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Estudantes brasileiros premiados em feira mundial de ciência

Publicada em 19 de Maio de 2014 �s 10h45


Estudantes premiados no Intel: Barbara, Gabriel, Raíssa e Salvador, da esquerda para a direita   Estudantes premiados no Intel: Barbara, Gabriel, Raíssa e Salvador, da esquerda para a direita   Imagem: DivulgaçãoClique para ampliarEstudantes premiados no Intel: Barbara, Gabriel, Raíssa e Salvador, da esquerda para a direita   A nova geração da ciência brasileira está preocupada com questões urgentes para nossa sociedade, como meio ambiente e saúde. Da localização das estrelas no céu a um inseticida contra a dengue, passando por soluções para transplantados e contenção de derramamento de óleo, os brasileiros marcaram presença na Intel ISEF 2014, a megafeira de ciências promovida pela empresa e que foi realizada semana passada. Entre 1.783 estudantes de 70 países, o Brasil compareceu com 34 alunos de oito estados, 18 projetos finalistas e, desses, três foram premiados. O projeto “MASE – Membrana de Absorção Seletiva”, de Gabriel Chiomento da Motta e Raíssa Müller, ambos com 18 anos e estudantes da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo (RS), foi um dos ganhadores do 2º lugar na categoria “Engenharia: Materiais e Bioengenharia”, com prêmio em dinheiro de US$ 1.500. Além disso, Gabriel e Raíssa darão seu nome dois asteroides recentemente descobertos. Ambos concluíram em 2013 o ensino médio integrado ao ensino técnico. Gabriel pretende cursar biotecnologia e, Raíssa, psicologia. — Nosso projeto foi motivado pela escola, que buscava uma pesquisa com foco nos derramamentos de petróleo — explica Gabriel. — Esses derramamentos representam um problema ambiental de grande impacto e as técnicas atualmente aplicadas para resolvê-lo ainda são bastante limitadas. A partir dessa problemática, os jovens pesquisadores foram aos livros ver o que já existia sobre o assunto e elaboraram um método alternativo de contenção para derramamentos de óleo. — Nossa motivação foi trabalhar com um material inovador, que ao mesmo tempo diminuísse os impactos ambientais, mas que gerasse benefícios sociais e econômicos — conta Raíssa. Ela explica que, segundo dados da ITOPF (International Tanker Owners Pollution Federation), um total de 6,75 bilhões de litros de petróleo derramados nos oceanos desde a década de 1970. E, como o petróleo afeta desde a base do ecossistema aquático, ele pode causar a morte generalizada da vida marinha. As atuais formas de contenção dos derramamentos têm ação limitada, e o desenvolvimento de uma membrana porosa e com polaridade voltada para líquidos apolares é uma alternativa sustentável e economicamente viável. — Desenvolvemos essa membrana com um material poroso, o criptomelano, e ela pode atuar em derramamentos de óleos em geral, evitando a contaminação de solos — conta Gabriel. — Depois revestimos a membrana com vapores de silicone, tornando-a hidrofóbica. Com isso, a membrana desenvolvida pelos dois apresentou uma capacidade de absorção de 8 a 15 vezes seu próprio volume, ainda podendo ser utilizada com recobrimento de TNT (tecido não tecido) para facilitar a utilização. Através da análise de difração de raio-X, foi possível obter os parâmetros de rede do sólido obtido e comparar com os dados da literatura para o criptomelano, enquanto que na análise de MEV foi verificada a estrutura filamentosa do material. — A membrana que criamos não só representa um método de retirada e reutilização dos óleos em derramamentos, mas também uma resposta mais eficiente à proteção do bioma marinho e terrestre, sendo uma alternativa para substituição dos métodos que atualmente são aplicados. Enzima criada a partir do grão do Kefir O projeto “Produção da L-Asparaginase a Partir do Grão de Kefir”, de Bárbara Carolina Federhen, também da Fundação Liberato, foi um dos premiados com 3º lugar na categoria “Bioquímica”, recebendo um prêmio de US$ 1.000. — A enzima L-Asparaginase é amplamente utilizada no tratamento de pessoas