Subiu de tom o conflito virtual e judicial entre a Doyen Sports e "Football Leaks". Depois de divulgar contratos e documentação oficial de vários negócios da empresa, com sede fiscal em Malta, o site decidiu tornar público, na íntegra, o contrato assinado em 2012 entre a empresa Neymar Sport Marketing e a Doyen Sports. O veículo divulgou também alguns dos contratos publicitários, intermediados pela Doyen, do astro brasileiro.
A publicação acontece num momento em que, segundo o GloboEsporte.com apurou, a Doyen e a empresa de Neymar estão perto de renovar o atual contrato dos direitos de imagem do atleta para fora do Brasil. O conteúdo revelado no “Football Leaks”, por si só, não demonstraria irregularidades, mas este é mais um de vários casos judiciais que a Doyen tem pendentes.
Dos casos mais famosos, está a transferência de Marcos Rojo do Sporting para o Manchester United. O clube português alega que a Doyen forçou a venda do atleta para a equipe inglesa, após ter investido no defensor. Outro ponto é o ingresso do fundo de investimento contra a FIFA após a entidade máxima do futebol proibir a detenção do passe de um jogador por terceiros.
A empresa já denunciou o site com servidor russo, mas escrito em português, do qual se desconhece o autor, junto das autoridades portuguesas. O caso segue sendo investigado em segredo de justiça. Do lado de Neymar, o bom rendimento do atleta dentro de campo contrasta com o envolvimento do seu nome em vários casos na justiça brasileira e espanhola.
- Nós já comunicamos a Doyen solicitando esclarecimentos e justificativas sobre a divulgação dos contratos. Não temos mais nada a dizer até esclarecer o que aconteceu - afirmou, por telefone, a assessoria de Neymar ao GloboEsporte.com.
Do outro lado, a assessoria da Doyen não comenta o conteúdo divulgado online, mas fez saber que os responsáveis da empresa estão sendo alvo de extorsão para evitar a publicação dos documentos.
- A contínua divulgação, mesmo após um "cirúrgico" intervalo, só acontece porque a Doyen Sports não cedeu às pressões e pretensões dos autores do Football Leaks, para não utilizar termos que mais se adequam à situação - pode-se ler num comunicado enviado pela Doyen a esta reportagem.
Contrato milionário impulsiona a imagem de Neymar na Ásia
No site do “Football Leaks” é possível visualizar o conteúdo do contrato assinado em 2012, mais precisamente, no dia dois de agosto, em Londres, pelo pai de Neymar, Neymar da Silva Santos, e o presidente do Doyen, o português, Nélio Lucas. Os dois, que além dos negócios em comum, mantêm uma amizade, se encontraram durante as Olimpíadas de Londres, quando Neymar também se encontrava na cidade, representando a seleção brasileira.
Segundo o documento divulgado online nesta quinta-feira, a empresa do atleta recebeu € 6 milhões (R$ 24mi) da Doyen, que em troca ficou com o direito de gerir e promover a imagem do camisa 10 da Seleção, com exclusividade, “em todos os países do continente asiático, Angola, Rússia, México e Turquia” e, sem exclusividade, no Reino Unido e nos Estados Unidos. As parcelas foram divididas em 60% dos lucros desses países para a Doyen, 30% para a empresa gerida pelos pais de Neymar e 10% para o Santos. No entanto, no caso do Reino Unido (contrato válidos só até 31 de agosto de 2015 para este território) e dos EUA, a porcentagem da Doyen caía para 30 e 20% respetivamente. Os € 6 mi foram depositados numa conta bancária da empresa de Neymar alojada no Banco Santander de Madri, os dados foram inclusive divulgados online. De acordo com o documento, a partir de 1º de setembro de 2015 até agosto de 2017, a empresa presidida por Nélio Lucas passaria a lucrar apenas 20% de todos valores gerados pela imagem de Neymar no território acima descrito, mesmo daqueles que não tenham sido gerados diretamente pela Doyen. A empresa esportiva ficou também com o direito de usar a imagem do atleta para a publicidade da rede de hotéis Rixos na Turquia, Dubai, Cazaquistão, Croácia, Emirados Árabes-Unidos e Líbia.
Hotéis 5 estrelas e viagens em primeira classe
Algumas exigências da empresa de Neymar também estão detalhadas no contrato. Por exemplo, ficou acertado que não seriam ouvidas pela Doyen propostas comerciais inferiores a € 300 mil (R$ 1.3mi). Em caso de viagens, a empresa com sede em Malta ficaria encarregada de disponibilizar “quatro passagens áreas em primeira classe”, à sua escolha “quanto a companhia aérea” e custear as despesas de hospedagem “em hotel 5 estrelas, alimentação e transporte terrestre” para o atleta e a equipe da NR Sports.
As duas partes aceitaram ceder “a título de doação” (portanto livre de Imposto de Renda) 2,5% da receita líquida das suas porcentagens de lucros. O “Football Leaks” também tornou público detalhes do contrato assinado em março de 2015 entre Neymar e o grupo Amaya. De acordo com o documento, a empresa pagou € 2 milhões anuais (R$ 8mi) a Neymar (dos quais 400 mil euros ficaram para a Doyen) para que o jogador promova o jogo PokerStars. O camisa 11 do Barcelona ficou obrigado a promover o jogo nas suas contas Twitter e Facebook (10 posts ao ano em cada uma delas). A empresa de video game Konami também selou um recente vínculo com Neymar, que recebeu € 750 mil (R$ 3mi) - dos quais € 150 mil ficaram com a Doyen -, para liberar o uso do seu nome e imagem na venda e comercialização dos produtos da empresa, o Pro Soccer Evolution é um deles.
A Doyen não garante a total transparência dos conteúdos divulgados, alegando que alguns “são verdadeiros, outros manipulados no sentido de aumentar a curiosidade da imprensa e do público”. A Doyen, como intermediária e financiadora de vários negócios no futebol mundial, tem sido a grande visada na filtração de documentos do “Football Leaks”. A grande dúvida é como é que estes contratos, cartas, emails, documentos oficiais chegaram à posse dos autores do site. A Doyen diz ter sido alvo “de um ataque” aos seus servidores. Por outro lado, os autores negam essa acusação e alegam ter ainda muito mais material para divulgar em breve.
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