O doleiro Alberto Youssef, considerado o líder do esquema bilionário de lavagem e desvio de dinheiro revelado pela Operação Lava Jato, passou mal na carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba e foi levado para o Hospital Santa Cruz por volta das 14h30 deste sábado (29). Segundo o advogado que o representa Antônio Figueiredo Basto, o doleiro teve queda de pressão, sente dores abdominais e está febril. Youssef está detido em Curitiba desde março deste ano e esta é a quarta vez que ele passa mal na prisão e é levado para o hospital.
"Eu estive com ele na quinta-feira (27) e me assustei com o quanto ele está debilitado. Há um tempo estamos tentando a remoção dele. Ele está desnutrido e tem uma doença crônica. Vamos esperar a avaliação do hospital agora". Conforme o advogado, desde que Youssef foi preso, ele emagreceu 20 quilos.
Na quinta-feira (25), Youssef prestou o último depoimento do acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público Federal (MPF). O depoimento teve quase seis horas de duração e foi, segundo a PF, a última etapa antes de a Justiça decidir se homologa, ou não, o acordo, segundo a PF. Segundo Basto, a partir do último depoimento a expectativa é de que a homologação do acordo de delação seja feita em até 10 dias - mas não há prazo oficial.
As colaborações de Youssef foram cruciais para o desdobramento das investigações, por isso há intenção de obter benefícios significativos, segundo o advogado. “Ele faz jus a um prêmio em razão daquilo que ele tem colaborado com a Justiça, e com a própria utilidade para que se levantasse o tamanho dessa situação toda, que é espantosa, não podemos negar isso. É um escândalo de corrupção que eu não me lembro de tamanha envergadura neste país”, afirmou Basto.
Lava Jato
A Operação Lava Jato investiga um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões e provocou desvio de recursos da Petrobras, segundo investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. A nova fase da operação policial teve como foco executivos e funcionários de nove grandes empreiteiras que mantêm contratos com a Petrobras que somam R$ 59 bilhões.
Parte desses contratos está sob investigação da Receita Federal, do MPF e da Polícia Federal. Ao todo, 25 pessoas foram presas pela PF durante esta etapa da operação.
Porém, ao expirar o prazo da prisão temporária (de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco), na última terça (18), 11 suspeitos foram liberados. Outras 13 pessoas, entre as quais o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, continuam na cadeia.
Quem é Alberto Youssef
A Operação Lava Jato surgiu a partir de uma ação em um posto de gasolina, em Brasília, onde também funcionava uma casa de câmbio e uma lavanderia. De acordo com a Polícia Federal, era uma medida específica para atingir doleiros e a lavagem de dinheiro sujo. No dia 17 de março, quando a operação tornou-se pública, entre dezenas de presos, estava Alberto Youssef, que é considerado pela polícia o “maior operador financeiro do país”. O nome do doleiro, por exemplo, está ligado ao caso Banestado, que teve o desvio de mais R$ 30 bilhões a paraísos fiscais.
Youssef começou a vida como vendedor de pastel nas ruas de Londrina, cidade do norte do Paraná. Ainda adolescente, começou a contrabandear eletrônicos do Paraguai. Foi detido cinco vezes com muamba. As viagens constantes para o país vizinho, o levaram a mexer com câmbio. Em 2004, foi preso, pagou uma multa recorde na época de R$ 1 milhão e aceitou falar abertamente sobre a esquema ilegal. Foi um dos primeiros criminosos do país a fazer um acordo de delação premiada. Com o acordo, a polícia acreditava que Youssef estava fora do mundo do crime, mas as investigações apontaram em sentido oposto.
O doleiro circulava livremente pelos corredores do poder. Em Londrina, conheceu José Janene, deputado federal morto em 2010 e condenado no escândalo do mensalão. Youssef, de acordo com a polícia, sofisticou o esquema de lavagem de dinheiro. Além de enviar recursos para paraísos fiscais, ele montou uma rede de empresas de fachada para intermediar pagamentos de propina e firmar contratos fraudulentos com estatais. A Lava Jato, diz a polícia, quebrou esse esquema.
Enquanto o alvo eram os doleiros, a Operação Lava Jato investigava transações de milhões de reais. O salto para os bilhões veio com a prova da ligação entre Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. O esquema de corrupção na estatal envolveu contratos que somam R$ 89 bilhões. A dupla escorregou em um detalhe: um carro registrado no endereço de Alberto Youssef, em nome de Paulo Roberto Costa - na placa o ano de nascimento do ex-diretor da Petrobras.