O diretor do Hospital Infantil Lucídio Portela, Ednaldo Miranda, procurou a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente junto com uma equipe médica para registrar um boletim de ocorrência. A decisão foi tomada porque, segundo ele, a direção foi proibida pela Secretaria Estadual de Fazenda de contratar cirurgiões. Nos últimos quatro meses, mais de 600 cirurgias eletivas já foram suspensas por atraso nos salários dos médicos responsáveis que já chega a cinco meses. Atualmente, a situação ficou mais grave após a falta de recursos também afetar o serviço de urgência da unidade.
O hospital que é referência, atende pacientes da capital, interior do Piauí e outros estados, mas agora vive uma crise nunca antes registrada. Nos últimos 15 dias, só não foram registradas mortes de crianças no local porque alguns profissionais realizaram as cirurgias com a promessa de receberem o pagamento da Secretaria de Fazenda posteriormente.
Sem alternativa, a equipe médica do hospital foi até a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente registrar um boletim de ocorrência. O motivo desta vez é que um recém-nascido com má formação do intestino precisa ser operado e a Secretaria de Fazenda do Estado não autoriza a contratação de um cirurgião para o procedimento.
"Semana passada tínhamos duas crianças precisando de cirurgia de urgência, se não fossem operadas morreriam. Eu fui pessoalmente à Secretaria de Saúde, falei do problema com o secretário e ele mandou contratar cirurgiões pediatras. Os profissionais cumpriram a escala no mês de dezembro, o processo de pagamento foi dado entrada, mas agora eles não sabem se vão receber porque nessa segunda-feira o secretário de Fazenda disse que não vai liberar o recurso para pagá-los. Estamos nesse dilema ético de salvar uma vida e ao mesmo tempo não tenho como convencer um profissional a vir dar um plantão sem a promessa de que vou pagar ele", declarou o diretor Ednaldo Miranda.
No mês passado, o Ministério Público Estadual entrou com uma ação civil contra o governo por causa das suspensão das cirurgias por falta de profissionais. Médico do hospital há 30 anos, o cirurgião pediátrico Ubiratan Martins contou nunca ter visto situação parecida. "Este foi um ano inaceitável pois estamos sendo prejudicados e mais ainda as crianças do Piauí", disse.
A assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde mandou nota informando que o secretário Zé Fortes esteve em reunião na Secretaria de Fazenda para resolver pendências sobre o caso, antes de entregar o cargo para nova gestão.