A presidente Dilma Rousseff defendeu nesta terça-feira (29), em discurso na cúpula do Mercosul em Caracas, na Venezuela, o estabelecimento de "regras claras" para reestruturação de dívidas soberanas dos países.
Em apoio à Argentina, que está na véspera do prazo para o pagamento de dívidas com credores internacionais, Dilma criticou o que chamou de “ação de poucos especuladores". “O problema que atinge a Argentina é ameaça não apenas para o país irmão, mas atinge todo o sistema financeiro internacional. Não podemos deixar que a ação de poucos especuladores coloque em risco a estabildade e o bem-estar de países inteiros”, disse.
A presidente brasileira defendeu "foros imparciais" para julgamento de ações sobre a restruturação de dívidas de nações. “Precisamos de regras claras que permita foros imparciais, permita previsibilidade e, portanto, justiça no processo de restruturação de dívidas soberanas." Segundo a presidente, o tema será levado para discussão na próxima reunião do G-20, que ocorre em novembro na Austrália.
"Tratamos igualmente do tema na reunião em Brasília entre líderes do Brics [grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] e líderes do Mercosul. Me propus, juntamente com a presidente Crstina, a levá-lo para a próxima reunião do G-20, na Austrália", frisou.
A Argentina está à beira de um novo calote em relação a dívidas com credores internacionais devido a uma série de decisões de tribunais dos Estados Unidos que forçaram o país a negociar com investidores que não aceitaram participar das restruturações da dívida após a crise do início da década passada.
Após se recusar a saldar a dívida pública de US$ 100 bilhões, em 2001, o governo argentino negociou o pagamento com desconto e dividido em parcelas. Uma parte dos credores concordou, mas um grupo de fundos, a maioria nos EUA, exige receber de forma integral.
O governo da presidente Cristina Kirchner tem até esta quarta-feira (30) para alcançar um acordo com os chamados holdouts - credores que não aceitaram os termos das negociações da dívida argentina -, em uma disputa que levou a terceira maior economia da América Latina à beira do segundo calote em 12 anos.
Mercosul-União Europeia
Dilma também afirmou em seu discurso que o Mercosul já concluiu a sua oferta para a associação com a União Europeia, mas que ainda falta a contrapartida dos europeus. No início deste mês, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Mauro Borgesm, afirmou que ao grupo europeu tem sinalizado não estar pronto para uma oferta em direção ao acordo.
“Nosso bloco já concluiu oferta compatível com os compromissos assumidos nas negociações de 2010. Esperamos agora que o lado europeu consolide a sua oferta. Essa negociação só poderá prosperar com o intercâmbio simultâneo de ofertas e o equilibrio entre o que demandamos, o que demandam eles, o que oferecemos e o que oferecem eles”, declarou.