Veruska Boechat está retomando aos poucos sua vida após a trágica morte de seu marido, Ricardo Boechat, em um acidente aéreo em fevereiro deste ano. Em entrevista a QUEM, a jornalista contou que as filhas Valentina e Catarina, do casamento com o âncora, a ajudaram a não desistir de viver.
LEIA MAIS: Mulher de Boechat usa aliança do marido, morto em acidente aéreo: "No meio de tanta dor, recebi o melhor presente"
"Há três meses estou reaprendendo a viver emocionalmente e profissionalmente. Sempre disseram que eu era forte e aceitei com alegria, mas nos primeiros dias que perdi o meu marido, tinha raiva de quem me falava isso. Eu pensava: 'Que força? Eu quero deitar, chorar e não quero levantar'. Mas com o passar do tempo, vi que não tinha opção", contou Veruska.
"Tinha duas filhas para criar. A minha dor é horrível, mas a minha dor, vendo a dor delas, é pior. Se eu desabar também o que vai sobrar para elas? Elas perderam um pai com 10 e 12 anos de idade. É uma coisa horrorosa, mas elas têm a mãe que sobrou. Então, tenho que me manter de pé para apoiá-las e dar força para elas."
Além das filhas, Veruska tem encontrado no retorno ao trabalho uma nova motivação. Ela terá uma coluna semanal com entrevistas que mostram histórias de superação no programa Aqui na Band. Formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, ela estava distante da profissão há 13 anos.
"Eu fui atropelada pela vida e deu tudo muito errado, mas outras coisas estão dando muito certo. Passado esse furacão e tendo que me levantar, penso: 'puxa vida, que bom que o programa é de manhã'. Eu pego as minhas filhas e levo na escola e venho para a emissora. Esse horário está dando certo para mim porque as minhas filhas estudam semi-integral. Elas jogam, tocam e se divertem. Isso tem ajudado muito no nosso luto, elas terem e manterem a rotina escolar e com os amigos. Depois da morte, além da tristeza a gente pensa: ‘O que eu falo agora? Para onde eu vou?’. A gente fica muito perdida. Quando se tem uma rotina, a gente se joga nela", explica.
Com a sua experiência de vida, Veruska pretende ajudar outras pessoas a superarem a dor da perda. Ela também usa seu Instagram, com mais de 300 mil seguidores, para trocar experiências.
"Tenho recebido muito relatos de perdas. O que eu percebi é que a gente tem que viver a vida sem dar importância para as bobagens e se despedir das pessoas como se fosse a última vez porque a gente nunca sabe quando será. Recebo muitos relatos de pessoas que não conseguem se levantar da cama e que ficam felizes quando divido as minhas dificuldades também. Nos primeiros dias eu ficava muito perdida e, além do luto, ficava triste porque não conseguia fazer nada do que eu tinha para fazer. Era obrigada a ir no banco, cartório", relembra.
Veruska arrumou um meio de se organizar e passou as dicas para outras pessoas. "Quando percebi que se eu anotasse essas coisas no caderninho e quando acordava de manhã conseguia fazer pelo menos uma daquelas coisas chatas, aquilo me dava alívio tão grande que me ajudava a fazer a segunda tarefa. Essa coisa prática que parece bobagem me ajudou demais e quis compartilhar isso. Fiquei impressionada como as pessoas gostaram disso. As pessoas precisam de dicas porque não se fala sobre luto, muitos não sabem lidar com isso. Elas querem falar coisas bonitas para você e dar o carinho. Não precisa falar nada. Só de estar ali já ajuda. Quanto menos falar, melhor. Porque se você não passou pelo luto, não sabe como é a minha dor. Essas dicas podem fazer com que a gente aprenda mais a ajudar o outro que está sofrendo."
