Quando anunciou, no mês passado, que Neymar estava efetivado como capitão da Seleção, Tite disse, entre outras coisas, que seria bom para o atacante se expor mais publicamente. Falar mais, externar opiniões e deixar que as pessoas o conhecessem melhor.
Não que sua relação com jornalistas e público seja de total intimidade, mas o atacante sai desta data Fifa na condição de porta-voz do grupo, bem diferente de quando passou a Copa do Mundo praticamente toda em silêncio.
Depois das vitórias sobre Arábia Saudita e Argentina, Neymar parou no que se chama de zona mista, um corredor que liga o vestiário ao ônibus da equipe, onde eles são entrevistados por jornalistas. Em ambas, o camisa 10 foi o último jogador a sair. Sem pressa, sem encurtar respostas e sem fugas, traços que ele costumava adotar para se livrar dessa “obrigação”.
Foram mais de 25 minutos de entrevistas, acrescentando uma coletiva. Neymar falou sobre sua atuação no vestiário após vencer os árabes, as críticas, em seu modo de ver, injustas a Gabriel Jesus por seu desempenho na Copa do Mundo, sobre cabelo...
Em poucos minutos, admitiu ter alertado o grupo para a importância do clássico sul-americano depois do mau desempenho do primeiro amistoso, e também confessou não gostar de manter o mesmo penteado por mais de um mês - ainda não sabe como será o próximo, depois do topete louro.
O craque só não quis comentar as questões políticas da Arábia Saudita, sede dos amistosos e envolvida no polêmico sumiço de um jornalista do país, crítico do sistema, após entrar no consulado em Istambul, capital turca.
"Eu te peço desculpas, mas não tenho como responder sobre algo que não tenho domínio."
A decisão de efetivar Neymar como capitão causou muitas críticas a Tite pelo comportamento do atacante na Copa da Rússia, criticado mundialmente. Em defesa, o treinador diz a pessoas próximas que a faixa traz consigo um monte de responsabilidades. E que teve uma conversa pessoal com o jogador para sentir se havia disposição em carregá-la.
Em campo, o camisa 10 tem, nesse início de ciclo, dois gols e seis assistências. Ele jura sentir o mesmo prazer em marcar e presentear companheiros, e às vezes até preferir o passe, como quando ajudou Jesus a quebrar um jejum de gols diante da Arábia Saudita.
– Fiquei mais feliz do que se eu tivesse feito cinco gols – resumiu.
Paciente e ciente de ser um representante da seleção brasileira, Neymar tem conseguido, nesses primeiros jogos, cumprir o plano de Tite e se expor mais. Falar mais. Revelar mais seus pensamentos.
Ainda há um longo caminho pela frente para ser reconhecido como um grande líder.