Chove muito em Praia Grande, no litoral de São Paulo. A expectativa pela chegada de Neymar é grande. É dia da inauguração do instituto que leva o seu nome e vai ajudar aproximadamente 10 mil pessoas carentes na região. Nota-se que o craque está por perto antes mesmo de ele aparecer. Seus representantes se movimentam, a segurança também, o público fica agitado... Natural diante do tamanho do que ele representa. Afinal, há algum tempo o craque deixou de ser apenas um jogador de futebol para se tornar uma celebridade, uma empresa. Ainda há muito a percorrer até o topo do mundo, é verdade, mas o atacante está mais maduro. A ponto de reconhecer os obstáculos às metas traçadas por ele.
- Eles estão acima de qualquer jogador hoje. É difícil. Com os dois na briga acho complicado.
Eles são Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. E complicado, na análise de Neymar, é conseguir ser eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa enquanto os dois concorrentes estiverem jogando.
- Não sei se vou chegar ao nível dos dois. Mas espero cada vez mais me superar. Eu quero ser sempre melhor do que eu mesmo - reconheceu o capitão da seleção brasileira.
Em meio à inauguração do Instituto Projeto Neymar Jr., o atacante parou por dez minutos num camarim improvisado para falar sobre a temporada de 2014, reconhecer que o futebol brasileiro está atrasado (concordando com Kaká) e, claro, comentar sobre a derrota por 7 a 1 para a Alemanha, na semifinal da Copa do Mundo no Brasil - machucado, Neymar não atuou.
- É igual quando você toma uma bronca do pai. Você esquece que apanhou aquele dia, mas não esquece a educação que ele te deu, a informação que ele te passou - exemplificou Neymar.
Confira abaixo a íntegra da entrevista com o craque do Barcelona:
GloboEsporte.com: você acaba de inaugurar o Instituto Projeto Neymar Jr. O que isso representa na sua vida?
Neymar: é um sonho meu e da minha família. Estou muito feliz e orgulhoso de ver isso aqui tão bonito para poder ajudar as pessoas.
E dos seus sonhos de criança, quais você já realizou e quais faltam realizar?
Meus sonhos de criança... já realizei muitos. E os mais importantes: dar uma casa para a minha família, se tornar um jogador de futebol e montar um instituto. Agora é ter cabeça no lugar e foco para correr atrás de outros.
E no futebol?
Tem muita coisa ainda pela frente. Tenho 22 anos. Sei, sim, que fiz muita coisa pelo futebol, mas sei também que tenho muita coisa para fazer ainda. Estou muito feliz por tudo que venho fazendo e sei que posso dar muito mais ainda.
Antes do seu acerto com o Barcelona algumas pessoas diziam que você precisaria ir à Europa para evoluir, outras achavam cedo demais. Quem tinha razão?
Tudo tem o seu momento. E o meu momento foi quando eu saí. Não me arrependo. Cresço a cada dia, a cada temporada. E acho que é uma experiência boa. Fui muito feliz no Santos, fiquei até quando o meu coração mandou. Fui procurar novos ares, desafios maiores e espero que possa continuar feliz.
Qual o balanço que você faz de 2014?
Foi um ano de muito aprendizado, por tudo que aconteceu. Tive alegrias, tristezas. Sei que tenho de ser cada vez melhor, não posso parar pensando que está bom. Tenho que buscar mais e mais. Resumindo, essa foi a lição de 2014.
Por tudo que você representou e viveu Copa do Mundo do Brasil, acha que sua preparação para 2018 tem de ser ainda mais forte?
A experiência que tive na Copa do Mundo foi muito grande. Futebol não para de crescer, de ficar cada vez mais disputado. É o que levo comigo. Para a Copa do Mundo de 2018, eu sei que tenho de estar muito mais preparado do que estive para a de 2014.
Acha que a cobrança vai ser maior em cima de você?
Pressão sempre vai ter. Para jogador de futebol, então, nem se fala. Eu sempre me cobrei muito, mas tem um cara que me cobra muito mais: meu pai. A cobrança que ele faz em mim é muito maior do que qualquer coisa. Mas eu me sinto tranquilo, à vontade para fazer o meu trabalho.
Neymar atende a fã que conseguiu ter o privilégio de entrar no camarim do craque do Barcelona (Foto: Marcos Ribolli)
O Kaká disse recentemente, ao sair do São Paulo, que o futebol brasileiro está atrasado? Você concorda com a opinião dele?
Concordo. Creio que nós temos de dar uns passos para frente ainda. Estamos caminhando um pouco devagar em relação ao futebol, na questão tática, em tudo. Temos de aprender muito mais. E rápido, para não ficarmos para trás.
Aprender de que jeito?
Escutando, estudando, vendo quem é o melhor. E tendo humildade.
Falando da sua carreira, é possível ser eleito o melhor do mundo enquanto Messi e Cristiano Ronaldo estiveram atuando em alto nível?
Não sei se é possível. São dois craques. Um que chamo hoje de amigo (Lionel Messi). Eles estão acima de qualquer jogador hoje. É difícil. Com os dois na briga, eu acho complicado.
Mas se acha com capacidade de chegar ao nível deles?
Tenho capacidade de fazer muito coisa. Não sei se vou chegar ao nível dos dois. Mas espero cada vez mais me superar. Eu quero ser sempre melhor do que eu mesmo.
Por que você acha que foi escolhido pelo Dunga como capitão da seleção brasileira?
Não sei, não sei... Acho difícil responder isso. Não gosto de falar das minhas qualidades e dos meus defeitos. Se ele me escolheu, tem seus motivos. Agradeço a confiança do Dunga. Estou muito feliz e espero exercer esse papel tão importante muito bem.
Você já reencontrou parceiros da Copa do Mundo no Brasil. A derrota para Alemanha é algo superado ou vocês sempre lembram?
- É um assunto superado, mas temos de manter a humildade e lembrar, sim. Porque é uma coisa que nos faz aprender. É igual quando você toma uma bronca do pai. Você esquece que apanhou aquele dia, mas não esquece a educação que ele te deu, a informação que ele te passou.