Imagem: ReproduçãoOs Estados Unidos enviaram uma equipe de peritos, militares e civis, para ajudar as autoridades da Nigéria a localizar o paradeiro das mais de 200 jovens sequestradas em Abril pelo Boko Haram, grupo islamista que o Presidente norte-americano, Barack Obama, descreveu como “uma das piores organizações terroristas regionais”.
Segundo o porta-voz da Casa Branca, a equipe destacada por Washington inclui militares e investigadores especializados em recolha de informações e negociações em casos de sequestro, oficiais de ligação e peritos em apoio a vítimas. O objetivo do grupo, afirmou Obama em entrevistas a duas cadeias de televisão americanas, é “tentar identificar onde estão, de fato, as garotas raptadas”. De fora da equação está o envio de forças armadas para participar numa eventual ação contra o grupo islamista, assegura a Casa Branca. saiba mais Homens armados sequestram mais meninas na Nigéria Terroristas invadem escola e sequestram 100 meninas na Nigéria Economia da Nigéria agora é a maior da África Leia mais sobre Nigéria
O jornal Guardian adianta que também o Governo britânico se ofereceu para ajudar a Nigéria a localizar as jovens levadas a 15 de Abril de uma escola secundária em Chibok, zona remota no Nordeste da Nigéria. Do grupo de 300 que pernoitavam na escola, algumas dezenas conseguiram escapar, mas a grande maioria permanece desaparecida. Responsáveis governamentais britânicos revelaram que, além de peritos em sequestros, Londres está disponível para enviar para o terreno aviões de reconhecimento e soldados das forças especiais, mas uma decisão oficial só deverá ser tomada nesta quarta-feira.
O Presidente francês, François Hollande, assegurou nesta quarta-feira que também "fará tudo o que puder para ajudar a Nigéria" a "encontrar" as raparigas. Um seu porta-voz classificou o rapto de crianças e adolescentes como "um dos mais atrozes atos de terrorismo".
A polícia nigeriana, de acordo com a BBC, está oferecendo uma recompensa de 215 mil euros a quem der informações credíveis sobre o paradeiro das adolescentes.
O repúdio internacional pelo sequestro — o maior de muitos organizados nos últimos anos pelo Boko Haram — cresceu depois de, na segunda-feira, o líder do grupo, Abubakar Sheka, ter surgido num vídeo ameaçando vender as jovens para casamento. Um dia depois, surgiu a notícia de que o grupo sequestrara outras oito meninas durante um ataque, no domingo, a uma aldeia da mesma região, no qual várias pessoas terão sido mortas.
Obama, pai de duas raparigas, com 12 e 15 anos, disse esperar que este sequestro “revoltante” e “dramático” possa “ajudar a mobilizar toda a comunidade internacional para que finalmente se faça alguma coisa contra esta horrível organização”. O Presidente, a quem um grupo de senadoras norte-americanas pediu que convença as Nações Unidas a aprovar sanções contra o grupo islamista, disse que o mundo não pode ficar indiferente “ao problema que representam organizações como esta”.
O vídeo e a crescente mobilização internacional forçaram também o Presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, a quem as famílias das jovens acusam de pouco fazer para as localizar, a pedir ajuda externa. Num comunicado em que anuncia a partida imediata dos peritos para a Nigéria e a criação de uma “célula de coordenação” na embaixada dos EUA em Abuja, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, revela que Washington só não avançou mais cedo para o terreno porque o Presidente nigeriano “tinha definido as suas próprias estratégias” de atuação. Mas os novos desenvolvimentos “convenceram todos de que é preciso um esforço maior” para pôr fim ao sequestro.
“Todos nós somos pais e tremo só de pensar que a minha filha poderia ser uma delas”, reagiu também o Presidente do Gana, John Dramani Mahama, numa carta em que, em nome dos outros 14 países da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), oferece a ajuda da região à Nigéria.
O Boko Haram, que literalmente quer dizer “a educação ocidental é proibida”, luta desde 2002 pela instauração de um Estado islâmico, regido pela interpretação mais rígida da sharia, no Norte da Nigéria, onde a população muçulmana é maioritária. As igrejas e as escolas são um dos seus alvos preferenciais — além de sequestros, o grupo atacou e incendiou nos últimos meses vários estabelecimentos de ensino, provocando a morte a dezenas de alunos e professores. Só no Nordeste do país, a insurreição dos últimos cinco anos terá provocado mais de quatro mil mortos e forçou mais de meio milhão de pessoas a abandonar as suas casas, segundo uma estimativa do International Crisis Group.