A eleição presidencial este ano terá sete candidatos integrando o pelotão dos chamados “nanicos”, que disputam por partidos pequenos, normalmente sem coligações e com tempo tempo de TV e recursos de campanha mais reduzidos. Segundo a última pesquisa de intenção de votos do Instituto Datafolha, eles somam 5% dos votos. Cinco são ligados a partidos mais à esquerda do atual governo e dois têm propostas mais conservadoras.
Por enquanto, a maioria figura com traço ou 1% nas intenções de voto. Eles prejudicam mais a candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff, que lidera as pesquisas : somados aos 4% de intenção de votos do candidato Pastor Everaldo (PSC), os nanicos exercem o papel de garantir a realização do segundo turno das eleições presidenciais. saiba mais De olho na reeleição, Planalto agora quer virar a página da Copa Presidenciáveis não dizem como vão bancar propostas Dilma prevê economia brasileira mais competitiva e ataca pessimismo Campanha para o Senado deverá custar mais de R$ 1 bilhão Justiça revalida convenção do PT, mas diz que Moura tem direito de se lançar Leia mais sobre Eleições 2014
Eduardo Jorge (PV), Luciana Genro (PSOL), Zé Maria (PSTU, Mauro Iasi (PCB) e Rui Costa Pimenta (PCO) criticam muito o atual governo e, também, os adversários mais fortes da presidente: Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Levy Fidelix (PRTB) e José Maria Eymael (PSDC) amenizam as críticas a Aécio, mas batem forte no governo petista.
Entre os nanicos, quatro são veteranos na disputa presidencial: Eymael e Zé Maria disputarão pela quarta vez; Levy Fidelix, pela terceira; e Rui Costa Pimenta, pela segunda. Em 2006, Pimenta teve seu registro de candidato à Presidência negado pelo TSE. Eymael e Levy Fidelix integram o grupo dos candidatos mais conservadores e neoliberais. Zé Maria e Rui Costa Pimenta ganharão o reforço do professor Mauro Iasi (PCB), no campo mais radical à esquerda. Eduardo Jorge e Luciana devem chamar a atenção dos eleitores com a defesa de uma bandeira polêmica: a descriminalização da maconha.
O diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, não crê que Eduardo e Luciana repitam o desempenho de Marina Silva em 2010. Para Guedes, eles têm poucas chances de crescer, porque o eleitor tende a não desperdiçar o voto. Ele lembra que a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL) chegou a ter 15% em 2006 e mingou para 7%.
— O percentual de nanicos deve cair e se polarizar mesmo. Eduardo perdeu o discurso de terceira via e não o vejo conseguindo repetir a terceira via de protesto, como aconteceu com a Marina — diz o diretor do Sensus.
ZÉ MARIA: SUSPENSÃO DAS DÍVIDAS EXTERNA E INTERNA
VICE: Cláudia Durans
TEMPO DE TV: 45 segundos
O candidato do PSTU, Zé Maria, disputa a Presidência pela quarta vez. No embalo das manifestações de junho do ano passado e das greves que têm pipocado, Zé Maria defenderá a suspensão do pagamento das dívidas externa e interna, que segundo ele representam um impacto de R$ 750 bilhões ao ano. O dinheiro seria investido em Saúde, Educação e moradia. Também defende a estatização do sistema financeiro, a reestatização de empresas de setores estratégicos, como telefonia, e o fim dos subsídios a empresas. Defenderá ainda a garantia de direitos das mulheres e dos homossexuais e mudanças no sistema político.
Zé Maria diz que Aécio Neves é a expressão da direita nacional e que as candidaturas de Dilma Rousseff e de Eduardo Campos defendem o mesmo projeto econômico do PSDB, com um verniz social. Ele critica as políticas sociais compensatórias e diz que o PSTU, no segundo turno, não se alinhará com nenhum dos três:
— Nossa luta é para o futuro, não depende do resultado desta eleição. Queremos construir uma massa crítica na sociedade, e não há possibilidade de nos aproximarmos de nenhum dos três.
O candidato do PSTU critica até mesmo o Bolsa Família. Para ele, é preciso garantir emprego e salário digno, porque as políticas sociais compensatórias não acabam com a pobreza, perpetuam a pobreza.
