Chega às livrarias no dia 23 de janeiro a biografia não-autorizada de Suzane von Richthofen, condenada a 39 anos de prisão por matar os pais a marretadas na casa onde a família vivia, em São Paulo, em 2002. De autoria do jornalista Ullisses Campbell, a obra chegou a ter a publicação suspensa pela Justiça em novembro de 2019, a pedido da própria Suzane, mas voltou a ser liberada em dezembro por uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Durante três anos de pesquisas, Campbell teve acesso a todo o processo e se encontrou três vezes com Suzane. Mas, como a detenta queria falar sobre sua ideia de se tornar pastora e o jornalista se negou a tratar do tema, a detenta não quis mais colaborar, segundo o autor.
Para Campbell, Suzane, que encomendou a morte dos pais, realizada pelo então namorado dela, Daniel Cravinhos e pelo irmão dele, Cristian Cravinhos, é uma mulher manipuladora, "fria, calculista e educada". O jornalista teve acesso a laudos feitos por psiquiatras na cadeia, realizados por determinação da juíza que acompanha a execução do caso.
Os resultados mostram uma personalidade "narcisista, de alguém que não se preocupa com os outros, sem emoção e sem simpatia com as outras pessoas. Ela já tinha este perfil, que se aperfeiçoou na prisão", diz o jornalista.
O G1 procurou a Defensoria Pública de São Paulo, que atualmente cuida da defesa de Suzane, para saber se ela gostaria de comentar o lançamento do livro. No entanto, não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Atualmente, Suzane cumpre pena no regime semiaberto na Penitenciária de Tremembé, no Vale do Paraíba, e tem direito a cinco saídas por ano, de sete dias cada uma delas.
"Suzane é célebre pelo potencial de seduzir com alta voltagem quem lhe interessa, descartar sumariamente as pessoas quando a utilidade termina e ignorar friamente quem não lhe traz proveito algum”, destaca o autor.
Um capítulo do livro relata o momento em que Suzane, ameaçada ao estar em um presídio em Taubaté, também na região do Vale do Paraíba, recorre ao promotor que acompanha o seu processo para pedir ajuda e a transferência a outra unidade. O autor relata que, nesta ocasião, o promotor "se aproveitou" do momento para pedir favores sexuais.
Suzane denunciou à Corregedoria do Ministério Público o promotor, que foi suspenso por 22 dias. Ele sempre negou qualquer relação com a criminosa.
"Ela arquitetou todo o plano de morte dos pais e, quando o namorado, Daniel, desiste de participar do crime, ela inventa que era estuprada pelos pais desde criança. Isso mostra um perfil mentiroso, que faz o que for necessário para atingir seus objetivos", relata o autor da biografia.
O biógrafo conta com exclusividade que, logo após ser presa, Suzane tentou se aproximar do irmão, Andreas. Em um dos momentos, ela obriga e manipula emocionalmente Andreas para escrever uma carta à mão, contando que ele apoia e perdoa a irmã, com o objetivo de ter acesso à partilha na herança dos pais.
Em uma saída temporária, Suzane também vai até a casa do irmão e o persegue. Mas Andreas, segundo o jornalista, evitou contato e fugiu das investidas de reaproximação da irmã.
Histórias
A história de Suzane - dentro e fora das celas - é recontada por Campbell com base em depoimentos de várias pessoas que participaram ativamente do caso e nas mais de 6 mil páginas do processo às quais o jornalista teve acesso.
O autor se encontrou oito vezes com Cristian Cravinhos - a quem considera como "um grande colaborador" - e conversou com centenas de presos e agentes de segurança que conviveram com o trio atrás das grades desde 2002, data da prisão.
O objetivo foi retratar um perfil dos criminosos e, em especial, de Suzane. Nascida em uma família da classe média alta em São Paulo, filha de uma psiquiatra e de um engenheiro, Suzane cursava a faculdade de Direito quando cometeu o crime.
Uma das histórias relatadas na obra é contada pelo primeiro policial militar que chegou à casa da família von Richthofen logo após Suzane ligar para o 190 anunciando que sua casa havia sido assaltada. O PM relata ter identificado a frieza da assassina logo nos momentos iniciais quando o policial tenta ter cautela ao contar a ela que os pais estavam mortos.
Segundo o PM, Suzane perguntou surpresa quando, primeiro, o policial lhe avisou que os pais estavam bem. Ao saber da morte, minutos depois, Suzane, sem expressar emoção nenhuma, queria saber apenas dos procedimentos fúnebres, sem se preocupar com os responsáveis pelo ato, relembrou o policial ao recontar o dia ao biógrafo.