O primeiro capítulo de “Amor à Vida” – a novela de Walcyr Carrasco que estreou nesta segunda-feira, 20/05 – já contou com uma vantagem em relação à sua antecessora, “Salve Jorge”: uma direção (geral de Mauro Mendonça Filho em núcleo de Wolf Maya) competente e caprichada em um capítulo ágil, pra lá de tenso e repleto de ação. A princípio, pareceu atropelamento de acontecimentos – Manoel Carlos escreveria em sete meses uma novela inteira só com a primeira meia-hora de “Amor à Vida”! Mas à medida que o capítulo foi passando, essa impressão foi se dissipando diante de tantas sequências de tirar o fôlego.
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Lembrou “Avenida Brasil”, o que é um bom parâmetro. A novela de João Emanoel Carneiro – parece – serviu de referência, tanto para Carrasco quanto para Maurinho, o diretor: a fotografia, a direção de atores, a câmera nervosa, a agilidade do roteiro, o vilão (Félix/Mateus Solano parece uma “Carminha reloaded”, inclusive desprezando o filho, como Carminha fazia com Ágata). E ainda teve criança abandonada no lixo. Será que as referências vão parar aí?
E em nada lembrou “Salve Jorge”, outro bom parâmetro. Mas também dá para afirmar que o problema de “Salve Jorge” foi ter substituído “Avenida Brasil”, enquanto que a vantagem de “Amor à Vida” é substituir “Salve Jorge”. Mas vamos deixar a novela de Glória Perez no limbo.
Nada foi sutil nesta estreia de “Amor à Vida”. Já teve esculachos de família logo nas primeiras cenas, deixando claro para o telespectador que o patriarca César Khoury (Antônio Fagundes) tem uma queda pela filha Paloma (Paola Oliveira), enquanto sua mulher Pilar (Susana Vieira, sempre ótima vivendo mulheres arrogantes) prefere o filho, Félix (Mateus Solano). Solano engoliu o capítulo, na pele do vilão – que a esta altura o público já sabe tratar-se de um gay enrustido, casado e com filho. Não para menos, lhe cai super bem o apelido “bicha má”, que o personagem já ganhou no Twitter.
A bela fotografia valorizou as paisagens de Macchu Picchu e do centro de São Paulo, muito bem representado na novela. Esta primeira fase se passa em 2001, e houve a preocupação em mostrar que um personagem usava um aparelho de celular num modelo da época. Mas falhou ao exibir a Ponte Estaiada, que seria inaugurada apenas em 2008. A trilha incidental pontuou muito bem as cenas de tensão – outro grande ponto para a novela. A trilha sonora é boa, mas precisava mesmo Daniel se esgoelando na abertura (a bela “Maravida”, de Gonzaguinha)?
Foi apenas o primeiro capítulo. O ibope em São Paulo registrou uma média (prévia) de 35 pontos, a mesma do capítulo de estreia de “Salve Jorge”. Por enquanto, “Amor à Vida” merece elogios pela direção e performance de alguns atores. É a prova de que uma boa direção pode salvar um texto. A história ainda está se formando. Walcyr Carrasco só podia ter nos poupado da pieguice da última fala, de Malvino Salvador, quando descobre o bebê no lixo: “Deus me deu uma nova chance!”. Tomara que seja uma nova chance para o público.