Para tentar evitar tremores em sua base de apoio no ano eleitoral e a aprovação de projetos no Congresso que ameaçam as contas públicas, a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a assumir uma tarefa para a qual demonstrou pouco entusiasmo nesse um ano e meio de mandato: a articulação política do governo.
Depois de aliados dizerem-se varridos da Esplanada, por conta da chamada faxina, Dilma dedicou-se nos últimos dias à costura política.
Reaproximou-se do PMDB, articulou a agenda de votações na Câmara, instituiu um pacto de convivência com o PSB e lançou, em 24 horas, um candidato petista à Prefeitura de Belo Horizonte.
O gabinete presidencial até operava negociações, mas raramente nessa intensidade. Tanto que, em Brasília, costuma-se dizer que Lula é político e Dilma, gestora.
"A presidente está bem, está pegando o traquejo", observou o governador Cid Gomes (PSB-CE), um dos convidados da semana para um jantar de reconciliação.
Julho começou com uma reviravolta na capital de Minas, onde houve um racha na aliança entre PT e PSB estimulado pelo senador Aécio Neves (PSDB). Incomodada com os avanços do potencial adversário, Dilma telefonou ao prefeito Márcio Lacerda (PSB) com o seguinte recado: se não evitasse o racha, o PT lançaria candidato próprio, Patrus Ananias.
Na quarta, o petista era oficializado, com o apoio do PMDB e de outras siglas, aliança costurada no Palácio da Alvorada por ela e seu vice, Michel Temer (PMDB-SP).
Dilma, segundo interlocutores, fez uma conta pragmática: era preciso resistir ao que o governo via como tentativa de Aécio de desbancar o PT.
Esta é a primeira eleição de Dilma na cadeira de presidente. E, apesar de não haver relação direta com a sucessão ao Planalto, há redutos cujas ligações são quase umbilicais --como em Minas, o segundo maior eleitorado do país.
Dilma fez investidas em duas outras grandes capitais fundamentais para uma reeleição --São Paulo e Recife.
Em São Paulo, funcionou como braço auxiliar de Lula para adesão do PP, de Paulo Maluf, à chapa de Fernando Haddad. Foi ela quem enviou o ministro Agnaldo Ribeiro (Cidades) a São Paulo para convencer Maluf a apoiar o petista. A pedido dela, segundo integrantes do PP, Ribeiro também atuou em Recife, onde o partido é o único aliado do petista Humberto Costa.
Foi de olho no futuro que o governo decidiu se reaproximar do PMDB. E só após o aliado PSB romper com o PT em Recife e Fortaleza.
Os divórcios foram interpretados pelo PT como ensaio de candidatura do governador Eduardo Campos (PSB-PE) ao Planalto em 2014, hipótese negada por ele em jantar com a presidente.
No encontro, ocorrido na segunda-feira, Dilma verbalizou sua apreensão: não quer divergências circunstanciais contaminando a vida do governo no plano federal.
Segundo observadores próximos, a manutenção da governabilidade é o que move a presidente. Isso porque há, no horizonte, um risco de agravamento da crise global, com impactos inevitáveis na evolução do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.
Eis a conta feita: o Executivo precisa aproveitar a alta popularidade de Dilma para resolver problemas em sua base no Legislativo. Assim, evita derrotas com potencial de onerar os cofres públicos.
Por ser uma das maiores forças do Legislativo, o PMDB é essencial. Tanto que Dilma decidiu apoiar a sigla para comandar a Câmara no ano que vem e concorda em chancelar o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Mas o PMDB quer mais e pretende emplacar Renan Calheiros (PMDB-AL) na Presidência do Senado em 2013.