A CPI do Senado que investiga a espionagem dos Estados Unidos no Brasil aprovou nesta quarta-feira (9) pedido para o governo russo autorizar o ex-colaborador da Agência de Segurança Nacional (NSA) Edward Snowden a participar de videoconferência com senadores. Responsável pelo vazamento de documentos que mostram as ações de inteligência americana, Snowden está mantido na Rússia sob asilo político.
Alguns dos documentos apontam espionagem de comunicações do governo brasileiro, incluindo a presidente Dilma Roussef e assessores próximos a ela e a Petrobras. No último domingo, o Fantástico mostrou apresentação de uma agência canadense, que tinha como alvo o Ministério de Minas e Energia.
A aprovação do requerimento ocorreu após audiência pública com o jornalista Glenn Greenwald, que tem publicado reportagens a partir de documentos cedidos por Snowden.
De acordo com o relator da CPI, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), o pedido à Rússia será feito porque somente Snowden possui informações com o nível de detalhamento que os senadores querem. Desde que recebeu asilo político da Rússia, em agosto, Snowden não é visto em público.
Ele não pode dar informações aos parlamentares brasileiros sem autorização da Rússia.
Informações insuficientes
Ferraço disse que tinha "expectativa muito maior" em relação às informações que seriam dadas por Glenn Greenwald nesta quarta no Senado.
"São informações insuficientes, e o que ele nos disse aqui é que somente o Snowden tem esse nível de informação. A presidente foi violada? Foi. Foi violada em quê? A Petrobras foi violada? Foi. De que jeito? A partir daí nós vamos solicitar à missão diplomática da República da Rússia em Brasília que nós possamos fazer uma teleconferência com o Snowden", disse Ferraço.
Para o jornalista, parte do trabalho investigativo precisa ser feito pelo próprio governo brasileiro.
"Há responsabilidade dos jornalistas para informar o público, e há a responsabilidade do governo para fazer investigação. E acho que isso precisa ficar separado. Mas sem a nossa reportagem, ninguém vai saber nada [...]. É uma responsabilidade do governo para fazer investigação e para saber mais", disse Greenwald.
Durante a audiência pública, o jornalista norte-americano afirmou que o governo brasileiro deveria dar "proteção" a Edward Snowden se tiver interesse em obter mais informações.
"Se o governo quer informações, deve proteger ele [Snowden] para que tenha liberdade para trabalhar. Ele está muito limitado para falar e corre o risco de os Estados Unidos o capturarem. Os governos estão se dizendo gratos por terem essas informações, mas não se dispõem a proteger quem passou esses dados", disse.
A CPI da Espionagem também aprovou convite para que compareçam ao Senado o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra, e o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), João Batista de Rezende. Na próxima semana, a CPI deverá ouvir representantes de empresas de telecomunicações.