Dalai Lama não é uma pessoa, e sim um título espiritual concedido a quem segue na linhagem de líder religioso do budismo tibetano. O indivíduo escolhido representaria a reencarnação de Buda na Terra. Entre o século 17 e 1959, os dalai-lamas atuaram também como dirigentes políticos e chefes oficiais do governo do Tibete, então considerado um Estado teocrático.
Atual titular do cargo, Tenzin Gyatso, de 87 anos, divulgou nesta segunda-feira (10) um pedido de desculpa depois que viralizou um vídeo no qual ele aparece puxando o rosto de um menino para beijá-lo na boca (veja mais abaixo).
Na função há 83 anos, Tenzin foi o 14º designado para o posto de Dalai Lama: em 1937, quando tinha 2 anos de idade, monges tibetanos reconheceram-no como a reencarnação do 13º Dalai Lama, Thubten Gyatso.
Em 1940, Tenzin assumiu o trono. Uma década mais tarde, quando tinha 15 anos de idade, viu a China invadir o Tibete. Finalmente, em 1959, após a Revolta Tibetana contra o Partido Comunista chinês, o Dalai Lama se exilou no norte da Índia, onde vive até hoje, no subúrbio de Dharamsala.
Em meio a essa disputa geopolítica, o Tibete jamais chegou a ser reconhecido internacionalmente como independente. A região é considerada uma província politicamente submissa à China.
Até 2011, o Dalai Lama, ainda que em exílio, era considerado chefe de Estado do Tibete. Em março daquele ano, no entanto, Tenzin anunciou que encerraria o papel político dos dalai-lamas, transferindo a função a uma liderança eleita por tibetanos.
Na época, o parlamento local aprovou mudanças na Constituição que transferiram ao primeiro-ministro poderes anteriormente atribuídos ao Dalai Lama.
Em 2014, em entrevista à BBC, Tenzin defendeu a alteração.
"O budismo tibetano não depende de um indivíduo. Há uma organização, com monges muito capazes", afirmou, na época.
O futuro do título de Dalai Lama ainda está em aberto. O que se sabe é que, quando completar 90 anos, em 2025, Tenzin pretende avaliar e consultar lideranças do budismo tibetano sobre a continuidade da instituição.
Formação como monge
Aos 4 anos, Tenzin Gyatso separou-se de sua família (seus pais eram agricultores), para começar sua preparação. Passou, então, a morar no Palácio de Potala, situado na montanha Hongsham, em Lhasa, capital do Tibete.
Aos 6, iniciou um rigoroso processo de educação, que previa aulas de filosofia budista, arte, cultura tibetana, gramática, inglês, astrologia, geografia, medicina, poesia, música, teatro e matemática, entre outras áreas.
Como líder espiritual e político, Dalai Lama Tenzin Gyatso:
visitou diversos países e esteve com outros líderes religiosos, como Papa Paulo VI e João Paulo II;
recebeu prêmios internacionais e deu palestras em diversas partes do mundo sobre paz e budismo;
recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1989, em reconhecimento à sua campanha pacifista para acabar com a dominação chinesa no Tibete;
recebeu da Universidade de Seattle o título de doutor honoris causa, em reconhecimento ao trabalho em difundir a filosofia budista e por seus esforços em busca dos direitos humanos e da paz mundial;
e lançou mais de 100 livros.