O machismo mata. De fato, mulheres estão sendo mortas e com elas, sonhos também se vão, além de assolar a paz entre famílias. Na série feita pelo Piauí TV 1ª edição sobre o feminicídio, especialistas apresentam quem são os agressores, por que eles manifestam o desejo de poder sobre as vítimas a ponto de matá-las e destacam a importância de discutir a desigualdade de gênero como fator de vida e não de morte.
De acordo com a escritora e filósofa Márcia Tiburi, para muitos, a masculinidade é sinônimo de violência e que o machismo já é uma cultura construída do homem ao longo do tempo.
“A raiz do problema do feminicídio está a meu ver, numa certa compreensão de masculinidade que é introjetada pelo indivíduo, pelo cidadão comum. Então, no contexto em que esse machismo é um valor, a coisa é ainda pior, porque o próprio homem valoriza a si mesmo como um machista. Ele valoriza a ideia de masculinidade como violência, porque não se construiu uma ideia de masculinidade sem violência” explicou Márcia Tiburi.
Segundo a delegada da mulher, Anamelka Cadena, o sentimento de poder do homem sobre a mulher também é um fator que edifica a prática do feminicídio, abrindo margem para o machismo.
“Consigo enxergar no sentido da questão patriarcal e dominadora em que os homens sempre foram criados. A gente ver um discurso de posse muito comum durante os interrogatórios, onde eles procuram legitimar essa conduta que eles praticaram mediante aquele pensamento machista e de propriedade aquela mulher”, esclareceu a delegada.
Para Eugênia Villa, subsecretária de segurança, o machismo pode ser intitulado como fator paradigmático religioso com base na história de Eva e Adão. “A caracterização da Eva é como uma mulher fatal, porque provou do conhecimento e fez o Adão provar do conhecimento. E o modelo de mulher é Maria, a virgem, a mãe. Então, isso também influência”, explicou Eugênia.
A própria língua portuguesa predomina o tratamento do homem como título universal, com o uso do artigo ‘o’, ainda de acordo com a subsecretária de segurança. “A língua é um instrumento de dominação. Então, você ver que o português privilegia e coloca como universal o masculino. Há uma sobrepujança do masculino em face do feminino”, explanou.
Durante muito tempo, no Brasil, mulheres eram mortas pelo simples fato de serem mulheres e os crimes praticados contra elas eram considerados crimes passionais, caracterizando uma diminuição do teor político, conforme Andréia Marreiros, especialistas em Direitos Humanos.
“Houve uma redução e invisibilização da relação de poder, que fazem com que os homens se sintam autorizados a matarem mulheres a partir dessa relação desigual que existe entre gênero, raça e classe”, disse Andréia.
A especialista em Direitos Humanos também enfatizou sobre a relevância da discussão e debate a respeito da desigualdade de gênero.
“É muito importante que todos e todas nós possamos falar sobre gênero, pensar sobre gênero, pensar sobre as opressões de raça e de classe. Assim como nós aprendemos por conta dessas estruturas que estão aí, a produzir práticas machistas, racistas e classistas, nós podemos também desaprender, para que a gente possa construir um mundo onde todas as pessoas possam viver com dignidade. É preciso que a gente fala de vida, ao invés de falar de morte”, concluiu Andréia Marreiros.