PARIS — A ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff , classificou como "absurda" a ideia levantada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, de conceder estatuto internacional à Amazônia , à luz das discussões em torno do aumento do desmatamento e das queimadas na floresta.
"É uma proposta absurda", disse Dilma nesta quarta-feira (18), em discurso proferido em frente a um auditório lotado no Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas, em Paris, com o tema "A crise sistêmica global e perspectivas democráticas".
A ex-presidente referia-se à possibilidade evocada em agosto por Macron de conceder à Amazônia um " estatuto internacional " caso "um Estado soberano tome especificamente medidas claramente contrárias ao interesse de todo o mundo".
Dilma afirmou que essa ideia favorece o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro — que trocou acusações com o mandatário francês em torno da questão da Amazônia.
—Quando [Emmanuel] Macron fala em intervir na Amazônia, ele cria um grande apoio a Bolsonaro, porque ninguém no Brasil pensa que isso seria uma boa ideia — disse Dilma. — O Brasil sem a Amazônia, sem os povos indÃgenas, não é o Brasil, pode ser outra coisa, mas não é o Brasil.
A sucessora de Luiz Inácio Lula da Silva lembrou que "existem 20 milhões de habitantes na Amazônia, não é um deserto", e acrescentou que a Guiana Francesa, território francês ultramarino que abarca parte da floresta, "também tem problemas", especialmente a mineração.
"Frente democrática" pelo ambiente
Dilma Rousseff pediu a criação de uma "frente democrática" para rejeitar a exploração que ameaça áreas de proteção ambiental e terras indÃgenas.
— Bolsonaro quer que a Amazônia esteja aberta à exploração absurda —, denunciou. — Quando ele rejeita o dinheiro internacional, ele mostra que não quer protegê-la — acrescentou, referindo-se ao dinheiro prometido pelos paÃses do G7 para combater os incêndios que devoram a maior floresta tropical do planeta.
Ele também desaprovou os comentários de Jair Bolsonaro sobre o fÃsico da primeira-dama francesa, Brigitte Macron , e a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, a chilena Michelle Bachelet.
— O que acontece é que Bolsonaro não tem o chip da moderação — disse a primeira mulher eleita presidente do Brasil, em 2010.
Ela também chamou o atual governo de "reacionário" em termos de valores, polÃtica de identidade, direitos de mulheres e comunidade LGBT.