RUI COSTA PIMENTA (PCO): FIM DA PM E CRIAÇÃO DE ‘MILÍCIAS POPULARES’
VICE: Ricardo Machado
TEMPO DE TV: 45 segundos
Com o bordão famoso “Quem bate cartão não vota em patrão”, Rui Costa Pimenta tem entre as principais propostas apresentadas em seu programa de governo um salário-mínimo de R$ 3,5 mil e a dissolução da Polícia Militar e de todo o seu aparato repressivo. A polícia seria substituída por um “sistema de milícias populares”. Pretende ainda dar à população o direito de se armar.
O programa critica as UPPs e a ocupação da PM e das tropas federais nos morros do Rio, afirmando que elas são “realizadas para defender os interesses dos especuladores imobiliários e outros tubarões capitalistas e para intensificar o terror contra a população pobre”. Defende ainda a estatização da Saúde e da Educação, liberdades democráticas e os direitos democráticos de negros, mulheres e demais setores oprimidos da sociedade.
O PCO também propõe a realização de uma Assembleia Nacional Constituinte, a estatização dos bancos, reforma agrária que acabe com o latifúndio no país, fim das privatizações e estatização dos principais meios de produção. Rui Pimenta defenderá na campanha jornada de trabalho semanal máxima de 35 horas. O programa do candidato prevê direito irrestrito de greve e iguais condições de acesso de todos os partidos aos meios de comunicação de massa. O GLOBO tentou entrar em contato com Pimenta mas não obteve retorno.
EYMAEL (PSDC): FOCO NA CONSTITUIÇÃO E NO ‘ESTADO NECESSÁRIO’
VICE: Roberto Lopes
TEMPO DE TV: 47 segundos
O candidato à Presidência pelo PSDC quer ir além da popularidade adquirida com seu jingle “Ey, Ey, Eymael” e mostrar aos eleitores brasileiros, na sua quarta disputa à Presidência, o conteúdo da proposta democrata cristã. Eymael diz que, como deputado constituinte, sua campanha focará no cumprimento da Constituição Federal e o lema será “Do Brasil que temos para o Brasil que podemos e queremos”. Entre suas propostas estão a criação de um Ministério da Segurança Pública e uma política externa voltada para o desenvolvimento, não “meramente ideológica, como é hoje”. Não defende o Estado mínimo, mas o que chama de “Estado necessário”, com um número reduzido de cargos de confiança e servidores de carreira, equipamentos e tecnologia para garantir o atendimento do cidadão. Nos temas polêmicos, assume posição de cautela. Diz que seu partido não “é religioso, mas tem compromisso com o cristianismo”.
— O jingle serviu para me popularizar, mas nessa eleição será a moldura do quadro. Nossa campanha será focada no conteúdo. O campo de batalhas dessa eleição serão as redes sociais, onde o que vale é o conteúdo — diz Eymael.
Eymael garante que fará uma campanha propositiva, mas justifica que, para falar “do Brasil que querem”, terá que abordar problemas atuais como a violência, a Saúde pública que não funciona e a Educação incapaz de preparar os jovens do país.
LEVY FIDELIX (PRTB): EM DEFESA DO CORTE DE JUROS E DO SALÁRIO FAMÍLIA
VICE: Cel. José Alves
TEMPO DE TV: 45 segundos
O candidato Levy Fidelix, do PRTB, concorre à Presidência da República pela segunda vez e reage ao fato de ter ficado conhecido como o candidato do aerotrem em 2010. Defende propostas como o corte radical dos juros no país para custear gastos com o pagamento de um Salário Família de R$ 724 e imposto zero para medicamentos.
Segundo ele, o Salário Família substituiria o Bolsa Família, mas as pessoas teriam que trabalhar para o Estado para recebê-lo. Por exemplo, no atendimento das crianças em creches, na limpeza urbana, com homens cavando poços e ajudando a recapear as estradas. Fidelix diz que sua principal bandeira será o desenvolvimentismo, com reformas no sistema financeiro-tributário e federativa. Diz que é especialista em infraestrutura. Por isso propôs, na eleição passada, o debate sobre aerotrem, entre outros, como o uso de hidrovias e o resgate das ferrovias.
— Meu Deus, tenho tanto a falar e só o que dizem é: “Esse é o cara do aerotrem”! Eu falo em mobilidade urbana, sou especialista em mobilidade urbana, é dentro desse contexto, não posso ser motivo de galhofa — queixa-se Fidelix.
O candidato do PRTB critica o que considera uma opção da política externa dos governos do PT: priorizar a relação com países como Cuba e Venezuela, em detrimento das relações com Estados Unidos e Inglaterra.
