BRASÍLIA — A Secretaria de Segurança do Supremo Tribunal Federal (STF) descobriu um aparelho próprio para realizar escuta ambiental dentro do gabinete do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). O equipamento foi descoberto no dia 11 de abril, durante uma varredura de rotina feita nos gabinetes dos ministros. O material estava desativado e foi encontrado dentro de uma pequena caixa, embaixo da mesa do ministro. Não se sabe há quanto tempo o aparelho estava no local.
— Eu acho, do ponto de vista institucional, gravíssimo. Uma ousadia, uma desfaçatez alguém colocar um aparelho de escuta no gabinete de um ministro do Supremo, tenha sido no meu, ou se estivesse aí desde muito antes, o que não se sabe. Agora, do ponto de vista pessoal, estou totalmente tranquilo e confortável, aqui é um espaço totalmente republicano. A gravidade é alguém saber por antecipação o que eventualmente estou pensando em fazer em um processo — disse Barroso.
O ministro disse que não ficou surpreso quando soube da escuta:
— Nada no Brasil de hoje surpreende.
O equipamento está em posse da Secretaria de Segurança do tribunal, que se recusa a prestar qualquer informação adicional sobre o caso. O gabinete do ministro informou que o caso está sendo apurado internamente. Por questões de segurança, o tribunal não informa qual a periodicidade das varreduras nos gabinetes dos ministros.
Barroso integra o STF desde junho de 2013. Antes dele, quem ocupava o gabinete era o ministro Joaquim Barbosa, hoje aposentado. Como as varreduras são realizadas com frequência, é pouco provável que o equipamento estivesse no local antes da aposentadoria de Barbosa.
Barroso explicou que a rotina de trabalho dele inclui audiência com advogados e partes interessadas nos processos e reuniões com assessores. Ele deixa para escrever as decisões em casa, à mão. Somente depois digita no computador. Portanto, na avaliação do ministro, seria difícil uma decisão ter vazado antes da hora.
— Se alguém ouviu, ficou sabendo que aqui no nosso gabinete a gente trabalha muito e com bom humor — disse o ministro.
Barroso foi o relator do acórdão da decisão tomada pelo STF em dezembro do ano passado que definiu o rito do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O ministro também é relator das execuções penais dos condenados no processo do mensalão. Em março, o ministro esteve nos holofotes por ter criticado o PMDB, pouco antes de Dilma ser afastada do cargo.
Sem saber que estava sendo filmado na ocasião, Barroso lamentou a falta de alternativa para comandar o país – e citou como exemplo foto publicada pelos jornais em que caciques do PMDB anunciavam a debandada do governo Dilma. A declaração foi dada a alunos da Fundação Lemann, que foram recebidos em audiência por Barroso no tribunal.
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— Quando, anteontem, o jornal exibia que o PMDB desembarcou do governo e mostrava as pessoas que erguiam as mãos, eu olhei e: Meu Deus do céu! Essa é a nossa alternativa de poder. Eu não vou fulanizar, mas quem viu a foto sabe do que estou falando — declarou Barroso.
A foto à qual o ministro se referia estampava figuras notórias do partido — em especial, o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), o senador Romero Jucá (RR) e o ex-ministro da Aviação Eliseu Padilha. Os dois últimos viraram ministros do presidente interino Michel Temer na semana passada.
— O problema da política neste momento eu diria é a falta de alternativa. Não tem para onde correr. Isso é um desastre. Porque, numa sociedade democrática, a política é um gênero de primeira necessidade. A política morreu. Talvez eu tenha exagerado, mas ela está gravemente enferma. É preciso mudar — disse o ministro na ocasião.