O ex-diretor da polícia federal americana (FBI) James Comey afirmou neste domingo (15) que o presidente norte-americano, Donald Trump, é “moralmente incapaz” de ocupar o cargo e que trata mulheres como “pedaços de carne”.
Comey, que também lança o livro "A Higher Loyalty", com acusações contra Trump, declarou ainda que o presidente mente constantemente e que praticou obstrução de Justiça na investigação sobre a interferência da Rússia na eleição de 2016.
As declarações foram dadas ao programa 20/20, da rede americana ABC, em sua primeira entrevista à TV desde que foi demitido por Trump, no ano passado.
"Eu não compro a ideia sobre ele ser mentalmente incompetente ou ter estágios iniciais de demência. Ele me parece uma pessoa de inteligência acima da média que acompanha as conversas e sabe o que está acontecendo. Eu não acho que ele seja clinicamente incapaz de ser presidente. Eu acho que ele é moralmente incapaz de ser presidente."
"Uma pessoa que trata as mulheres como se fossem pedaços de carne, que mente constantemente sobre assuntos grandes e pequenos e insiste que o povo americano acredita nisso. Essa pessoa não está apta para ser presidente dos Estados Unidos, por motivos morais."
Obstrução de Justiça
Ainda na entrevista à ABC, gravada durante 5 horas, Comey comentou o episódio que envolve a demissão do ex-assessor de Segurança Nacional Michael Flynn, que mentiu ao FBI sobre as conversas que manteve com o então embaixador da Rússia nos EUA, Sergey Kislyak.
Flynn deixou o governo em fevereiro de 2017 e indicou que Trump sabia da mentira quando pediu para que Comey suspendesse a investigação sobre a influência russa nas eleições presidenciais. Para o ex-diretor do FBI, o episódio é uma evidência que o presidente cometeu obstrução de Justiça.
"Certamente é alguma evidência de obstrução da Justiça. Dependeria e -- e eu sou apenas uma testemunha neste caso, não o investigador ou o promotor --, isso dependeria de outras coisas que refletissem sobre sua intenção."
Logo depois que a entrevista foi ao ar o partido Republicano, de Donald Trump, divulgou um comunicado dizendo que a entrevista de Comey foi um evento publicitário para promover seu livro e que o ex-diretor do FBI mostrou que "sua verdadeira lealdade é para si mesmo", fazendo referêncai ao título do livro.
"A única coisa pior do que a história de má conduta de Comey é sua disposição em dizer qualquer coisa para vender livros", diz a nota do partido.
Trump ainda não se pronunciou sobre a entrevista, mas atacou duramente Comey na semana passada, quando os primeiros trechos do livro foram divulgados pela imprensa.
'A Higher Loyalty', livro de James Comey com acusações contra o presidente dos EUA Donald Trump (Foto: AP Foto/Bebeto Matthews)
O livro de Comey
Em “A Higher Loyalty", Comey detalha conversas com o presidente e o compara a um chefe de máfia, além de descrever seu governo como um "incêndio florestal”.
Acusa Trump também de ser antiético e "desvinculado da verdade". O livro conta que o mandatário andou obcecado nos primeiros dias de sua administração em fazer o FBI desmentir rumores obscenos sua mulher Melania que ele afirmava serem falsos.
"James Comey é um vazador e mentiroso comprovado. Praticamente todos em Washington achavam que ele deveria ser demitido pelo terrível trabalho que fez - até que foi de fato demitido. Ele vazou informações confidenciais, pelo que deveria ser processado. Ele mentiu para Congresso sob juramento", tuitou Trump.
Donald Trump fala sobre política tributária, na Casa Branca, nesta quinta (12) (Foto: AP Photo/Manuel Balce Ceneta)
Ele é um asqueroso fraco e mentiroso que foi, como o tempo tem provado, um diretor do FBI terível. Seu tratamento do caso da desonesta Hillary Clinton, e os eventos que o cercam, vão sucumbir como um dos piores trabalhos da história. Foi uma grande honra demitir James Comey!"
A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, fez coro com Trump ao atacar o livro: "Uma das poucas áreas de verdadeiro consenso bipartidário em Washington é que Comey não tem credibilidade".
A conselheira da Casa Branca, Kellyanne Conway, por sua vez, disse que Comey "tem uma visão revisionista da história e parece um ex-empregado descontente".
Comey foi demitido em maio por Trump sob a alegação de que não teria tradado da forma devida a investigação sobre o uso de e-mail pessoal por Hillary Clinton para assuntos de governo quando esta era secretária de Estado na administração Obama.
Comey admitiu durante um audiência no Senado após ser demitido que vazou o conteúdo de algumas de suas conversas com Trump para um amigo, de modo que ele pudesse enviá-las para a imprensa e aumentar dessa forma a pressão sobre a Casa Branca para nomear um procurador independente para investigar a suposta interferência russa nas eleições de 2016, o que de fato ocorreu poucos dias depois.