A goleada histórica que a Seleção do Brasil levou dos alemães em pleno Mineirão vai além dos gramados. Quando o quesito é economia, os germânicos dão um baile maior. A comparação chega a ser injusta, na avaliação de especialistas ouvidos pelo Estado de Minas, dado o desenvolvimento que a maior nação europeia ostenta, mesmo depois de ter sido praticamente destruída nas duas grandes guerras do século passado.
“O pragmatismo é um dos maiores trunfos da Alemanha, na vida e no futebol. O desempenho da Seleção brasileira reflete a nossa economia”, lamentou Paulo Rabello de Castro, coordenador do Movimento Brasil Eficiente. “Nossa economia sofre as mesmas patologias do time. O líder presunçoso e falastrão continua dando explicações mesmo quando tudo está errado”, criticou.
Castro lembrou que o desenvolvimento do país europeu é resultado de uma estratégia de longo prazo. Reformas ocorrem desde a década de 1990, quando houve a unificação do país. Apesar de o Brasil não ter passado por nenhuma guerra, Castro destaca que o custo da rolagem da dívida pública é quase equivalente ao de um conflito armado. “A conta está em US$ 250 bilhões por ano, ou 5% do Produto Interno Bruto (PIB). Enquanto isso, a Alemanha não paga 1%”, comparou, lembrando que, apesar de a carga tributária ser parecida nos dois países, lá a qualidade dos gastos é muito melhor, sem contabilidade criativa nas contas públicas.
O consultor Roberto Luis Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), considera que a qualidade de vida, a alta renda per capita e a estabilidade econômica da Alemanha são consequência das políticas adotadas pelo governo. “O ponto forte deles é a produtividade. Já o Brasil quer resultados imediatistas e não faz planejamento”, afirmou.
Diferenças gritantes Com uma população de 81 milhões, menos da metade da brasileira, a Alemanha tem um PIB per capita quatro vezes maior que o do Brasil: US$ 44,9 mil contra US$ 11,3 mil, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A inflação alemã é cinco vezes menor que a nossa. Enquanto a economia brasileira desacelera, devendo crescer apenas 1% em 2014, depois de avançar 2,5% no ano passado, a economia alemã está em curva ascendente. Após uma expansão de 0,5% em 2013, pode evoluir 1,3%, neste ano.
Mesmo com taxas de investimento parecidas, na casa de 17% e 18% do PIB, não é possível colocar os dois países no mesmo patamar. “A economia alemã é mais madura. Uma taxa dessas responde bem à reposição dos investimentos. Para o Brasil, que está em desenvolvimento, ela é muito baixa, porque, para crescer de 4% a 5%, o país precisaria que esse indicador fosse de 25% do PIB”, explicou Castro.
O território do Brasil, com 8,5 milhões de quilômetros quadrados, é quase 10 vezes maior que o da a Alemanha. No entanto, esse gigantismo não se reflete na infraestrutura. A malha de trilhos alemã, com mais de 45 mil km e com trens de alta velocidade de norte a sul do país, supera de longe os 29.000km do Brasil. “A estrutura ferroviária e rodoviária da Alemanha é invejável”, destacou Marcos Troyjo, diretor do BRIC-Lab da Columbia University, em Nova York.
Para Troyjo, um dos principais motivos da superioridade alemã, além do ambiente propício para negócios, é o alto índice de investimento do país em pesquisa e desenvolvimento. “Os alemães aplicam 2,8% do PIB no setor. O Brasil, menos de 1%”, lamentou.
Dada a falta de competitividade por conta de problemas históricos e estruturais, o Brasil também perde de lavada para a Alemanha quando o assunto é comércio externo. Exportamos apenas US$ 242 bilhões no ano passado. Já as vendas externas alemãs somaram US$ 1,4 trilhão em 2013, volume menor apenas que o da China e o dos Estados Unidos.