A cerimônia de cremação do corpo do advogado e ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, de 79 anos, terminou por volta das 10h15 desta sexta-feira (21) no Cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.
Márcio Thomaz Bastos morreu na manhã de quinta-feira (20), aos 79 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, após problemas no pulmão. Bastos foi internado na terça-feira (18) para tratamento de descompensação de fibrose pulmonar, segundo boletim divulgado pelo hospital.
A cerimônia de despedida começou por volta das 9h50, a portas fechadas, e contou com a presença de amigos, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e de familiares de Bastos. Lula disse que Bastos foi "o mais importante criminalista do país". "Mas acho que a gente tem que ver o Márcio não como advogado, como ser humano, como uma pessoa solidária, como um democrata, que lutou incansavelmente para que a gente tivesse nesse país um estado de direito", disse na saída do cemitério.
O ex-presidente contou que alertou o amigo em relação à tosse constante. "Acho que morreu, apesar dos 79 anos, precipitadamente. Eu tinha falado com ele para ele cuidar da tosse, porque uma pessoa de 79 anos com tosse pode ganhar pneumonia, uma coisa mais grave, mas ele trabalhava demais", lamentou.
A viúva Maria Leonor de Castro Bastos chegou ao cemitério de cadeira de rodas e deixou a cerimônia de muletas, amparada por amigos e parentes. A administração do cemitério informou que, a pedido da família, o ex-ministro será cremado de beca, traje usado por ele ao longo de toda a carreira.
O velório aconteceu da tarde desta quinta-feira (2) até as 8h30 desta sexta na Assembleia Legislativa de São Paulo, na Zona Sul da capital paulista.
Na quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff foi ao velório na Assembleia Legislativa e conversou com a viúva. Também estavam presentes o ministro Aloízio Mercadante, o prefeito de São Bernardo e ex-ministro Luiz Marinho e o governador eleito de Minas e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Fernando Pimentel.
Ainda no velório, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que Dilma pediu que ele falasse em nome da Presidência lamentando a morte do companheiro. "Perdemos um grande amigo, uma pessoa sem sombras de dúvida insubstituível", disse Cardozo.
Dilma ficou por cerca de uma hora no velório. Logo após sua saída, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à cerimônia, onde acompanhou um momento de oração conduzido por um padre e fez um breve discurso em homenagem ao ex-ministro.
"Márcio, todos nós te devemos alguma coisa, sobretudo a solidariedade que você prestava a todos nós e a todo momento, sobretudo o amor que você tinha pela democracia. Se Deus te chamou, meu querido, descanse em paz, porque você merece."
O vice-presidente, Michel Temer, também esteve no velório logo no começo da cerimônia e lamentou também a morte de Samuel Klein. "São duas perdas lamentáveis: de um lado, a figura do Márcio Thomaz Bastos, que produziu muito pela advocacia, e de outro, o Samuel Klein, que produziu muito pelo comércio, portanto, para o desenvolvimento do Brasil", disse Temer.
No velório, amigos lamentam
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, esteve no velório e foi um dos amigos que lamentaram a morte de Márcio Thomaz Bastos. "O Márcio sabia ouvir e captar um pouco a alma dos clientes", disse Kakay.
Já o advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira relembra os embates com o amigo durante julgamentos, sobretudo no caso do jornalista Pimenta Neves. Segundo Mariz, era um oponente duro. "Tanto que eu perdi", afirma o advogado, que atuou como defensor do réu.
O sobrinho e também companheiro de profissão José Diogo Bastos Neto diz que Bastos trabalhou até mesmo do hospital. "Mesmo lá combalido na cama, na máscara de oxigênio, ele ligava para os advogados para irem lá pra ele dar orientação. Nunca perdeu a lucidez e estava preocupado com seus clientes, que foi a marca dele a vida inteira", conta o sobrinho.
Márcio Thomaz Bastos, defensor de José Roberto Salgado, ex-diretor do Banco Rural, no julgamento do mensalão, em 8 de agosto de 2012 (Foto: Nelson Jr./SCO/STF)
Trajetória
Um dos advogados criminalistas mais influentes do país, Bastos foi convidado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para compor a equipe do primeiro mandato. Comandou o Ministério da Justiça entre 2003 e 2007.
Mesmo depois de deixar o ministério, continuou em evidência ao atuar em casos de grande repercussão nacional. Atuou, por exemplo, no julgamento do processo do mensalão, no Supremo Tribunal Federal, em 2012. Na ocasião, defendeu o ex-vice-presidente do Banco Rural, José Salgado.
Durante o período do julgamento, entrou com reclamação contra o então presidente do STF, Joaquim Barbosa, questionando o fato de Barbosa não ter levado pedidos da defesa dos réus para análise do plenário do tribunal.
Também foi o responsável pela defesa do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que responde a processo por suspeita de participação em esquema de jogos ilegais.
Bastos atuou ainda na defesa do médico Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão por 48 ataques sexuais a 37 vítimas.
A acusação dos assassinos de Chico Mendes, do cantor Lindomar Castilho e do jornalista Pimenta Neves são outros trabalhos de repercussão nacional no currículo do ex-ministro. Em 2012, Bastos foi contratado pelo empresário Eike Batista para defender o filho Thor Batista, que respondia por um atropelamento.
Nos últimos dias, articulava também as defesas das empresas Odebrecht e Camargo Correa dentro do processo da Operação Lava Jato.
Perfil de Márcio Thomaz
Márcio Thomaz Bastos era paulista da cidade de Cruzeiro. Formou-se em 1958 na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
Entre os anos de 1983 e 1985 presidiu a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Paulo. Neste período, foi ligado ao movimento Diretas Já, que reivindicava voto direto para presidente da República.
Em 1990, após a eleição do presidente Fernando Collor, integrou o governo paralelo instituído pelo Partido dos Trabalhadores como encarregado do setor de Justiça e Segurança. Em 1992, participou ao lado do jurista Evandro Lins e Silva da redação da petição que resultou no impeachment de Collor.
É fundador do movimento Ação pela Cidadania, juntamente com Severo Gomes, Jair Meneghelli e Dom Luciano Mendes de Almeida. É fundador do Instituto de Defesa do Direito de Defesa.