Cerca de 50 famílias ganharam acesso à internet e reforma de centro comunitário na Comunidade Passagem da Negra, na Zona Rural de Campo Maior, Norte do Piauí, nesta segunda-feira (17). O local ficou nacionalmente conhecido após reportagem do Fantástico que mostrava crianças atravessando em boias para ir a escola.
A situação sensibilizou o gerente de comunicação de uma empresa que trabalha com serviço de internet via satélite, Marcelo Juliato, que entrou em contato com o coordenador do centro comunitário, Jeferson David, para tentar ajudar a comunidade de alguma forma.
"A gente não pode construir uma ponte física, mas uma virtual, que pode proporcionar educação para essas crianças, enquanto elas não conseguirem atravessar o rio", contou Marcelo Juliato.
A empresa realizou a reforma do centro comunitário, ampliando o espaço que contava com uma sala de aula e área, para duas salas, uma para aulas do Ensino para Jovens e Adultos (EJA) e outra para informática, banheiros, cozinha e espaço para eventos.
"A sala de informática tem seis computadores e acesso à internet. Fizemos também uma parceria com o Sebrae para capacitar alguns moradores para a criação de uma horta comunitária na área externa do centro. Essa horta foi cultivada, eles fizeram inclusive uma estufa para o plantio", explicou Marcelo Juliato.
A diretora de recursos humanos da empresa, Valéria Motta, contou ao G1 que os proprietários de restaurantes da região manifestaram a intenção de comprar os vegetais cultivados pela comunidade.
"O Sebrae nos ajudou na realização dessa horta e ficamos felizes de que com isso pudemos ajudar a gerar receita para esse local, que sofre com essa questão do acesso", disse Valéria Motta.
Problema continua
O professor Jeferson David afirmou que a reforma do centro é algo a ser comemorando, mas que não é uma solução para os problemas da Passagem da Negra. Segundo os moradores, a falta da ponte já dura mais de 100 anos.
"Vamos poder desenvolver ações para toda a comunidade. Quando as crianças não puderem atravessar o rio, vamos fazer atividades educativas com elas. Mas a gente ainda quer a ponte, aqui moram idosos, pessoas que trabalham do outro lado e precisam fazer essa travessia", explicou Jeferson.
A professora Dejane Coelho é mãe de uma criança portadora de autismo e conta que passa pelo mesmo sofrindo que os demais moradores da região. Ela comemorou a reforma do Centro Comunitário, mas destacou que a luta pela ponte vai continuar.
"Imagina o sofrimento e o medo que eu passo, porque o meu filho tem transtorno e pode cair no rio. Semana passada presenciei uma mãe operada com uma recém-nascida usando uma boia para atravessar. Será que precisa acontecer uma tragédia para a ponte sair?", declarou.
Acesso difícil
Atravessando o Rio Longá, que separa a comunidade de Campo Maior, a distância até Passagem da Negra é de 8 km, o outro caminho até a cidade, usado durante o período de cheia, é de 30 km, mas o transporte escolar não faz esse percurso, somente a travessia pelo rio, quando o nível está baixo. No período de cheia, o ônibus para do outro lado, obrigando os alunos a atravessarem de boia.