que possuem a leucemia linfoide aguda (LLA). Ela atua convertendo a fonte de energia das células cancerígenas, o aminoácido L-Asparagina, em ácido aspártico e amônia, incapazes de ser digeridos por essas células doentes — explica Bárbara, de 19 anos. — Ocorre que, gradativamente, as células anormais vão morrendo. Por sua vez, o Kefir trata-se de uma colônia de micro-organismos benéficos à saúde humana pelo qual se obtém uma bebida fermentada bastante consumida, sendo esse grão constituído principalmente por fungos e bactérias. Levando em conta que a produção da enzima se dá através de processos biotecnológicos, Bárbara estudou a produção da mesma através do grão de Kefir. Para testar a produção da enzima pelo grão e pelo produto de fermentação, ela preparou meios de cultivo para a triagem de fungos e para a triagem de bactérias, compostos pelo aminoácido e pelo indicador vermelho de fenol. Os resultados positivos para a produção da enzima são evidenciados pela mudança de coloração do meio, que adquire tonalidade rosa devido à liberação da amônia que, em presença do indicador, confere ao meio essa coloração — complementa. A jovem cientistas testou os grãos de Kefir de água e de leite, sendo o resultado de ambos positivos para a produção da enzima. O produto de fermentação do Kefir de água também conferiu ao meio uma tonalidade rosa, evidenciando a produção da enzima responsável pela catálise da hidrólise do aminoácido. Os filtrados dos produtos de fermentação do Kefir de água e de leite também conferiram a mudança de coloração dos meios. — Esse é um teste que indica o potencial da enzima ser excretada para o meio extracelular — esclarece Bárbara. Reciclando fraldas descartáveis com responsabilidade E o projeto “Responsabilidade (em casa) para reciclar fraldas descartáveis”, de Salvador Alvarado, da Escola Americana de Campinas (SP), foi um dos premiados com o 3º lugar na categoria “Gestão Ambiental”, também ganhando um prêmio de US$ 1.000. — Meu projeto tem como objetivo reduzir a quantidade de fraldas que vão para aterros sanitários, separando de forma eficaz os polímeros (presentes no interior das fraldas) do plástico (que rodeia os polímeros) — conta o jovem cientista. — Ao fazê-lo, os polímeros de dentro das fraldas poderiam ser reutilizados, ou mesmo vendidos como adubo. Já o restante do plástico pode ser reciclado tradicionalmente. Com isso, haveria menos poluentes e resíduos no interior dos aterros, e estaria sendo criado um produto comercializável, ou seja, os polímeros. Fraldas descartáveis são um dos maiores contribuintes para o lixo em aterros sanitários. Somente nos EUA, cerca de 25 bilhões de fraldas são depositadas em aterros sanitários a cada ano. método criado por Salvador usa as máquinas de lavar roupa existentes nas residências para permitir a separação e reciclagem dos principais componentes das fraldas. — Uma fralda é majoritariamente composta por filmes plásticos, fibras, celulose fluff e SAP (polímero super-absorvente), que é responsável pelas altas taxas de absorção. O núcleo da ideia é criar um dispositivo para ser colocado dentro do reservatório de uma máquina de lavar. Assim, atuando junto com o motor, ele vai cortar e separar os componentes principais da fralda usando um sistema de dupla filtração — revela Salvador. O pesquisador desenvolveu um modelo 3D do implemento, usando um software de CAD (projeto apoiado por computador, na sigla em inglês) e tendo em conta as dimensões de uma máquina de lavar comercial. Em seguida, levou o modelo para uma oficina de máquinas de construção. — Usei uma furadeira de velocidade variável e um recipiente de plástico para simular o reservatório e o motor de uma máquina de lavar. E fiz uma série de experiências para determinar o ciclo mais eficiente, em termos de tempo e velocidade, para obter a máxima recuperação de SAP e os outros materiais — explica. — Coloquei diferentes quantidades de tecidos dentro do dispositivo, usando várias velocidades e intervalos de tempo. Com isso, Salvador concluiu que colocando quatro