Demonstrando indignação com as informações de que foi alvo direto de espionagem da NSA (Agência Nacional de Segurança, na sigla em inglês), dos EUA, a presidente Dilma Rousseff analisa pelo menos três reações contra o governo americano:
1) fazer um "forte discurso" contra a NSA em setembro, na abertura da Assembleia-Geral da ONU;
2) convocar o embaixador brasileiro em Washington e
3) até cancelar, em último caso, a viagem oficial aos EUA, prevista para outubro.
Dilma vai decidir de acordo com a resposta que o presidente Barack Obama der ao episódio, revelado pelo "Fantástico".
Segundo um assessor, a presidente exige uma "resposta satisfatória" porque não está só "indignada, mas também muito irritada". Sente-se "enganada" pelo governo americano.
Quando surgiram as primeiras notícias sobre espionagem da agência americana no Brasil, os EUA garantiram que a atuação estava circunscrita a "metadados" (telefone de origem, destino, hora e duração da chamada), com cruzamentos de informações genéricas que seriam, inclusive, de interesse brasileiro.
Dilma deve pedir uma ação multilateral contra a espionagem americana.
Em reunião nesta segunda-feira (2) com alguns ministros, ela determinou que o Itamaraty busque apoio de outras nações, como os demais integrantes dos Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul), para se construir um discurso único contra ações que afetem a soberania dos países.
A presidente tem reunião bilateral prevista com Barack Obama já nesta semana, na cúpula do G20, na Rússia. O encontro vinha sendo combinado antes de o "Fantástico" revelar o caso de espionagem.
Dentro do governo, uma ala defende um discurso duro em "pleno território americano", durante a Assembleia da ONU.
Outra quer convocar o embaixador brasileiro em Washington, e um terceiro grupo advoga por uma resposta mais extrema, o cancelamento da viagem de outubro.
A avaliação desses últimos é que, sem "resposta convincente" de Obama, Dilma não teria como ficar "tirando foto" ao lado do presidente americano. Nas palavras desses auxiliares, seria o mesmo que o Brasil dizer ao mundo que não se importa em ser espionado.
O porta-voz da presidente, Thomas Traumann, diz que "a possibilidade [cancelamento da viagem] não está na mesa" nem "em análise".
ESPIONADA
Segundo reportagem do "Fantástico", da Rede Globo, exibida neste domingo (1º), a presidente foi alvo direto da espionagem realizada pela NSA.
Os documentos secretos que basearam as denúncias foram obtidos pelo jornalista Glenn Greenwald com o ex-técnico da NSA Edward Snowden. Eles faziam parte de uma apresentação interna para funcionários da agência.
De acordo coma apresentação, foi monitorada a comunicação entre Dilma e seus assessores, assim como dos assessores entre eles e com terceiros. Também Enrique Peña Nieto, atual presidente mexicano (então líder na campanha presidencial), teria sido espionado.
O documento mostra que a NSA usou programas capazes de capturar inclusive o conteúdo de mensagens de texto.
No caso de Dilma, o objetivo da operação seria o de "melhorar a compreensão dos métodos de comunicação e dos interlocutores da presidente e seus principais assessores".