Quatro dias após aceitar ser vice de Fernando Haddad (PT) na corrida pela Prefeitura de São Paulo, a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), 77, desistiu da disputa nesta terça-feira (19). "Vou continuar apoiando a candidatura e o projeto, construindo essa candidatura e preparando para construir o próximo governo democrático e popular em São Paulo", disse Erundina em entrevista à Rede Globo.
O anúncio oficial da desistência foi feito pelo presidente do PSB, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, um dia após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Haddad anunciarem o apoio do PP do deputado federal Paulo Maluf, adversário histórico de Erundina. Lula, Maluf e Haddad posaram para foto no jardim da casa do deputado. O ex-presidente não participou do evento com Erundina na última sexta-feira (15).
“O PSB continua na composição da chapa junto com o PT, mas infelizmente a deputada Luiza Erundina desistiu da candidatura”, afirmou. “O PSB abre mão de indicar o vice na chapa. Quem vai decidir agora é Fernando Haddad e o PT”, disse Campos ao UOL.
“Erundina desistiu de compor a chapa com Haddad, mas não da campanha. Ela participará de todo o processo”, afirmou Campos. "A aliança não corre nenhum risco. Apostamos na candidatura de Fernando Haddad. Entramos na candidatura de corpo e alma", disse.
Em evento na zona leste de São Paulo, Haddad afirmou que foi pego de surpresa com a notícia. "Não contávamos com a decisão da Erundina. Agora, vamos analisar a situação com sobriedade e tomar uma decisão", disse o petista. Questionado sobre se iria chamar alguém do PP para compor a chapa, o pré-candidato não quis dar nomes. “Já tenho alguns nomes na cabeça”, se limitou a dizer.
Haddad também afirmou que a ida de Lula à casa de Maluf foi um pedido do deputado para confirmar a aliança do PT com o PP. “Houve um pedido que o anúncio do apoio fosse feito em homenagem ao presidente Lula”, disse Haddad.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que a saída de Erundina não irá abalar a candidatura de Haddad, que segundo ele, "tem bom potencial".
"Na última pesquisa [Haddad] cresceu 160%. Na medida que ele for mais conhecido e ter a imagem atrelada ao [ex-] presidente Lula e a presidente Dilma o potencial de crescimento dele é grande", disse.
Na última pesquisa Datafolha, apareceu com 8% das intenções de voto, contra 3% da sondagem anterior.
PSB diz respeitar decisão de Erundina
Questionado sobre os apelos para que a deputada ficasse como vice na chapa, Eduardo Campos afirmou que respeitou a decisão de Erundina. Ele elogiou a deputada e disse que "diante da situação" o partido agiu rápido. Segundo o governador , Erundina não retirou nenhuma afirmação que fez contra Maluf. "Na vida dela, sempre afirmou isso e sempre vai afirmar", disse Campos em entrevista coletiva em Brasília, da qual Erundina não participou.
Segundo o governador, Erundina disse a ele que tem "apreço" por Haddad e participará da campanha nas tarefas que o PT indicar a ela.
O governador de Pernambuco afirmou ainda que não tem outro nome com o mesmo peso do de Erundina para indicar ao PT e, por isso, deixará a decisão sobre a escolha para a cabeça da chapa.
Vice por quatro dias
A chapa Haddad-Erundina durou quatro dias. A composição havia sido anunciada na última sexta (15) em um ato público em São Paulo no qual Erundina foi apresentada a militantes dos dois partidos como a alternativa “ética”. Na ocasião, após uma série de elogios à parlamentar, Haddad chegou a chamá-la de "rainha"; entre a militância dos dois partidos, não faltaram gritos de "maravilhosa".
O convencimento da deputada teria ocorrido na véspera, durante um jantar na capital paulista entre ela e o vice-presidente nacional da sigla, Roberto Amaral.
No mesmo dia do anúncio, porém, houve a informação de que Maluf poderia apoiar o PT, uma vez que o acordo dele com a campanha de José Serra (PSDB) não vingara.
A possibilidade de apoio do ex-prefeito pegou a deputada de surpresa logo após o ato que a confirmou. Na entrevista coletiva concedida ao final do ato, disse que a decisão de ter Maluf na campanha não passava por ela e evitou responder se faria campanha juntamente com o desafeto.
A reportagem tentou ouvir Maluf e Lula sobre a decisão de Erundina. No caso do ex-presidente, a assessoria do Instituto Lula informou que ele não se manifestará porque "tem orientações médicas para não usar a voz". Já a assessoria do deputado disse que não o havia localizado --Maluf estaria em São Paulo, mas não foi encontrado.