RIO - O dono da Delta Fernando Cavendish e o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foram condenados nesta quarta-feira por lavagem de dinheiro e associação criminosa no processo da Operação Saqueador, que apurou a lavagem de dinheiro da empreiteira. O juiz Marcelo Bretas estabeleceu uma pena de quatro anos, dois meses e dez dias para Cavendish e de nove anos e seis meses para Cachoeira.
A pena de Cavendish foi atenuada pelo fato de ele ser réu confesso e ter oferecido mais de R$ 400 milhões à Justiça Federal como forma de reparar o dano. Na sentença, o juiz fala que o empreiteiro era o principal líder do esquema criminoso.
Fernando Cavendish na Polícia Federal - Paulo Nicolella / Agência O Globo
"Quanto aos motivos que levaram à prática criminosa, chama atenção a grande quantidade de dinheiro de origem ilícita que o condenado FERNANDO CAVENDISH buscou lavar, através de muitas operações fraudulentas. As circunstâncias em que se deram as práticas de lavagem de capitais, além das altas cifras envolvidas, até por envolverem superfaturamento de obras públicos, desviando recursos que poderiam ser destinados a outros fins sociais, são também perturbadoras e revelam desprezo pelas instituições públicas", diz Bretas na sentença.
Quanto a Cachoeira, o juiz diz que "sua culpabilidade era de extrema relevância, haja vista o volume expressivo de valores que ocultou através de empresas constituídas especificamente para este fim".
Ao todo, 15 pessoas foram condenadas. Entre elas, está também o empresário Adir Assad e seu sócio, Marcelo Abbud, foram condenados a nove anos e seis meses de prisão. Oito pessoas foram absolvidas.
A denúncia da Operação Saqueador, considerado o processo-mãe da Lava-Jato no Rio, afirma que, para desviar aproximadamente R$ 370 milhões dos cofres públicos, a Delta utilizou 18 empresas de fachada e firmou diversos contratos fraudulentos, que não apresentaram qualquer causa econômica ou ligação direta com as obras efetivadas. As empresas fantasmas por meio das quais a lavagem de dinheiro era feita eram de Assad e Carlinhos Cachoeira.
Os recursos ilicitos eram usados para pagar propina a políticos. Em depoimento a Bretas, em agosto do ano passado, Cavendish confessou que pagou propina ao ex-governador Sérgio Cabral (MDB) para participar das obras de reforma do Maracanã. O emedebista, no entanto, não é réu nesta ação, que não visou o crime de corrupção, mas de lavagem de dinheiro por parte da empreiteira.
De acordo com o empreiteiro, a propina foi paga em espécie ao longo da execução da obra. A Delta deixou o consórcio em 2012, em meio ao escândalo da CPI do Cachoeira.
- Fui a ele (Cabral) perguntar se minha empresa poderia participar da obra do Maracanã, que vinha sendo conduzida pela Odebrecht. Nesse momento, o então governador entendeu meu pedido e disse claramente que tinha acerto de 5% de pagamento de propina - contou Cavendish a Bretas e, dizendo que informou a uma pessoa de sua confiança que ela seria procurada por Carlos Miranda, apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como operador do ex-governador, que informaria o valor a ser pago. - Foi um pagamento ao longo da execução da obra, da qual nos afastamos por conta da crise. Pagamento se deu ao longo da obra.
Cachoeira e Cavendish chegaram a ser presos durante a deflagração da Operação, em junho de 2016. O empreiteiro ficou em prisão domiciliar, mas foi liberado da medida em fevereiro deste ano por Bretas. Cavendish responde a outro processo junto à 7ª Vara Federal Criminal do Rio, desta vez junto com Cabral, sobre fraudes nas licitações para a reforma do estádio do Maracanã para a Copa de 2014 e para as obras de urbanização do programa PAC-Favelas, além do superfaturamento e da formação de cartel para obras públicas estaduais financiadas pela União.