Publicada em 12 de Dezembro de 2015 �s 07h45
Um estudo realizado por membros do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Saúde da Mulher (NUPESM) vinculado ao Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) revelou que entre os anos de 2008 e 2012, os cinco principais grupos de causas de morte de mulheres em idade fértil no estado foram: as neoplasias, as doenças cardiovasculares, as causas externas, as doenças infecciosas e as causas maternas, respectivamente. Juntos, esses grupos totalizaram cerca de 70% dos óbitos femininos ocorridos nos cinco anos analisados.
Os resultados são da pesquisa “Panorama da mortalidade de mulheres no estado do Piauí: magnitude, tendência e análise espacial dos óbitos maternos e em idade fértil entre 2008 e 2012” que foi coordenada pelo professor Alberto Pereira Madeiro e vice-coordenada pela professora Andréa Cronemberger Rufino. O objetivo principal do trabalho foi analisar a mortalidade feminina em idade fértil (de 10 aos 49 anos), com ênfase nos óbitos maternos. De acordo com os pesquisadores, estudar a mortalidade de mulheres em idade fértil é uma das estratégias ou metodologias utilizadas para tentar identificar casos de óbitos maternos que não foram declarados. “A avaliação dos casos de morte materna é difícil, principalmente pela subinformação (pelo preenchimento inadequado das declarações de óbito, omitindo a causa de óbito relacionado à gestação ou parto) e subregistro dos óbitos (pela omissão do registro do óbito no cartório)”, explica Alberto Madeiro, coordenador da pesquisa. Causas de mortalidade Os pesquisadores classificaram em grupos as principais causas de mortalidade de mulheres em idade fértil residentes no Piauí. Cinco grupos foram apontados como os que mais provocam óbitos femininos no estado e dentro de cada um, as doenças com maiores percentuais de prevalência. O câncer de mama e o câncer de colo do útero foram os mais frequentes e juntos responderam a 40% dos óbitos dentro do grupo das neoplasias, que reúne os vários tipos de câncer e que ficou em primeiro lugar no ranking da pesquisa. Em seguida aparece o grupo das doenças cardiovasculares, sendo que o acidente vascular cerebral (AVC) e o infarto agudo do miocárdio foram as duas causas que mais mataram. No total, elas foram responsáveis por 55% das mortes desse grupo. O levantamento feito pelo estudo mostrou que as neoplasias e as doenças cardiovasculares foram as causas de morte que prevaleceram entre as mulheres a partir dos 35 anos. Já entre mulheres mais jovens, até os 30 anos, os principais motivos de óbitos foram as causas externas como homicídios, suicídios, agressões físicas e acidentes de trânsito. Somente os homicídios foram responsáveis por 30% das mortes desse grupo (causas externas), que ficou em terceiro lugar no ranking da mortalidade feminina no estado do Piauí. O grupo das doenças infecciosas ficou na quarta colocação. Apesar dos avanços referentes ao tratamento de pessoas com a HIV, como o desenvolvimento de remédios que prolongam a vida dos portadores do vírus, a aids ao lado da tuberculose foi a principal responsável por mortes desse grupo. Quinto grupo: causas maternas O estudo apontou que as doenças hipertensivas, as hemorragias e os abortos foram as três principais causas da mortalidade materna no estado do Piauí, entre os anos de 2008 e 2012. Segundo os pesquisadores Alberto Madeiro e Andréa Rufino, a mortalidade de mulheres no ciclo gravídico-puerperal,período que compreende a gestação e o pós-parto, é considerado um evento grave, uma vez que a gravidez não é classificada como uma doença. “Em cerca de 90% dos casos, as mortes maternas são evitáveis se for ofertada uma boa assistência no pré-natal, no parto ou no puerpério. Por esse motivo, existe o consenso de que a mortalidade materna é um marcador sensível para a avaliação de saúde de uma população em geral”, ressalta Andréa Rufino, vice-coordenadora da pesquisa. Dois dados chamaram a atenção dos pesquisadores: o grande número de óbitos maternos sem causa esclarecida, e a maior parte das mulheres que morre por causa materna é oriunda do interior do estado. “A 5ª meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio destacou a importância da necessidade de melhoria da saúde materna em todo o mundo,incluindo o Brasil, mas o avanço tem sido desigual e, em alguns locais, bastante lento. Apesar da redução significativa, o Brasil não cumpriu os 75% de redução da mortalidade materna (a 5ª meta)”, lembra Alberto Madeiro. Metodologia A pesquisa analisou 4.970 declarações de óbitos de mulheres em idade fértil, em todos os 11 territórios de desenvolvimento do Piauí (que constituem as unidades de planejamento da ação governamental), englobando os 224 municípios do estado. Os dados utilizados foram secundários, oriundos do Serviço