Duas mulheres negras, mãe e filha, afirmam terem sido vítimas de injúria racial em um shopping de Teresina. Abordadas pelos seguranças do local, elas dizem que foram obrigadas a mostrar a identidade e depois informadas que não era permitida a entrada de adolescentes desacompanhados. "Fomos barradas porque somos negras e usamos cabelo black power", disse a estudante universitária Ruana Cayre, que tem 19 anos.
A estudante registrou a ocorrência na Delegacia de Repressão às Condutas Discriminatórias e proteção dos Direitos Humanos nessa segunda-feira (26) e mostrou um vídeo (assista ao vídeo acima) como prova do ocorrido.
O fato se deu na entrada do Teresina Shopping, na Zona Leste da capital. Por meio de nota enviada ao G1, a empresa afirmou que não compactua com qualquer tipo de preconceito e busca sempre promover ações e campanhas voltadas para a igualdade e o respeito, como a campanha "Vista-se de coragem", lançada recentemente. O shopping ressaltou que a iniciativa busca incentivar denúncias e conscientizar as pessoas sobre os variados tipos de violência contra as mulheres.
No vídeo, Ruanna argumenta que outras pessoas entraram no mesmo momento no shopping e não foram interpeladas. "Passou um monte de gente e você não pediu, pediu a minha identidade só porque sou preta . É isso? Vou chamar a polícia", disse durante em um trecho do vídeo.
O caso ocorreu no dia 17 de setembro, quando ela, a mãe dela e mais dois amigos tentaram entrar no shopping, ainda na área do estacionamento. Conforme Ruana Cayre, os dois amigos, de pele branca, que a acompanhavam não foram barrados. A estudante disse ainda que notou o fato dos seguranças não pedirem o documento das demais pessoas que entravam normalmente no shopping.
"Ele pediu meus documentos e eu disse que era maior de idade. Minha mãe veio logo atrás e ele também pediu os documentos dela. Até aí tudo bem, mas comecei notar que muitas pessoas passavam e ele não pedia documento de ninguém. Eu estava sem a identidade e a gente poderia simplesmente entrar por outra entrada. Juliana, minha amiga, que é branca, não foi barrada. Meu amigo também não. Eles passaram e nós não", relatou.
A estudante, que nasceu em São Luis e mora em Teresina há cinco meses, disse que questionou o segurança sobre o porquê de não poderem entrar enquanto várias pessoas adentravam ao shopping sem nenhum impedimento. Segundo ela, o homem justificou dizendo que aquele era um procedimento normal do estabelecimento. O amigo da estudante, que não foi barrado, filmou um recho da confusão.
"Meu amigo, que já tinha entrado, voltou e começou filmar. Mas chegou outro funcionário. Ele disse que fomos barradas porque éramos menores de idade, mas minha mãe já tinha mostrado o documento dela. Eu disse que iria chamar a polícia. Eu estava nervosa e muito constrangida. Por coincidência, todos que entravam eram brancos. Se passaram uns 10 minutos e eu questionando tudo aquilo", lembrou.
A estudante relata que um terceiro funcionário entrou na história, chamou os dois que já estavam envolvidos e falou para que eles parassem de bater boca "porque elas nem advogado tinham mesmo". Ruana diz que chorou bastante com a situação e conta que mesmo já tendo sofrido atos de discriminação, considera aquele como o pior de todos, pois foi um constrangimento público.
"As pessoas passavam, me diziam para eu não bater boca, que eu deveria deixar aquilo de lado. Existe uma naturalização desse tipo de comportamento (de injúria racial). Depois disso, soube de outras meninas que usam cabelo black power que passaram pela mesma coisa. Ou seja, as pessoas estão passando por isso, existe um procedimento para barrar negros", denunciou.
Ação na Justiça
A estudante disse que irá acionar a Justiça e que não vai se calar diante do ocorrido. Ela relata que sua mãe já passou por algo parecido há 23 anos e que agora está revivendo o passado, mais um fato que a motiva a levar o caso para a via judicial.
"Estou decidida com relação a isso, porque quanto mais naturalizamos situações assim, pior fica. Vão dizer que é vitimismo. As pessoas têm que saber que é crime. Eu luto porque não quero mais passar por isso. Me dizem para deixar para lá, mas sou eu que vou dormir com meu constrangimento, com minha revolta”, finalizou.