O diplomata espanhol que confessou a morte da esposa prestou depoimento, nesta quinta-feira (14). Ele se apresentou à polícia, mas não ficará preso. Jésus Figon disse que amava a mulher, a capixaba Rosemary Lopes. “Ela morreu e eu morri também”, comentou.
Figon estava acompanhado de um advogado e, antes do depoimento, falou rapidamente com os jornalistas. "Amava, amo, amarei a minha esposa. Foi tudo em minha vida. E apenas, de fato, tive que defender minha vida. Não posso dizer nada. Foi a melhor e mais maravilhosa", disse.
Na madrugada de terça-feira (12), o diplomata matou a mulher com cinco facadas, no apartamento do casal. O governo espanhol suspendeu a imunidade diplomática de Jésus Figon e ele agora será julgado pelas leis brasileiras.
Investigação
O titular da Delegacia de Homicídio e Proteção à Mulher (DHPM) do Espírito Santo, Adroaldo Lopes disse que Figón vai ser investigado e processado no estado. A Polícia Civil pediu a cassação do passaporte e inclusão do nome de Figón em uma lista distribuída em aeroportos que impede a saída dele do Brasil.
O delegado disse que somente a Polícia Civil vai dar seguimento ao inquérito. “Surtiu efeito rapidamente o pedido que a gente fez ao consulado. Agora, a Polícia Federal não faz mais parte da investigação”, explicou.
De acordo com Adroaldo Lopes, a polícia sabe o paradeiro de Jesús Figón, mas não vai informar para não interferir nas investigações.
Segundo o delegado, o inquérito e o processo vão ocorrer normalmente, como se o diplomata espanhol fosse um cidadão comum. “Agora, ele é apenas um estrangeiro que matou uma brasileira no território brasileiro”, destacou. Um pedido de prisão preventiva foi feito, mas ainda não foi apreciado.
Imunidade diplomática
O governo espanhol aceitou o pedido de suspensão da imunidade do diplomata. Na tarde desta quarta-feira (13), o governo brasileiro fez a solicitação formal à Espanha.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, suspensa a imunidade, pela própria Convenção de Viena, o funcionário é passível a investigação policial. Portanto, Figón será investigado e caso a investigação comprove eventual autoria do crime pelo qual esta acusado, poderá ser processado penalmente no Brasil.
Sepultamento
O corpo da cabeleireira foi sepultado às 16h desta quarta, no Cemitério Jardim da Paz, em Rosa da Penha, Cariacica. Em silêncio, somente os familiares próximos e amigos de Rosemary acompanharam o enterro.
Segundo os parentes, a filha do casal, Maria do Carmo Lopes Figón, de 23 anos, e o filho do diplomata, Leonardo Figón, fretaram um avião na Espanha na tentativa de chegar ao Brasil, ontem, para o sepultamento, mas não conseguiram.
Casamento de espanhol, Jesús Figón, e capixaba era marcado por brigas, diz polícia (Foto: Arquivo Pessoal)
Traição
Uma traição teria motivado o assassinato da cabeleireira Rosemary Justino Lopes, segundo informou o irmão dela, Jorge Antônio Lopes. Ele acredita que Jesús Figón mentiu na versão que deu à Polícia Civil do Estado, e que matou porque havia sido traído por ela.
“Ele tomou chifre e fez isso com ela. Mas se o cara tomou chifre, era só separar, não precisava matar a mulher. Eu avisei a ele. Falei pra ele prestar atenção, mas ele disse que estava tudo bem”, contou Jorge, em entrevista à Rádio CBN.
Segundo o irmão, a cabeleireira teria mantido um relacionamento extraconjugal há dois anos. Desconfiado, Jesús teria começado a vigiá-la, e, há dois meses, teria flagrado a traição no apartamento em que morava com ela, em Jardim Camburi, de acordo com o irmão.
A polícia informou que Jesús matou a mulher Rosemary com cinco facadas e horas depois, na companhia de um amigo, um delegado aposentado, e de um advogado, se apresentou ao delegado Adroaldo Lopes, da DHPM, que acompanhou o caso. Na ocasião, Jesús alegou que matou Rosemary em legítima defesa.
Adroaldo afirmou que não vê indícios na denúncia feita pelo irmão de Rosemary. O delegado ressaltou ainda que, ao conversar com a polícia, na sede da DHPM, no dia do crime, o espanhol Jesús Figón chorou muito e falou dos momentos em família.