Brasil vive crise de imagem �s v�speras da Copa

Publicada em 19 de Maio de 2014 �s 10h30

Para quem acompanha o que acontece no Brasil pela imprensa internacional, a sensa��o dos �ltimos meses pode ser a de que a sorte conspira contra o pa�s �s v�speras da Copa do Mundo. Seria de se esperar que as not�cias sobre os atrasos nas obras do Mundial ou os protestos anti-Copa fossem rodar o globo, mas recentemente tornou-se comum ler nos jornais de Londres, Madri ou Nova York sobre mazelas brasileiras que antes passariam desapercebidas aos olhos estrangeiros - de conflitos nas favelas do Rio ao surto de dengue no Nordeste; das den�ncias de obras superfaturadas nos rinc�es do pa�s ao risco de falta d"�gua em S�o Paulo. "Agora quase todos os dias tem mat�ria sobre o Brasil nos jornais daqui - e realmente chama a aten��o o fato de a grande maioria delas ser negativa", diz Daniel Buarque, jornalista e autor do livro Brazil, um pa�s do presente: A imagem internacional do "pa�s do futuro" (Ed. Alameda), que est� na Gr�-Bretanha pesquisando sobre a cobertura internacional da Copa. Recentemente, o Financial Times comparou a presidente Dilma Rousseff ao grupo de comediantes irm�os Marx; a revista Economist sugeriu que o problema da falta de crescimento da produtividade no Brasil teria causas culturais e o New York Times (NYT) destacou a grande quantidade de obras abandonadas e superfaturadas no pa�s. Fora do campo econ�mico, o espanhol El Pa�s anunciou que o Brasil estaria vivendo uma "crise de seguran�a" e o tabloide brit�nico Daily Mirror definiu Manaus como "um buraco dos infernos tomado pelo crime". Certamente, tamb�m h� exemplos de reportagens positivas, mas � dif�cil ignorar que o tom geral da cobertura est� mais desfavor�vel ao Brasil, da mesma forma que h� apenas tr�s anos o entusiasmo com o pa�s era evidente. "Perdeu a chance" Para Simon Anholt, especialista em imagem-pa�s que faz um ranking das na��es mais populares do mundo, o Brasil perdeu a chance de aproveitar os holofotes da Copa para projetar seriedade e compet�ncia, fortalecendo sua reputa��o na �rea econ�mica. "Ao que tudo indica, o pa�s n�o conseguiu agarrar essa oportunidade e deve continuar a ser o pa�s da festa, carnaval e futebol. Um pa�s que as pessoas veem com simpatia, mas que ningu�m leva muito a s�rio", diz Anholt, informando que a pontua��o do Brasil em sua pesquisa caiu em 2013 pelo segundo ano consecutivo, de 57,86, para 57,67 (de um total de 70 pontos). "� claro que fatos negativos viram not�cia, antes de tudo, porque fatos negativos est�o acontecendo - e em um momento em que muitos jornalistas foram deslocados para o Brasil para cobrir a Copa", diz Buarque. Ele nota, por�m, que, h� alguns anos, quando o tom da cobertura sobre o Brasil era "quase euf�rico", os problemas estruturais do Pa�s eram os mesmos. "Os jornais e TVs oferecem a seu p�blico uma hist�ria simples, n�o uma realidade complexa e multifacetada, o que pode levar a exageros", afirma Peter Hakim, especialista em assuntos latino-americanos do Inter-American Dialogue. "As pessoas querem saber se a situa��o est� melhorando ou piorando em determinado pa�s e no Brasil h� algum tempo temos uma tend�ncia geral de deteriora��o do cen�rio econ�mico e pol�tico." Segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil, a grande quantidade de not�cias negativas sobre o Pa�s deve-se a uma combina��o de pelo menos quatro fatores, listados abaixo. Quatro raz�es da "negatividade" da imprensa "Fator Copa" "Para come�ar, � comum que antes de uma Copa ou Olimp�ada haja ansiedade sobre as prepara��es e ritmo das obras", afirma Richard Lapper, chefe do FT Confidential, o servi�o de pesquisas sobre mercados emergentes do Financial Times. "O mesmo aconteceu na Gr�cia e �frica do Sul", lembra. Simon Anholt concorda com a avalia��o: "Sempre temos as mesmas hist�rias: "eles n�o v�o ficar prontos a tempo, isso n�o vai funcionar"". No caso do Brasil, por�m, os especialistas concordam que a quantidade e grau de atraso nas obras de infraestrutura ligadas ao Mundial e Olimp�adas de fato d�o material de sobra para manchetes de jornais locais e estrangeiros, como destaca Peter Hakim. Projetos frustrados Para Richard Lapper, essa apreens�o com os atrasos nas obras da Copa soma-se ao desapontamento gerado pelas promessas n�o cumpridas do governo brasileiro de fazer o Pa�s dar um salto de desenvolvimento de infraestrutura. "Autoridades brasileiras fizeram uma s�rie de roadshows pelo globo prometendo deslanchar projetos grandiosos, como uma rede de ferrovias e o trem bala", lembra. "A Copa seria apenas uma das vitrines