O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central suavizou um pouco o discurso contido na ata de sua última reunião, realizada no início de abril, quando a taxa básica da economia brasileira avançou de 10,75% para 11% ao ano - um aumento de 0,25 ponto percentual. A ata foi divulgada nesta quinta-feira (10) pelo BC.
No documento divulgado nesta quinta, o BC retirou uma frase que aparecia na ata da reunião anterior. A autoridade monetária retirou a análise de que o BC "entende ser apropriada a continuidade do ajuste das condições monetárias ora em curso", feita em fevereiro. Em seu lugar, afirmou apenas que o "Copom entende ser apropriado ajustar as condições monetárias [política de juros]".
Frase divulgada após a reunião do Copom
O entendimento de que o BC está adotando um discurso menos duro também já havia sido feito pelos analistas do mercado financeiro, com base na frase divulgada pelo BC logo após a última reunião do Copom, na semana passada.
Ao anunciar a elevação dos juros para 11% ao ano, no início de abril, o BC informou que "irá monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".
Nos comunicado da reunião anterior, de fevereiro, o recado do BC era um pouco mais forte. A instituição informava que estava "dando prosseguimento" ao processo de ajuste da taxa básica de juros, iniciado na reunião de abril de 2013 e que, por isso, havia decidido elevar os juros para 10,75% ao ano em fevereiro.
Expectativa do mercado financeiro
A expectativa da maior parte dos analistas do mercado financeiro, até o momento, é de que o Banco Central promoverá um novo aumento nos juros básicos da economia brasileira no fim de maio – quando se reúne novamente o Copom, responsável por fixar os juros básicos da economia. A previsão é de outra elevação de 0,25 ponto percentual, para 11,25% ao ano.
Para o mercado financeiro, este deverá ser o último aumento de juros deste ano e, portanto, também do governo da presidente Dilma Rousseff. Em 11% ao ano, atual patamar, os juros já estão acima do nível registrado no início de seu mandato – apesar de terem atingido a mínima histórica de 7,25% ao ano entre outubro de 2012 e abril do ano passado.
IPCA de março e metas de inflação
Essas sinalizações mais suaves do BC sobre a política de juros, porém, foram feitas na semana passada, antes da divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, ocorrida nesta quarta-feira (9) pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE). O índice somou 0,92%, o maior para meses de março desde 2003. Em 12 meses, a alta acumulada é de 6,15%, acima dos 5,68% relativos aos 12 meses anteriores.
Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Para 2014 e 2015, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Política monetária 'vigilante'
Apesar de ter retirado, na ata do Copom de abril, de que entendia ser "apropriada a continuidade" do processo de alta dos juros, o Banco Central manteve a avaliação de que a política monetária (de definição dos juros básicos da economia para controlar a inflação) deve se manter "especialmente vigilante" para garantir que pressões detectadas em horizontes mais curtos não se propaguem para horizontes mais longos.
Em outro parágrafo, porém, mais adiante no texto, o BC retirou a palavra "especialmente", mantendo apenas o termo "vigilante'. "O Copom destaca que, em momentos como o atual, a política monetária deve se manter vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação, como o observado nos últimos doze meses, persistam no horizonte relevante para a política monetária", informou a autoridade monetária.
Altas de juros já implementadas
Segundo o BC, as informações disponíveis sugerem que os impulsos monetários (aumentos de juros já feitos, desde abril do ano passado, quando a taxa estava em 7,25% ao ano) têm se propagado normalmente por intermédio dos principais canais de transmissão e que assim tendem a continuar nos próximos trimestres.
"Nesse sentido, como os efeitos das ações de política monetária [elevação dos juros] sobre a inflação são cumulativos e se manifestam com defasagens, o Comitê entende que parte significativa da resposta dos preços ao atual ciclo de aperto monetário ainda está por se materializar. Além disso, é plausível afirmar que, na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária tendem a ser potencializados", avaliou o Banco Central.