Familiares de Hugo Carvana, morto neste sábado (4) no Rio, lembraram da luta do ator e cineasta desde o primeiro câncer no pulmão direito, em 1996. Na porta do hospital onde se tratava, filhos agradeceram o apoio dos amigos e contaram que a homenagem realizada pelo Festival do Rio, que exibiu no último sábado (27) uma sessão especial de "Vai trabalhar, vagabundo", com cópia restaurada, havia deixado o pai muito feliz. Carvana não conseguiu ir devido ao problema de saúde, mas foi representado pelos parentes.
Júlio e Maria Clara, filhos de Carvana, no hospital (Foto: Lívia Torres/G1)
"Em nome da família a gente quer agradecer as manifestações dos amigos. O Carvana é um e diretor fundamental pra nossa cultura. O Carvana lutou o quanto pode e essa semana infelizmente ele partiu. A homenagem do Festival do Rio foi uma benção. Recuperaram o negativo do primeiro filme dele dirigido em 54. O filme vai passar amanhã [domngo] em Guadalupe. É uma bela homenagem a ele. Ele estava muito feliz com essa edição do festival", disse Julio Carvana.
Outra filha, Maria Clara disse que Carvana estava otimista com o tratamento. "Ele estava lúcido, super feliz que o festival estava fazendo essa homenagem a ele. Ele estava muito esperançoso de que ia sobreviver. Ele lutou muito. Os últimos dias foram difíceis mas ele foi forte e lutou muito pela vida", comentou.
Segundo ela, o primeiro câncer foi há 18 anos, no mesmo pulmão direito. "Ele fazia exames regularmente. Ele já tinha parado de fumar cigarro. Agora nesses últimos seis meses ele fumava charuto e a gente brigava", disse Maria Clara. "Ele era a alegria. Meu pai levava a vida com muito humor. Era alegre, boêmio, gostava de viver e prezava na vida os amigos, a família", acrescentou.
O cineasta e ator Hugo Carvana morreu aos 77 anos, de complicações causadas pelo câncer no pulmão. O velório será neste domingo (5) a partir das 9h, no Parque Lage, no Jardim Botânico. O corpo será cremado na segunda-feira (6), em cerimônia fechada para a família no Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária.
Quase 60 anos de carreira
Ao longo da carreira, iniciada em 1955, Hugo Carvana ficou marcado por retratar o típico "malandro carioca" em suas comédias de costumes. Foi ator de mais de 50 filmes. Dentre as produções que dirigiu, estão "Vai trabalhar, vagabundo" (1973), "Se segura, malandro" (1977), "Bar Esperança, o último que fecha" (1982), "O homem nu" (1996), "Casa da mãe Joana" (2007) e "Não se preocupe, nada vai dar certo" (2009).
"Ele não era somente um ator extraordinário, mas diretor, um intelectual que pensava o Brasil. É uma coincidência triste: Carvana era como José Wilker, um autor, pensava as coisas do Brasil, do cinema, tinha interesse grande pelo estado do mundo”, disse o cineasta e grande amigo Cacá Diegues, lembrando a morte do também ator e diretor José Wilker, em 5 de abril passado (veja a repercussão da morte de Hugo Carvana).
Na TV Globo, atuou também em novelas como "Corpo a corpo" (1984), "Roda de fogo" (1986), "O dono do mundo" (1991), "De corpo e alma" (1992), "Fera ferida" (1993), "Celebridade" (2003) e "Paraíso tropical" (2007). Um de seus papéis mais conhecidos foi o do repórter policial Valdomiro Pena, do seriado "Plantão de polícia" (1979-1981).
Seu último trabalho como diretor foi "Casa da mãe Joana 2" (2013). Como ator, fez parte do elenco de "Giovanni Improtta" (2013), de José Wilker.
Hugo Carvana nasceu no dia 4 de julho de 1937, filho da costureira Alice Carvana de Castro e do comandante da Marinha Clóvis Heloy de Hollanda. Era "um ilustre suburbano de Lins de Vasconcelos, que nunca renegou sua origem simples", conforme destaca o perfil no site oficial. O texto reforça que o ator e diretor ficou marcado em sua trajetória por ter "um quê de malandragem".
Na juventude, para conseguir entrar no estádio e torcer pelo Fluminense, costumava se disfarçar de vendedor de balas e ambulante. "Figura obrigatória nas mesas dos bares da noite carioca, cultivou amizade com grandes nomes da boemia e das artes – Roniquito, Ary Barroso, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, foram alguns", diz o perfil.
"Através dessa vivência criou personagens que povoam o universo carioca, como o malandro Dino em 'Vai trabalhar vagabundo'." A primeira vez em que viveu esse tipo de personagem foi em "O capitão Bandeira contra o dr. Moura Brasil" (1970), de Antônio Calmon.