de Vigilância do Óbito Materno e Infantil da Fundação Municipal de Saúde de Teresina e do Comitê de Prevenção da Mortalidade do Estado do Piauí da Secretaria de Saúde do Piauí (Sesapi). “O estudo calculou o coeficiente de mortalidade de mulheres em idade fértil (número de óbitos/ população de mulheres 10-49 anos x 100.000) e a razão de mortalidade materna (óbitos maternos/ nascidos vivos x 100.000). Os dois coeficientes foram calculados para o estado do Piauí como um todo e também para cada território de desenvolvimento. Além disso, foi empregado um teste estatístico para avaliar se entre 2008 e 2012 (05 anos) houve tendência de aumento, diminuição ou estabilidade desses coeficientes”, explica Andréa Rufino. O resultado do levantamento realizado pelo estudo mostra que os territórios de desenvolvimento (TD) com os mais elevados coeficientes de mortalidade de mulheres em idade fértil foram os Tabuleiros do Alto Parnaíba (TD 10); Carnaubais (TD 3) e Vale do Sambito (TD 5), nessa ordem. Para a razão de mortalidade materna, o território de desenvolvimento Tabuleiros do Alto Parnaíba também apresentou os maiores índices, seguido pelo Vale do Canidé (TD 7) e o Vale do Sambito, respectivamente. “Tanto no cálculo do coeficiente da mortalidade de mulheres em idade fértil como na razão de mortalidade materna foi o território 10 aquele com os maiores indicies. Esse dado demonstra a necessidade da gestão local no planejamento, organização e execução de ações de saúde para reduzir a mortalidade, principalmente a mortalidade materna”, ressalta Andréa Rufino. De acordo com o “Mapa dos Territórios” disponível no site da Secretaria do Planejamento do Estado do Piauí (Seplan), o Território de Desenvolvimento Tabuleiro do Alto Parnaíba (TD 10) localizado na macrorregião Cerrados é composto por 12 municípios: Antônio Almeida, Baixada Grande do Ribeiro, Bertolínia, Canavieira, Guadalupe, Jerumenha, Landri Sales, Marcos Parente, Porto Alegre do Piauí, Ribeiro Gonçalves, Sebastião Leal e Uruçuí. Segundo os pesquisadores Alberto Madeiro e Andréa Rufino, quando avaliaram a tendência de evolução dos dois coeficientes calculados no estudo para todo o estado do Piauí, foi observado que houve tendência de diminuição do coeficiente de mortalidade de mulheres em idade fértil, no período analisado. Já a razão de mortalidade materna permaneceu estável, ou seja, não houve aumento e tampouco queda. Contribuições para o SUS O estudo “Panorama da mortalidade de mulheres no estado do Piauí: magnitude, tendência e análise espacial dos óbitos maternos e em idade fértil entre 2008 e 2012” foi financiado pelo Programa Pesquisa para o Sistema Único de Saúde: gestão compartilhada (PPSUS), no âmbito do edital 003/2013, fruto de uma parceria entre o Ministério da Saúde (MS), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Sesapi e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi). O PPSUS visa atender as peculiaridades e especificidades de cada unidade federativa brasileira e contribuir para a redução das desigualdades regionais na ciência, tecnologia e inovação em saúde. “O Programa tem importante papel para fomentar pesquisas que atendam às políticas públicas e, dessa forma, acarreta melhorias na assistência à saúde. Além disso, o PPSUS também estimula o desenvolvimento de núcleos de pesquisa emergentes, promovendo o desenvolvimento científico e tecnológico”, comenta Alberto Madeiro. Segundo Alberto Madeiro e Andréa Rufino, o desenho das políticas e programas de saúde é mais fortalecido quando a tomada de decisão é baseada em argumentos ou resultados baseados em evidência científica. Para os coordenadores, com a pesquisa sobre mortalidade de mulheres em idade fértil no Piauí, a redução da magnitude das mortes passa por implementação de diagnóstico precoce do câncer de mama, principalmente o acesso à mamografia a partir dos 40 anos de idade; ações para prevenir as mortes por acidentes de trânsito, com estratégias para melhorar a educação, gestão e assistências às vítimas; programas e ações para promoção da saúde, objetivando maior combate aos fatores de risco das doenças cardiovasculares e o fortalecimento da cobertura e da qualidade do pré-natal, além da melhoria da assistência ao parto, principalmente no interior do estado. O empenho de profissionais para a diminuição das subnotificações e de ações voltadas para o registro adequado das causas de morte nas declarações de óbitos mostram-se também fundamentais para a estruturação e o estabelecimento de políticas de saúde da mulher. “O monitoramento continuado das mortes, com o intuito de estabelecer um perfil mais fidedigno da realidade de cada localidade, também é uma estratégia que pesquisadores e agentes governamentais devem utilizar para a redução continuada dos óbitos maternos”, conclui Alberto Madeiro.