MAURO IASI (PCB): DEFESA DO PODER POPULAR E PROPOSTA ANTICAPITALISTA
VICE: Sofia Manzano
TEMPO DE TV: 45 segundos
Mais à esquerda, a candidatura do professor universitário Mauro Iasi, pelo PCB, atacará o que chama de forma conservadora de fazer política dos três candidatos mais bem colocados nas pesquisas e a “armadilha” do presidencialismo de coalizão, refém do leque de alianças políticas. Ele diz que sua candidatura é a do poder popular.
— Os três candidatos disputam o comando do projeto conservador. O PSDB tem inveja do PT porque não conseguiu levar seu projeto até o fim. O PT, que era mais próximo d classe trabalhadora, tinha chance de romper o modelo econômico e cedeu. Nossa proposta é contra o capitalismo. Recusamos as alternativas do campo burguês — afirma Iasi.
O professor da UFRJ, que em 2006 concorreu a vice-governador de São Paulo na chapa de Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), defende mudanças profundas no sistema político brasileiro. Segundo ele, é preciso garantir a participação direta da população, com a formação de assembleias populares e sem o filtro do poder econômico. A proposta do PCB é uma proposta socialista para o Brasil, que garanta voz e poder de decisão para a classe trabalhadora. Os principais eixos da campanha serão: anticapitalismo e desmercantilização da vida, socialização da economia, ampliação de direitos e poder popular.
LUCIANA GENRO (PSOL): TAXAÇÃO DE PATRIMÔNIO ACIMA DE R$ 50 MILHÕES
VICE: Jorge Paz
TEMPO DE TV: 51 segundos
A candidata do PSOL, Luciana Genro, além de bandeiras da esquerda, vem com um discurso inovador na sua primeira disputa à Presidência pelo partido: a descriminalização da maconha. Segundo ela, os candidatos do PSOL nas últimas eleições — Heloísa Helena e Plínio de Arruda Sampaio — tinham dificuldade de tratar desse tema. Ela não. Além disso, para tentar conquistar o voto da classe média no país, a proposta de taxação de grandes fortunas será focada nos que têm patrimônio acima de R$ 50 milhões. O projeto de Luciana, apresentado em 2008, prevê a taxação a partir de patrimônio acima de R$ 3 milhões:
— O valor de R$ 3 milhões hoje pode ser um apartamento em São Paulo, não é necessariamente um grande acúmulo de riqueza. O que é inegociável é a faixa dos que têm acima de R$ 50 milhões. Muitas vezes as pessoas de classe média e classe média alta se entendem como ricas e acham que o governo do PSOL vai empobrecê-las. E o objetivo não é esse.
Ela diz que o PSOL quer vocalizar a indignação que tomou conta das ruas no ano passado, mostrando algo novo, mas criticando o retrocesso e o continuísmo das candidaturas mais bem posicionadas nas pesquisas:
— Vamos mostrar que é o embate entre o retrocesso (PSDB) e o continuísmo (PT). O que une os três principais candidatos é o sistema político desacreditado e a defesa do modelo econômico que se centra no mercado. A gente não se sente próximo de nenhum.
EDUARDO JORGE (PV): ENTRE IDEIAS POLÊMICAS, A LEGALIZAÇÃO DA MACONHA
VICE: Célia Sacramento
TEMPO DE TV: 1 minuto e 1 segundo
Eduardo Jorge, candidato do PV, tem entre os temas da campanha a defesa da legalização e regulação da maconha, com acesso via Estado. A tese se baseia em estudos recentes sobre o enfrentamento às drogas nos últimos 50 anos. Médico, ele explica a defesa do tema polêmico:
— O PV e eu não queremos estimular o uso, mas reduzir o dano e a criminalidade. A legalização, com regulação, será um golpe sério na economia do crime. Como médico, sei que a maconha é uma droga relativamente mais leve, mas tem 10% de chance de criar dependência. Por isso, defendo que não se deve usar e, se a pessoa for usar, que seja de forma moderada. Além disso, se a pessoa ou família notar exagero e procurar o sistema público de saúde, este deve ajudar e não prender, como é hoje — diz.
O programa do PV propõe outros pontos polêmicos, como a adoção do parlamentarismo e do voto facultativo. O candidato não poupa crítica aos principais adversários, embora admita que são preparados e pertencem a partidos que “fizeram coisas boas, mas que o povo quer mais”.
— Dilma, Aécio e Eduardo são representantes da família socialista; eu também sou socialista. A crítica que o PV faz é que eles são políticos do século XX, não incorporaram na mesma dimensão do PV o respeito aos limites do meio ambiente em cada decisão política — diz.