Brasileiro naturalizado russo, Ari, atacante do Krasnodar, foi alvo de injúria racial depois de duas convocações consecutivas para defender a seleção da Rússia - ele não consta na lista mais recente, para os confrontos contra Bélgica e Cazaquistão, pelas eliminatórias da Eurocopa. Pavel Pogrebnyak, jogador do Klub Ural com passagem pela seleção, questionou a "presença de um negro" na lista. E o brasileiro reagiu.
- É triste pensar que, nos dias de hoje, ainda exista algo assim. Um cara desses nem merece atenção. Esse fato não me atinge porque tenho a cabeça tranquila. Apenas me fortalece. É só mais um caso entre tantos que já tive que lidar. Passei por tantas dificuldades já que isso nem me preocupa. Porém, fico pensando nas pessoas que sofrem diariamente com racismo e não possuem uma base para encarar uma pessoa de alma tão fraca como a dele. O preconceito racial é uma realidade. Devemos lutar contra ele, educar nossos filhos e nos conscientizar cada vez mais - afirmou o atacante de 33 anos.
A ofensa racista foi cometida pelo jogador russo em entrevista a um jornal local. Ele usou uma palavra que pode significar tanto "engraçado" como "ridículo" para definir a convocação de Ari.
- É engraçado/ridículo ter um jogador negro na seleção russa. Eu não entendo o sentido disso. Por que deram um passaporte russo ao Ari? - indagou Pogrebnyak, que também se colocou contra outro brasileiro naturalizado russo: o lateral-direito Mário Fernandes.
- Na lateral direita, nós temos o Igor Smolnikov, do Zenit. Poderíamos montar um time sem estrangeiros.
Chefe do Conselho Presidencial de Direitos Humanos da Rússia, Mikhail Fedotov afirmou à imprensa local que os comentários de Pogrebnyak tiveram cunho racista. E Alexander Baranov, que é o responsável pela Liga Russa, informou que uma investigação está em curso.
- As declarações claramente não correspondem aos princípios básicos da campanha mundial por um jogo mais limpo. Você não pode julgar a convocação de um jogador na equipe nacional da Rússia pela cor da pele. Ao chamar para a equipe principal do país, as qualidades profissionais do jogador estão sempre em primeiro plano. Sem dúvida, o caso será analisado, e uma decisão será tomada em breve. De acordo com as regras do Comitê de Ética, sanções são possíveis desde uma multa de dinheiro até uma desqualificação temporária de um jogador de futebol - deixou claro.
A Rússia estreia nas eliminatórias da Euro 2020 na próxima quinta-feira contra a Bélgica sem Ari, que não foi convocado pelo técnico Stanislav Cherchesov para os próximos jogos. A lista, no entanto, conta com os brasileiros Guilherme, goleiro do Lokomotiv Moscou; e Mario Fernandes, lateral do CSKA Moscou.
Veja o que disse Ari:
"É triste pensar que, nos dias de hoje, ainda exista algo assim. Um cara desses nem merece atenção. Esse fato não me atinge porque tenho a cabeça tranquila. Apenas me fortalece. É só mais um caso entre tantos que já tive que lidar. Passei por tantas dificuldades já que isso nem me preocupa. Porém, fico pensando nas pessoas que sofrem diariamente com racismo e não possuem uma base para encarar uma pessoa de alma tão fraca como a dele. O preconceito racial é uma realidade. Devemos lutar contra ele, educar nossos filhos e nos conscientizar cada vez mais. Foi uma declaração lamentável vinda de um jogador de futebol, num momento em que temos que conviver com tantas atrocidades por causa de intolerância, além de não coincidir com os princípios do esporte, um instrumento poderoso contra as mais variadas formas de discriminação, onde todos devemos fazer nosso papel, passando por dirigentes, atletas e torcedores. Minha ideia é continuar defendendo a seleção russa. Conquistei a convocação com muito trabalho, gols e qualidade técnica, então continuo aqui à disposição do treinador caso queira contar comigo mais vezes."
*Sob a supervisão de Tébaro Schmidt.