Os bispos do Piauí reafirmaram em carta ao público que são contra a candidatura de sacerdotes a cargos políticos no Estado. O documento cita o discurso do Papa Bento XVI que diz que "os padres devem permanecer afastados de um engajamento pessoal na política, a fim de favorecerem a unidade e a comunhão de todos os fiéis e assim poderem ser uma referência para todos".
Até o momento, no Piauí há apenas um pré-candidato padre. Trata-se do padre Walmir, que concorrerá às aleições no município de Picos (306 km de Teresina) pelo Partido dos Trabalhadores. Em um encontro do partido, ele disse que já esperava a posição da igreja e justificou sua candidatura afirmando que "a situação de Picos é de emergência".
O documento enviado pelos bispos defende que "o vasto e complexo mundo da política, da realidade social e da economia, é campo próprio dos leigos” e critica várias vezes a corrupção, a desobediência às leis, os vícios e distorções do campo político. "Nossa prática tem demonstrado, infelizmente, vícios e distorções que obscurecem o brilho de setor tão fundamental para nossas vidas".
A carta externa rejeição a candidatos que defendem o aborto e a eutanásia, assim como aqueles que não possuem ficha limpa. "somos parte de uma sociedade cuja maioria valoriza a família e a vida".
Veja a carta na íntegra:
Os Bispos do Piauí, membros da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - Regional Nordeste IV, na qualidade de pastores de suas comunidades, desejam iluminar o cenário das próximas eleições municipais oferecendo pensamentos e reflexões que possam contribuir para o aprimoramento do processo eleitoral.
Reafirmamos nossa convicção no valor e importância da atividade política como serviço ao nosso povo, amparados sobretudo no testemunho de Jesus Cristo: “O Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir, e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos” (Mt 20,28).
No exercício da atividade política, justifica-se a organização partidária que se reveste de princípios e visa alcançar o poder para transformá-lo em serviço eficaz ao povo. Nossa prática tem demonstrado, infelizmente, vícios e distorções que obscurecem o brilho de setor tão fundamental para nossas vidas.
Níveis altos de desobediência às leis, como compra de votos, conchavos interesseiros, uso de dinheiro público em campanhas eleitorais, levaram a sociedade a se movimentar pela aprovação da Lei da “Ficha Limpa”, recentemente aprovada pelo Supremo
Tribunal Federal. Nada mais justo, pois, do que batalhar por uma eleição limpa, confiável e que devolva esperança ao povo. E apostamos na possibilidade de termos militantes políticos com ficha limpa. Ao contrário, com o povo, sobretudo os pobres, desaprovamos os corruptos e aproveitadores.
Recomendamos vivamente à sociedade organizada a implantação de Comitês contra a corrupção eleitoral, de acordo com a Lei 9840/99, como contribuição para uma eleição transparente e limpa.
Preservando nossa identidade católica, queremos externar nossa rejeição a candidatos que não primam pelo bem comum, não defendem o direito e a justiça, não promovem nem defendem a vida, e ainda, aprovam o aborto e a eutanásia, em frontal
desrespeito aos valores humanos e cristãos. O bom político estará sempre em sintonia com o povo que representa. Além disso, somos parte de uma sociedade cuja maioria valoriza a família e a vida.
Por fim, reafirmamos nossa confiança e concitamos mesmo os leigos a ocupar seu lugar numa autêntica militância que nos leve a “novos tempos” (Cf. DAp 505-507). “O vasto e complexo mundo da política, da realidade social e da economia, é campo próprio dos leigos”( EN 70). “Os sacerdotes devem permanecer afastados de um engajamento pessoal na política, a fim de favorecerem a unidade e a comunhão de todos os fiéis e assim poderem ser uma referência para todos”( Bento XVI, Visita ad limina 2009). Reiteramos o nosso pronunciamento publicado referente as eleições de 2008.
Acompanharemos a todos com nossas orações, como cidadãos e Pastores.