diferentes foram alvo da Operação Contrafeito, deflagrada pelo Departamento de Combate à Corrupção (Deccor) na manhã desta quarta-feira (4) em Teresina e Timon (MA). Segundo a Polícia Civil do Piauí (PCPI), eles são suspeitos de receberem vantagens indevidas para liberarem empréstimos e financiamentos a empresas com endereços fictícios e inexistentes. O prejuízo gira em torno de R$ 3 milhões, conforme a investigação.
O ex-servidor e um vendedor de uma loja de celulares, que atuava como "laranja" no esquema, foram presos em Teresina. Já o ex-gerente, que também foi alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga o mesmo esquema, seria preso em Timon, mas não foi encontrado pelos policiais em seu endereço e está foragido.
A investigação determinou que os valores dos empréstimos eram levantados a partir de documentos contábeis e faturamentos manipulados artificialmente pelos suspeitos. Um contador, empresas e outras pessoas ligadas ao grupo também são investigados.
De acordo com o delegado Ferdinando Martins, coordenador do Deccor, as prisões foram um desdobramento de outra operação realizada pelo departamento em dezembro de 2022.
Na época, a polícia descobriu que um escritório de contabilidade manipulava os documentos exigidos pelos bancos para a concessão dos empréstimos. Entre as empresas beneficiadas - a maioria fictícia - havia prestadoras de serviço, do ramo de autopeças e do comércio de veículos.
"Dentro dos cadastros, [elas] queriam demonstrar certa capacidade econômica. A ideia era abrir o CNPJ e permitir que laranjas emitissem dinheiro para essas contas, fingindo aquecer aquela movimentação bancária, para posteriormente o contador dar uma declaração falsa de faturamento e elas pudessem levantar empréstimos", explicou o delegado.
O ex-servidor e o ex-gerente suspeitos de participação no esquema recebiam comissões financeiras que variavam de 20% a 30%, a depender do valor do empréstimo ou financiamento. Um dos "laranjas", o vendedor de uma loja de celulares, confessou aos policiais que recebeu R$ 30 mil para emprestar contas bancárias e facilitar a liberação de um empréstimo de R$ 150 mil.
Conforme o coordenador do Deccor, o grupo criminoso atuava desde, pelo menos, 2021. O ex-gerente deveria, ao receber a documentação das empresas, seguir um protocolo que envolvia ir até os endereços delas para verificar se as sedes e os faturamentos eram legítimos.
No entanto, essas medidas ou não eram adotadas, ou só aconteciam depois que o dinheiro era creditado. Após os depósitos, os valores eram distribuídos em contas de "laranjas" para dificultar o rastreio.
"Nosso trabalho hoje foi sufocar o núcleo que estava dentro das agências facilitando esses empréstimos, para estancar logo. Agora a gente vai catalogar e se debruçar sobre essas empresas que tiveram benefícios concedidos", completou o delegado Ferdinando Martins.
Ao todo, a polícia fez buscas e apreensões em nove endereços em Teresina e Timon. Uma quantia de R$ 8,7 milhões em bens e contas bancárias dos envolvidos foi sequestrada após decisão da Justiça.
Os suspeitos podem responder pelos crimes de corrupção, fraude documental, associação criminosa e lavagem de dinheiro.