Promotores do MP de Três Passos concedem entrevista
Durante a coletiva de imprensa que divulgou as denúncias do Ministério Público sobre o caso Bernardo, na tarde desta quinta-feira (15), a promotora Dinamárcia Maciel afirmou que o pai do menino, Leandro Boldrini, deixava que ele comesse no prato do cachorro da família. Emocionada, a mulher detalhou os maus tratos praticados dentro da casa onde a criança de 11 anos morava em Três Passos, na Região Noroeste do Rio Grande do Sul. O menino foi encontrado morto no dia 14 de abril, enterrado em uma cova rasa na cidade de Frederico Westphalen, no Norte do estado.
Imagem: Estêvão Pires/G1Promotores do MP de Três Passos concedem entrevista
"Leandro deixava que ele [Bernardo] comesse no prato do cachorro. E achava graça disso", disse. De acordo com a promotora, "Há muitos indicativos de frieza. Eles [casal] foram para uma festa em Três de Maio, no dia seguinte. Enfim", acrescentou a promotora, visivelmente emocionada. Ainda de acordo com Dinamárcia, o homem chamava o filho de "animal".
Ainda sobre o ambiente dentro da casa dos Boldrini, a promotora trouxe novos relatos de testemunhas a respeito da relação entre Leandro e Graciele. “Nós temos declarações de uma pessoa que trabalhava na casa, que mais de uma vez escutou o Leandro e a Graciele falando, mais de uma vez, que se fulano ou ciclano estavam falando mal dele, "a gente paga para matar". É claro que nós temos a lamentar uma omissão verificada com parte de pessoas que depois contribuíram”, completou. saiba mais Pai e madrasta do menino Bernardo são indiciados por homicídio Polícia pede à Justiça quebra de sigilo do caso Bernardo Caso Bernardo: confissão de amiga de madrasta foi gravada Deputado quer mudar estatuto da criança com Lei Bernardo Polícia afirma que pai tem participação na morte de Bernardo Leia mais sobre Caso Bernardo Uglione Boldrini
Dinamárcia relembrou o momento em que Bernardo foi até o Ministério Público pedir para que tirassem sua guarda do pai. Segundo a promotora, durante conversa que aconteceu em janeiro, o menino sentou no seu colo e pediu ajuda.
Imagem: Divulgação
“Esse menino tinha tanta necessidade de afeto que ele sentou no meu colo. E eu mostrei a pasta com os arquivos, que eu tinha havia um mês. Quando ele me disse que queria outra família, eu nem evitei. Eu pensei que tamanho desamor deveria ser investigado”, contou.
Em audiência em 31 de janeiro, no entanto, o pai Leandro entrou em consenso com a Justiça e prometeu dar a Bernardo a chave de casa, um cachorro e outros pedidos, além da promessa de melhorar o ambiente familiar. “Ele disse que ia tentar se reconciliar com o filho. Mas, contra psicopatas, não há rede de prevenção imune”, salientou Dinamárcia.
Imagem: Reprodução/FacebookClique para ampliar O MP denunciou o pai Leandro Boldrini, a madrasta Graciele Ugulini, a assistente social Edelvânia Wirganovicz e o seu irmão, Evandro Wirganovicz. O pai, a madrasta e a assistente social responderão por homicídio quadruplamente qualificado (motivos torpe e fútil, emprego de veneno e recurso que dificultou a defesa da vítima) e ocultação de cadáver. Evandro também foi acusado de envolvimento no assassinato e ocultação de cadáver. O pai foi denunciado, ainda, por falsidade ideológica.
O MP sustentou ter elementos que comprovam que Leandro Boldrini foi o “patrocinador” do crime, como interceptações telefônicas e laudos periciais. "Ele tinha o domínio do fato. A decisão da morte do filho foi dele. A prova existe", sintetizou a promotora na coletiva à imprensa. Dinamárcia disse ainda que Leandro manipulou a esposa para que ela matasse Bernardo.
Ao lado dela, estava o subprocurador-geral de Justiça para Assuntos Institucionais, Marcelo Dornelles. O anúncio sobre a denúncia ainda foi acompanhado pela delegada Caroline Bamberg Machado, titular da Delegacia de Polícia de Três Passos e responsável pelo inquérito que apurou o caso, além da delegada Cristiane de Moura e Silva Bauss, titular da Delegacia Regional de Três Passos, que também auxiliou nas investigações.
Durante a coletiva, foi anunciada a transferência de Dinamárcia para São Luiz Gonzaga. Ela vai deixar a Promotoria de Três Passos. Com isso, o nome da nova promotora do caso será divulgado ainda nesta quinta-feira (15).
Denunciados pelo Ministério Público:
Leandro Boldrini: atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Ele também auxiliou na compra do remédio Midazolan em comprimidos, fornecendo a receita azul. Leandro e Graciele arquitetaram o plano, assim como a história para que tal crime ficasse impune. Ele responderá também por falsidade ideológica por ter registrado um boletim de ocorrência com informação falsa, já que, segundo o MP, ele sabia da localização do filho.
Graciele Ugulini: mentora e executadora do delito de homicídio, bem como da ocultação do cadáver.
Edelvânia Wirganovicz: executora do delito de homicídio e da ocultação do cadáver.
Evandro Wirganovicz: envolvimento no homicídio e ocultação de cadáver.
Qualificadores:
Motivo torpe: uma vez que Leandro e Graciele não queriam partilhar com Bernardo os bens deixados pela mãe da criança. Em relação à Edelvânia, a torpeza fica evidenciada, conforme a denúncia, pelo fato de ela ter aceitado participar do homicídio mediante paga ou recompensa. Ela recebeu de Graciele a quantia de R$ 6 mil, além da promessa de auxílio financeiro para aquisição de um imóvel.
Motivo fútil: já que Bernardo era filho do casamento anterior de Leandro, ele representava “um estorvo” para a nova unidade familiar estabelecida entre o pai e a sua madrasta, conforme a denúncia.
Emprego de veneno: segundo o MP, os acusados ministraram superdosagem do Midazolam a Bernardo.
Dissimulação e recurso que dificultou a defesa da vítima: Bernardo, sem condições de saber das intenções homicidas, foi conduzido até Frederico Westphalen e recebeu superdosagem, via oral e intravenosa, do medicamento.
Entenda
Conforme alegou a família, Bernardo teria sido visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. No domingo (6), o pai do menino disse que foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores.
No início da tarde do dia 4, a madrasta foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. Graciele trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.
"O menino estava no banco de trás do carro e não parecia ameaçado ou assustado. Já a mulher estava calma, muito calma, mesmo depois de ser multada", relatou o sargento Carlos Vanderlei da Veiga, do CRBM. A madrasta informou que ia a Frederico Westphalen comprar um televisor.
O pai registrou o desaparecimento do menino no dia 6, e a polícia começou a investigar o caso. Na segunda-feira (14), o corpo do garoto foi localizado. De acordo com a delegada responsável pela investigação, o menino foi morto por uma injeção letal, o que ainda precisa ser confirmado por perícia. A delegada diz que a polícia tem certeza do envolvimento do pai, da madrasta e da amiga da mulher no sumiço do menino, mas resta esclarecer como se deu a participação de cada um.