Em depoimento à CPI do Cachoeira, o arquiteto Alexandre Milhomem afirmou nesta terça-feira (26) que a mulher do contraventor, Andressa Mendonça, o contratou para decorar a casa vendida pelo governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Segundo Milhomem, ela gastou cerca de R$ 500 mil com móveis, papel de parede e outros objetos porque "gosta de tudo do melhor", além dos honorários do profissional, de R$ 50 mil.
A venda do imóvel levantou suspeitas de que Perillo teria ligação com Carlinhos Cachoeira, preso em fevereiro deste ano sob a acusação de comandar uma rede de jogos ilegais.
O arquiteto afirmou que seria pago em cinco parcelas de R$ 10 mil, mas que não recebeu tudo por conta da prisão de Cachoeira. Milhomem disse ainda que a casa estava vazia quando chegou ao local, supostamente por se tratar de um imóvel emprestado a Andressa. A venda do imóvel custou pelo menos R$ 1,4 milhão; a Polícia Federal tem dúvidas se o comprador é o empresário Walter Paulo Santiago, que o teria emprestado a Andressa, ou o próprio contraventor.
Parlamentares tucanos criticaram o depoimento e voltaram a acusar o relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), de ser parcial ao investigar a gestão de Perillo e ser mais brando com o governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, que tem membros de sua gestão citados em conversas da quadrilha de Cachoeira.
"A CPI não tem que ouvir arquiteto, mas sim o Fernando Cavendish [ex-presidente da construtora Delta] que disse comprar senador por R$ 6 milhões, e fez mágica de multiplicar contratos", disse o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR). A deputada Iris de Araújo (PMDB-GO), adversária de Perillo, rejeitou a crítica. "Não importa se é um papel de parede ou um móvel. Se houver um fio de cabelo ligando os dois, temos de investigar."
Habeas corpus
Mais cedo, duas testemunhas compareceram à CPI mas permaneceram caladas: Lúcio Fiúza, apontado como ex-assessor do governador que intermediou a venda de uma casa de Perillo a um empresário – nesse mesmo local Cachoeira foi preso; e Écio Antônio Ribeiro, sócio da empresa em nome da qual a casa vendida por Perillo foi registrada.
Os envolvidos com Agnelo devem comparecer à CPI na quinta-feira (28). Um deles é o ex-chefe de gabinete Claudio Monteiro, suspeito de receber propina da Delta, empresa da qual Cachoeira seria sócio oculto, de acordo com a PF. A acusação é de que ele facilitou a renovação de um contrato de coleta de lixo do Distrito Federal.
Também serão ouvidos dois ex-funcionários da gestão petista suspeitos de terem relações com o bicheiro: o ex-subsecretário de Esporte João Carlos Feitoza, conhecido como Zunga, e o ex-assessor da Casa Militar Marcello de Oliveira.