O juiz Antônio Lopes, da 2ª Vara da Infância e Juventude em Teresina, voltou a fazer duras críticas ao Centro Educacional Masculino (CEM) e comparou o local a um “chiqueiro de porcos” ao falar das condições insalubres do centro. A declaração veio à tona dois dias após o duplo homicídio contra adolescentes dentro da unidade.
“Os adolescentes são jogados no CEM como porcos. Aquilo é um chiqueiro de porcos”, falou.
Os dois rapazes assassinados na noite do sábado (19) cumpriam medidas socioeducativas por homicídio ocorrido em Parnaíba, Litoral do Piauí. Eles foram transferidos do Complexo de Defesa da Cidadania de Parnaíba para o Centro Educacional Masculino.
A defensora pública Allyne Patrício, que faz a defesa dos três adolescentes suspeitos de espancar até a morte o jovem Gleison Vieira da Silva, delator do estupro coletivo em Castelo do Piauí, concorda com o juiz e disse que irá ingressar com uma ação civil pública pedindo providências e, se necessário, a interdição da unidade.
“Além da estrutura precária, tem também a questão da superlotação. O Centro tem capacidade para receber 60 adolescentes, mas atualmente mantém 93 internos. São vários pontos que não estão sendo cumpridos e enquanto não mudar esses fatos, eles vão continuar acontecendo”, falou a defensora.
O promotor Maurício Verdejo, da 2ª Vara da Infância e Juventude de Teresina, também criticou a estrutura do local e falou que os menores têm acesso a armas brancas porque confeccionam esses instrumentos a partir da própria estrutura da unidade, a exemplo de vergalhões retirados das paredes.
A Secretaria da Assistência Social e Cidadania disse que todas as medidas necessárias exigidas pela justiça para melhorar o CEM estão sendo tomadas, como a aquisição e distribuição de colchões para todos adolescentes, a reativação das atividades de lazer e o início de cursos profissionalizantes.
Na próxima sexta-feira (25), uma reunião entre o MP, Sasc, Defensoria e Justiça será realizada para que a secretaria apresente prazo para cumprir as medidas já exigidas pela Justiça, sendo uma delas a reforma imediata do CEM.
Pai critica Sasc
O pai de um dos adolescentes assassinados na noite do sábado (19) no Centro Educacional Masculino (CEM) em Teresina afirmou que o filho estava mais seguro em Parnaíba, onde morava. Segundo José Rocha, o adolescente foi trazido para a capital com a justificativa de que estaria mais seguro.
"Eu acho uma covardia, porque ele lá na minha cidade estava mais seguro e disseram pra mim que aqui ele iria ter mais assistência, mais segurança e foi provado o contrário. O que eu acho é que está tudo errado aqui, porque ao invés de recuperar os detentos eles estão deixando os mais velhos mandarem. Eles é quem mandam lá e se os novatos não fizerem o que eles mandam fazem esse tipo de coisa", disse.
3ª morte este ano
Com o assassinato dos dois adolescentes no sábado, o CEM já contabiliza três mortes esse ano. O outro crime foi registrado no dia 17 de julho quando Gleison Vieira da Silva, 17 anos, foi espancado até a morte dentro do alojamento que dividia com mais três rapazes. Os quatro foram condenados pela participação no estupro coletivo contra quatro garotas em Castelo do Piauí.
Gleison Vieira da Silva teria delatado os demais e esse fato teria sido o motivo para o crime contra ele. O julgamento dos três adolescentes suspeitos pelo assassinato de Gleison foi finalizado nesta segunda-feira (21) e eles foram condenados a mais três anos de internação como medida socioeducativa.