"Se eu tivesse engravidado aos 30 anos, não teria chegado onde eu cheguei profissionalmente", diz a executiva Taciana Beatriz Couto, 37. Mãe dos gêmeos João Pedro e Maria Alice, de um ano e um mês, ela realizou o sonho de ser mãe graças à fertilização in vitro (FIV). Como ela, milhares de mulheres têm adiado os planos de engravidar para cuidar da carreira.
Quem é mãe sabe que é quase impossível conciliar horas extras e viagens a trabalho com os cuidados de um bebê. Em termos de pique, a executiva concorda que ser mãe aos 20 pode até ser o ideal. Mas, perto dos 40 e com a carreira consolidada, ela diz que tem muito mais liberdade para administrar sua agenda.
A maturidade é outra questão que pesa: "Acho que posso ser uma mãe melhor", considera. O marido, Mário Gasperini, 52 anos, também acredita que ter filhos mais tarde tem suas vantagens. "Ele costuma dizer que tem a paciência de um avô e a obrigação de um pai", relata a executiva.
Quem decide ter filhos mais tarde, no entanto, nem sempre tem a sorte do casal. Embora as técnicas de reprodução assistida tenham avançado bastante nos últimos anos, a idade da mulher continua a ser o grande vilão da infertilidade, como explica o especialista em reprodução humana Eduardo Motta, sócio do Grupo Huntington Medicina Reprodutiva. "Quanto mais velha a célula que vai gerar o óvulo, maior o risco de ocorrer erro na divisão celular", explica o médico, que também é professor adjunto na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Descompasso
Por milhares de anos (dos tempos das cavernas até o início do século 20, mais ou menos), as pessoas viviam até os 40 anos. Sem anticoncepcionais ou televisão, engravidavam cedo e diversas vezes. Embora uma mulher de 45, hoje, tenha a aparência e o vigor de nossas avós aos 30, seus óvulos não acompanharam o aumento da longevidade do homem e as revoluções sociais mais recentes.
Achar que, graças aos tratamentos de reprodução assistida, qualquer mulher pode ser mãe no momento em que quiser é um erro. "As mulheres precisam ter consciência disso", enfatiza Motta. Mesmo quando os óvulos ainda têm qualidade e não há nenhuma alteração genética envolvida, o sucesso de uma fertilização in vitro é de aproximadamente 50%. Acima dos 35 anos, as chances vão se reduzindo e, após os 40, a curva é vertiginosa. Por volta dos 45 anos, a alternativa pode ser recorrer ao uso de óvulos doados, o que nem sempre é bem aceito pelo casal.
"Não existe botox para ovário", costuma dizer o especialista em reprodução Arnaldo Cambiaghi, diretor do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia (IPGO). Por mais jovem e saudável que uma mulher pareça, o tempo é implacável para o sexo feminino no que se refere à capacidade reprodutiva.
Cambiaghi diz que só quem convive com as pacientes sabe como é difícil passar pelo tratamento sucessivas vezes, gastar uma fortuna que muitas vezes a pessoa nem tem e, depois de tudo, não ter sucesso. "É por isso que eu acho que no Dia das Mães as mulheres que não conseguem engravidar devem ser igualmente homenageadas", afirma.
O diretor da Huntington lembra que a dificuldade de ser mãe também se reflete no relacionamento. "Elas chegam na clínica e dizem: 'por que eu perdi tanto tempo'", relata o médico. A reação de muitas delas, segundo ele, é culpar o marido e adotar a lógica do "já que você não quis que eu engravidasse antes, agora vai gastar tudo o que tem nos melhores tratamentos".
A mensagem que fica do médico para a mulher que quer ter filho, mas não tem certeza se chegou a hora, é: tome as rédeas. Comece a frequentar mais o ginecologista a partir dos 30 anos. Não deixe que o parceiro decida qual o momento certo. Nem espere o cenário ideal para montar uma família - ele pode aparecer somente quando não sobrarem mais óvulos.