fraldas dentro do aparato durante 2 minutos, a uma velocidade de entre 350rpm e 1.400rpm (rotações por minuto), chegava-se ao ciclo mais eficiente, permitindo recuperar até 99% do SAP, e com um consumo relativamente baixo de energia. Três bons projetos, mas não premiados Dentre os projetos brasileiros, três deles se destacaram, muito embora não tenham sido premiados. Seus criadores os explicam resumidamente nos três vídeos abaixo: Estudante recebeu visita do Nobel de Física Um dos que chamaram a atenção na feira foi o “Star Tracker", de Leonardo Vasconcelos Lopes, do Instituto Federal do Mato Grosso do Sul: um dispositivo desenvolvido para localizar corpos celestes através de um aplicativo para plataforma Android. Com o céu modelado em interface gráfica 3D feito em Java e usando OpenGL, o usuário seleciona uma estrela e, com as coordenadas do corpo celeste e cálculos de tempo sideral, é possível conhecer sua direção em relação à posição do observador. O estande deste projeto recebeu a visita de John C. Mather, laureado com o Prêmio Nobel de Física em 2006. Em outro projeto, criado por Leonardo Gabriel da Paz e Lucas Manique Leal, da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha (RS), um app Android analisa as aberturas da casa, os equipamentos eletroeletrônicos e a iluminação para avisar a pessoas com deficiência visual se algo está aberto/ligado ou fechado/desligado. E você sabia que a castanha de caju pode ajudar a combater a dengue? Gabriel Tiago Galdino, do Colégio Nova Escola (MS), aproveitou o líquido da castanha de caju, descartado pela indústria, para desenvolver uma solução inseticida adesiva, para controlar as larvas do vetor da dengue, o mosquito Aedes aegypti. Os testes mostraram redução de 97% das larvas em 24 horas, segundo Gabriel. Já a aposta da estudante Ângela Ferreira de Oliveira, da Escola Técnica Professor Carmelino Correa Júnior (SP), foi uma alternativa para o tratamento de pele de queimados e outras doenças de difícil cicatrização. Ela desenvolveu um tecido que mimetiza a pele humana, com toda a sua estrutura de epiderme e de derme, obtido por meio de uma técnica de purificação da pele suína. Uma vez transplantada, a pele sintética elimina os problemas de rejeição sem colocar em risco o sistema imunológico do paciente transplantado. O CORPOS (Corretor Ortopédico de Postura) é um sistema de monitoramento de postura que busca corrigir e prevenir lesões à coluna vertebral, acompanhando a evolução do usuário ao longo do tempo. O projeto é de Lucas Henz Garcia, Lucas Raupp Hans e Murilo Machado Pinto, da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha (RS). Do Estado do Rio, uma pesquisa envolvendo células-tronco provenientes do leite materno procura estabelecer uma metodologia para manutenção “in vitro” destas células. No futuro, esta pode ser uma alternativa de tratamento para pacientes que sofreram lesões cardíacas, causadas, por exemplo, por um infarto do miocárdio. As estudantes responsáveis pelo projeto são Maira Ferreira Lopes, Luiza Maíra Ribeiro da Silva e Maitê Campos Corrêa Mascarenhas, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ). Uma solução complexa usa a genética para combater o câncer. É o projeto de Eduardo Padilha Antonio, do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), que insere genes do vírus HPV em células afetadas por XP (doença rara que dá hipersensibilidade à luz solar e envelhecimento precoce). A alteração genética pode levar à maior eficácia no tratamento de câncer de colo de útero, segundo a pesquisa. As soluções de saúde do futuro parecem apontar para uma “medicina customizada", mas o Nobel de Medicina de 2002, H. Robert Horvitz alertou em conferência no evento que este ainda é um grande desafio. — Para alcançá-lo, precisaremos armazenar e tratar uma quantidade fenomenal de dados, mas antes disso precisamos baixar o custo do acesso à saúde — ponderou.

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Fonte: Vooz �|� Publicado por:
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