PRIMEIRO ENCONTRO COM BOECHAT
"Sou capixaba e fiz Jornalismo na Puc do Rio. Voltei para Vitória (Espírito Santo) e assinei coluna diária na Tribuna e depois na Gazeta. Foram oito anos trabalhando em Carnaval, ano-novo e feriados. Em 2003 fui o Encontro Internacional do Vinho do Espírito Santo. Foi em Pedra Azul e o Boechat estava lá. A gente começou a conversar e ele disse que queria muito ver a minha coluna no jornal. Eu morrendo de vergonha. Achei ele muito gentil, mas ficou nessa. Um mês depois, fui cobrir a posse da Ana Maria Machado na Academia Brasileira de Letras e ele tinha me pedido para avisar quando eu fosse ao Rio. Fiz isso e ele me chamou para jantar. A gente começou a namorar. Namorei um ano e meio na ponte aérea em 2005. Daí fiquei grávida com um mês de casada e não voltei a trabalhar mais. Deixei a minha profissão. Quando estava grávida de oito meses, ele foi transferido para São Paulo, para apresentar o Jornal da Band. E aqui estou há 13 anos com duas filhas paulistanas."
ABRIR MÃO DO TRABALHO
"Ele nunca me atrapalhou em voltar à trabalhar. Mas a rotina dele era muito puxada e eu percebia que se eu tivesse um emprego normal, não ia conseguir conciliar o meu tempo livre com o dele. Eu queria curtir as férias com ele e as meninas, então passei por uma coisa que muitas mulheres passam, tive que abrir mão da minha carreira. A vida é assim. Você abre mão do seu marido, de ver seus filhos, ou da profissão. Mesmo que não abra a mão integralmente, a gente não vai conseguir fazer as coisas da forma que gostaríamos de fazer. Eu preferi abrir mão da minha profissão porque ele reconhecia meu trabalho dentro de casa e porque o que ele ganhava dava para todo mundo. Acho que me dedicando à família, ajudava ele a crescer. Ele concordava com isso. Ele valorizava o que eu fazia. Todos os maridos deveriam fazer isso. As mulheres têm que se valorizar para serem valorizadas. Eu sempre lembrava o Boechat do meu trabalho em casa com as meninas. Tem que falar todo dia. Eu falava: 'Como assim só você trabalha? Eu cuido das meninas e tenho que estar pronta para quando você tem evento'."
FALTA DO TRABALHO
"Sentia muita falta do trabalho. Quando ele chegava em casa do jornal eu falava: ‘Me conta o que aconteceu. Quem entrou, quem saiu’. Homem não conta fofoca. Tentava me alimentar um pouco disso, mas agora que a estou vindo aqui gravar meu quadro vejo o quanto adoro isso. Meus Deus! Eu sei fazer isso e gosto disso. Percebo que abri mão de um pedaço de mim, mas está tudo bem."
LUTO
"Eu estou vivendo o meu luto. Choro todos os dias e muito. Eu deixava elas na escola e voltava soluçando e me descabelando. As pessoas passavam do lado e pensavam: ‘quem é essa pessoa louca chorando’. Se você não vive o luto, a conta uma hora chega. Agora o que eu tenho percebido é que a gente fala dele com alegria e lembra das coisas boas. A dor está ali. Se você consegue conviver com essa dor, falar da pessoa de uma forma que seja boa, isso vai salvando a gente aos pouquinhos. Eu falo para minhas filhas: 'vai ter gente que vai falar na escola que vocês não têm pai, mas vocês sabem que enquanto ele esteve vivo, ele esteve com vocês e amou vocês demais'. Está cheio de gente com pai vivo que não tem atenção. Temos que valorizar esse tempo com o pai para a dor que é ruim não se transformar em uma doença."
SAUDADES
"Sinto muita falta dele na hora do almoço. Ele almoçava comigo. Éramos eu e ele neste horário. Embora a noite seja um período puxado, elas estão de volta da escola. Tenho mais o que me ocupar. Agora aqui na Band penso nele o tempo todo. Penso o que ele diria para a pessoa, o que a pessoa iria falar para ele... Eu pedi para não provar roupa no camarim do meu marido. Agora é da Silvia (Poppovic). Me emociono porque as pessoas vêm falar comigo. Chorei muito no quadro. Na semana que ele morreu, eu e minha sogra decidimos ir a Band retribuir o carinho que a gente tinha recebido. Vesti as meninas e viemos aqui. Choramos muito. Abraçamos cada um. A gente conhece essas pessoas pelo que ele falava delas, pelo o que torcia por elas."