A vereadora Ângela Guadagnin (PT), conhecida nacionalmente por protagonizar o episódio conhecido como 'dança da pizza' quando era deputada federal em 2006, usou a tribuna da Câmara de São José dos Campos (SP), para criticar o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, no processo que resultou na prisão dos réus do mensalão e defender os condenados, membros do mesmo partido.
A manifestação da parlamentar, que é lider da bancada governista em São José, ocorreu na noite desta terça-feira (19), durante a sessão na Câmara, onde atua desde 2008. Ela quebrou o silêncio sobre o tema, após evitar falar do assunto por mais de sete anos.
Para ela, os petistas foram 'condenados pela elite brasileira e pela mídia muito antes do processo'. Ela acusou o ministro de atos de excessão, comparando as decisões do STF às do regime militar.
"Em um Estado democrático de direito, enquanto um processo é julgado, encerrado, os recursos têm que ser acatados, analisados, julgados e a pessoa não pode ser condenada. Esse pessoal foi condenado muito antes, condenado por uma elite brasileira, pela mídia, muito antes de iniciar o processo. Muito antes ainda deles serem julgados e condenados", afirmou em discurso na tribuna.
Ela avaliou que as prisões representam um erro, já que há embargos infringentes em parcela dos casos. Os recursos levarão a um novo julgamento em 2014.
A vereadora foi procurada pelo G1 na tarde desta quarta (20), mas não atendeu as ligações em seu celular pessoal e ninguém foi localizado no gabinete para comentar as declarações.
'Dança da Pizza'
Quando era deputada federal, Ângela Guadagnin comemorou a a absolvição do deputado João Magno (PT-SP), acusado de ter recebido dinheiro do mensalão. O caso ocorreu em março de 2006. A petista se levantou da cadeira onde estava à esquerda do plenário e dançou para manifestar sua alegria. Logo após o episódio, Angela chegou a pedir desculpas pelo ato, mas não conseguiu se reeleger para o cargo. Ela entrou para a Câmara de São José dos Campos em 2008 e está no seu segundo mandato. Ângela já foi prefeita da cidade de 1993 a 1996.
Prisões
O Supremo Tribunal Federal (STF) condenou 25 réus no julgamento do mensalão em 2012. Doze condenados tiveram os mandados de prisão decretados na última sexta-feira (15): cinco – entre eles José Dirceu e Delúbio Soares – estão presos no regime semiaberto, seis estão em regime fechado e um – Henrique Pizzolato – fugiu para a Itália e é considerado foragido. Outros sete condenados – entre eles Roberto Jefferson – podem ter a prisão pedida a qualquer momento, e três aguardam a execução de penas alternativas. Do total, três réus ainda não podem ser presos porque têm direito a recursos em todos os crimes pelos quais foram condenados.
No julgamento realizado em 2012, sete anos após o escândalo estourar no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o STF considerou que um grupo comandado por José Dirceu, então chefe da Casa Civil, operou um esquema de compra de votos no Congresso (saiba as conclusões do julgamento).
Depois de uma fase em que as penas foram definidas ainda em 2012 (dosimetria) e um período em que os réus puderam apresentar recursos contra as decisões, o STF julgou esses recursos até setembro, aceitando parte deles e rejeitando outros. No dia 13 de novembro, o tribunal decidiu que já era possível fazer cumprir as penas definitivas (transitadas em julgado), mesmo que o réu ainda pudesse recorrer de parte das condenações.