Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado quarta-feira (16) mostrou que os novos casos de infecção pelo HIV caíram 38% nos últimos doze anos no mundo, mas cresceram 11% nos últimos oito anos entre os brasileiros. De acordo com dois especialistas ouvidos pelo site de VEJA, os dados referentes ao Brasil merecem atenção. "Os jovens hoje não viram a epidemia que aconteceu há trinta anos e se esqueceram da importância de usar o preservativo. Precisamos trabalhar com eles, especialmente com os homossexuais, e fazer com que a sociedade permita que eles exerçam sua sexualidade de forma segura", diz Georgiana Braga, diretora do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). Para o infectologista Esper Kallás, professor da Faculdade de Medicina da USP e médico do Hospital Sírio-Libanês, as estratégias de combate à aids sempre podem melhorar. "Uma campanha de camisinha no carnaval não atinge todos os públicos. É preciso ter políticas para grupos específicos, como homens que fazem sexo com outros homens e profissionais do sexo", afirma. Crescimento relativo — Com relação à comparação com o resto do planeta, os dois especialistas concordam que os dados devem ser relativizados. "A queda global aconteceu principalmente em regiões como a África Subsaariana, que estava atrasada em relação à redução da epidemia de aids. O Brasil já havia apresentado essa diminuição entre o fim dos anos 1980 e o começo dos anos 1990", afirma Georgiana Braga. Já Esper Kallás diz que, enquanto alguns países africanos têm prevalência de infecção por HIV de 12%, no Brasil a estimativa é de 0,4%. "O nosso combate mais efetivo contra a doença aconteceu há mais tempo, então não podemos dizer que o Brasil vai de mal a pior, mas sim que a epidemia enfrenta diferentes fases de acordo com cada país". Público de risco — Estima-se que, atualmente, cerca de 720.000 brasileiros vivam com infecção pelo vírus da aids, número que representa quase metade dos casos da América Latina e 2% do total registrado no mundo. Em 2013, aproximadamente 15.000 pessoas morreram no Brasil por complicações da doença, 7% a mais do que em 2005. De acordo com o relatório da ONU, a maior prevalência de novas infecções pelo HIV na América Latina aconteceu entre os homossexuais. No Brasil, 11% dos homens gays vivem com o vírus da aids. Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que homossexuais passem a tomar antirretrovirais para prevenir o contágio do vírus. De acordo com a entidade, esse grupo tem um risco dezenove vezes maior de ser infectado do que o resto da população. A indicação de antirretrovirais para evitar a doença ainda não é permitida no Brasil. Segundo Esper Kallás, mais estudos são necessários para que a abordagem seja incluída na prática clínica.
Atitude Abril — No Brasil, a campanha Atitude Abril, idealizada pela Editora Abril, usa a informação como estratégia para combater o crescimento da epidemia de infecção pelo vírus da aids. Por meio de revistas, sites e redes sociais, a campanha discute com o público específico de cada veículo diversos aspectos da doença, do científico ao social. A iniciativa também inclui a campanha publicitária “Desinformação tem cura”, que conta com o apoio de personalidades como Neymar e Anderson Silva. A campanha realizará uma pesquisa sobre o conhecimento da população brasileira em relação à aids, o comportamento sexual das pessoas no país e as principais barreiras que a doença impõe aos doentes atualmente. O levantamento está sendo feito pela internet e qualquer pessoa pode participar. Para Georgiana Braga, fazer com que informações sobre a doença cheguem ao público ajuda a combater o HIV por melhorar a conscientização sobre formas de prevenção da infecção; incentivar as pessoas a fazerem o teste que diagnostica o vírus, ampliando o acesso ao tratamento; e ajudar a reduzir o preconceito da sociedade em relação à doença. "O mais interessante da campanha Atitude Abril é falar com um público-alvo específico, pois a linguagem usada por um adolescente é diferente da de uma dona de casa. Isso ajuda as pessoas a entenderem melhor a doença e a mudar comportamentos", diz Georgiana.