desse salto de infraestrutura, mas boa parte desses projetos ficou s� no papel. Imagine se, depois de tantas promessas, ainda por cima os jornalistas e torcedores estrangeiros forem recebidos para o Mundial em grandes tendas porque nem os aeroportos est�o prontos" questiona Lapper. "N�o d� para culpar a imprensa pelas not�cias ruins." Desacelera��o econ�mica Um terceiro fator que contribuiria para a recente onda de not�cias negativas sobre o Brasil seria a frustra��o com o desempenho do Pa�s no campo econ�mico, como destaca Marcos Troyjo, diretor do laborat�rio de estudos sobre os Brics da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. Desde que o Brasil foi escolhido para ser a sede do Mundial, em 2007, a cobertura sobre o Pa�s foi do c�u ao inferno, acompanhando, primeiro, o boom da economia brasileira e, depois, o seu desaquecimento. Na d�cada passada, o pa�s foi inclu�do por analistas no acr�nimo Brics, referente �s pot�ncias emergentes que seriam o motor da economia global em 2040. Em pouco tempo, ganhou a prefer�ncia dos investidores estrangeiros, os holofotes da m�dia internacional e, para completar, o direito de sediar a Olimp�ada e a Copa. O termo "Brasilmania" passou a ser usado por analistas como Troyjo para referir-se ao crescente interesse internacional pelo Pa�s, que atingiu seu auge por volta de 2011, um ano depois do PIB crescer 7,5%. O crescimento de 2,7% e 0,9% dos anos seguintes, por�m, desinflou rapidamente essa euforia. A Economist, que em 2009 havia publicado uma famosa capa com o Cristo Redentor al�ando voo e a manchete "O Brasil decola", em 2013 estampou na capa um Cristo despencando e a pergunta "O Brasil estragou tudo?". Clima interno Por fim, o quarto e �ltimo fator por tr�s da cobertura negativa estaria ligado � deteriora��o do clima interno no Pa�s - que teria tido in�cio com os protestos de junho de 2013. Richard Lapper lembra que, afinal, foram esses protestos que fizeram a imprensa internacional olhar mais de perto para os problemas que afligem a popula��o brasileira. "At� meados de 2013, os brasileiros pareciam estar satisfeitos com os rumos do Pa�s", diz ele. Hoje, segundo a Datafolha, 55% da popula��o acha que a Copa trar� mais preju�zos que benef�cios para o Brasil. "A continuidade dos protestos e a recente queda de popularidade do Mundial e do governo parecem ser a express�o de um sentimento geral de fadiga que acaba sendo apreendido pelo notici�rio internacional", acredita Lapper. Longo Prazo E qual impacto a cobertura internacional da Copa pode ter na imagem do pa�s no longo prazo? O governo tem defendido que todo esse clima negativo se reverter� quando os jogos come�arem e o Brasil finalmente explodir em uma grande festa. Tamb�m diz que o torneio ajudar� a promover o Pa�s no exterior, contribuindo para atrair turistas e investidores no longo prazo. As opini�es dos analistas se dividem. Para Anholt, n�o h� garantias de que um evento esportivo desse tipo possa melhorar a imagem externa de um pa�s. "Pode acontecer inclusive o contr�rio: a �frica do Sul, por exemplo, vinha melhorando progressivamente sua posi��o em nosso ranking (da popularidade dos pa�ses) depois do apartheid, mas a Copa de 2010 fez os sul-africanos retrocederem esses avan�os em dois anos", conta. "Em muitos lugares n�o se tem ideia da real extens�o do problema da desigualdade no Brasil, por exemplo - e se ela for escancarada pela imprensa internacional podemos ter um impacto negativo na imagem do Pa�s", acredita Anholt. Mais otimista, Anthony Pereira, diretor do programa de estudos brasileiros do King"s College London, acredita que a cobertura "excessivamente" pessimista �s v�speras do torneio pode fazer com que seja mais f�cil para o Brasil chegar a um resultado considerado razo�vel. "Essa negatividade ajuda a reduzir as expectativas, de forma que se nenhum incidente grave ocorrer, isso j� ser� visto como um sucesso", diz ele. Para Marcos Troyjo, da Universidade de Columbia, a possibilidade de que haja um estrago significativo nas percep��es de investidores estrangeiros sobre o Brasil � pequena. "A Copa realmente pode acabar mostrando que o Pa�s ainda tem enormes defici�ncias na �rea de infraestrutura, por exemplo, mas �s vezes tais car�ncias tamb�m s�o percebidas como oportunidades de neg�cios." "Entre os altos e baixos da cobertura, acho que ao menos podemos dizer que as pessoas tendem a estar um pouco mais informadas sobre o Brasil no exterior em fun��o dessa exposi��o", acredita Daniel Buarque.

� Siga-nos no Twitter

Tags:

Fonte: Vooz �|� Publicado por:

Comente atrav�s do Facebook

Mat�rias Relacionadas