Assim que Ronaldo foi anunciado pela TV Globo como comentarista da emissora durante a Copa das Confederações, a questão de que ele iria avaliar o desempenho dos clientes na 9ine, sua empresa de marketing esportivo, foi imediatamente levantada. A discussão ética em torno do tema, no entanto, não é nova e já existe pelo menos um precedente conhecido em que jornalistas e comentaristas tiveram que abdicar de uma das duas funções por serem conflitantes.
Reportagem publicada na edição de janeiro de 1996 da revista "Placar" com o título "Piratas da TV" abordou o caso de jornalistas e comentaristas esportivos que usavam de sua influência no meio do futebol para agenciar jogadores. Na reportagem, Eli Coimbra, Luciano Junior e Octávio Muniz, então funcionários da TV Bandeirantes, são citados como sócios da empresa Sports General Business, a SGB, que tinha como clientes Elivélton e Zé Elias. De acordo com a revista, Luciano chegou até a ganhar um carro Alfa Romeo do primeiro por ter arranjado sua transferência do futebol japonês ao Corinthians.
Colega de trabalho dos acusados na ocasião, o narrador Silvio Luiz disse à publicação que se sentia "constrangido" em dividir a mesma emissora com eles. A opinião do folclórico locutor sobre a questão continua a mesma e não é diferente em relação a Ronaldo.
"Depois daquela época isso até parou um pouco. Mas no Brasil não se tem mais respeito e ética por nada. Não é ético nem honesto. Os anunciantes do Ronaldo estão na Globo. Você acha isso ético? É a mesma coisa que o Wágner Ribeiro comentar um jogo do Neymar", afirmou ao UOL Esporte, fazendo alusão ao empresário do craque Santista.
Segundo foi anunciado na última quarta-feira, o "Fenômeno" trabalhará nas transmissões dos jogos da Copa das Confederações, que acontecerá em junho. É certo que comentará partidas nas quais Neymar, com certeza, Lucas, provavelmente, e Leandro Damião, talvez, estarão em campo. Os três são clientes da 9ine.
Em entrevista ao "Esporte Espetacular", da TV Globo, o maior artilheiro das Copas do Mundo se defendeu. "'Acho que já critiquei o Neymar. Minha opinião, independente da agência, é minha opinião, não vou faltar com ética com meu público e comigo mesmo. Na verdade, posso ser mais duro conhecendo ele, porque vivi algo parecido com o que ele está passando. Tenho minha opinião e ela será autêntica", disse.
No caso levantado pela "Placar" em 1996, todos alegaram que trabalhavam com marketing esportivo, especialmente os integrantes da SGB. A revista, no entanto, reuniu material que provava que os profissionais da Bandeirantes não apareciam no contrato social da empresa, mas sim como beneficiários das comissões dos negócios realizados.
Entre vários outros casos, a publicação diz que, em outubro de 1995, Eli Coimbra foi à Santa Catarina para cobrir um jogo entre Corinthians e Criciúma. Retornou com fitas de lances do zagueiro Alexandre Lopes, então com 21 anos, e uma autorização do clube catarinense para intermediar sua negociação com o time do Parque São Jorge. Um mês depois, a venda foi concluída por R$ 500 mil.
Na edição seguinte da revista, a TV Bandeirantes, em resposta ao que havia sido publicado, informou que compartilhava com o pensamento de que as funções exercidas na emissora eram incompatíveis com as de empresários de atletas e que a confiança da empresa em seus funcionários havia sido "arranhada". A decisão da cúpula da emissora foi dar um ultimato aos profissionais para que eles escolhessem uma das duas atividades, ou seriam demitidos. Eli Coimbra preferiu dedicar-se à SGB, enquanto Luciano e Octávio se desligaram do meio empresarial e seguiram como jornalistas do veículo.