O governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse nesta sexta-feira (14) que está "sempre aberto ao diálogo, mas não é possível permitir atos de vandalismo".
Temos que garantir tranquilidade às famílias que querem trabalhar. Ontem tivemos 48 ônibus pichados ou destruídos, (houve) destruição de frente de lojas, estação de Metrô. Isso não é possível", afirmou o tucano, em entrevista ao programa "SPTV 1ª Edição", da TV Globo.
Alckmin se negou a dizer que houve excessos da PM, que deteve mais de 200 pessoas e feriu outras centenas, entre eles, sete repórteres do jornal "Folha de S. Paulo".
"Possível abuso já está sendo investigado. Não temos compromisso com o erro", afirmou, para em seguida, atacar o "caráter político" do protesto. Segundo o tucano, há atos "inclusive em cidade que não teve aumento de tarifa, e sempre com violência".
Secretário também evita falar em excesso
O secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Fernando Grella, também disse hoje que a Polícia Militar "continuará a cumprir seu papel de coibir abusos", ao comentar a repressão policial aos protestos da noite de ontem.
"A polícia também tem o dever de garantir a ordem pública e evitar abusos, e continuará a cumprir seu papel. Inclusive para garantir o direito de quem quer trabalhar", afirmou.
Mais cedo, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), ressaltou que "não ficou bem" para a Polícia Militar a repressão aplicada durante o protesto de manifestantes contrários ao reajuste do transporte público, que tomou conta das ruas da região central da capital paulista.
"Nos três primeiros atos, a conduta da PM parecia adequada. Ontem, parece que os protocolos não foram observados", disse o petista. "Não ficou bem pra polícia", afirmou, ressaltando que "a PM está sob comando do governo do Estado".
O prefeito pediu a abertura de inquérito para apurar abusos cometidos pela polícia. "Há indivíduos que precisam ser investigados. Não haveria necessidade de investigação se protocolos tivessem sido seguidos."
Como fez nos outros dias, Haddad também afirmou que os manifestantes se recusaram a dialogar com a prefeitura. "O que eles querem não é diálogo, é um monólogo. Chamamos representantes do movimento (Passe Livre) para conversar, e eles se recusaram", disse. "Não pode ser na base do tudo ou nada."
O prefeito destacou que o reajuste de R$ 0,20 na tarife de ônibus foi o menor reajuste dos últimos tempos, e se disse disposto a "explorar alternativas" para o reajuste. "Todo prefeito aumenta tarifa constrangido. Se houver uma possibilidade de abaixar, os 5.000 prefeitos do país estarão interessados em ouvir."
O quarto protesto
Com o endurecimento da repressão por parte da Polícia Militar, o quarto ato contra o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo, realizado na noite desta quinta-feira (13), terminou sendo o mais violento da série de manifestações ocorridas na cidade nos últimos dias.
Segundo a delegada Victória Lobo, titular da 78º DP (Jardins), 241 pessoas foram detidas no protesto e encaminhadas para essa delegacia, para o 1º DP (Liberdade) e para o 4º DP (Consolação).
Ao menos quatro foram autuadas (três por porte de entorpecentes e um por resistir à prisão), assinaram um termo circunstanciado e vão responder a processos em liberdade. Outras cinco foram indiciadas por formação de quadrilha e danos ao patrimônio --crimes inafiançáveis-- e vão continuar presas.
Com os manifestantes, a polícia diz que apreendeu facas, estiletes, tesouras, martelos, coquetéis-molotóvs, machadinha, aerosol, garrafas de álcool, tinta e sprays e uma pequena quantidade de maconha. Celulares, câmeras fotográficas e uma garrafa de vinagre também foram apreendidos.
Cerca de 40 pessoas foram detidas antes mesmo de o protesto começar. Antes do início do ato, manifestantes e jornalistas que carregavam vinagre --como o repórter Piero Locatelli, da 'Carta Capital' para reduzir os efeitos de bombas de gás lacrimogêneo foram detidos, sob a alegação da PM de que o produto pode ser usado para fabricar bombas caseiras.
Segundo o Movimento Passe Livre, que organizou a manifestação, pelo menos cem ficaram feridos. Entre os feridos, sete são jornalistas da Folha de S.Paulo. A repórter Giuliana Vallone, da TV Folha, foi atingida no olho por uma bala de borracha disparada por policiais militares da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). Outro repórter da Folha, Fábio Braga, também foi atingido no rosto por disparos de bala de borracha no centro da cidade. Giuliana subia a rua Augusta registrando o protesto quando foi atingida.
O fotógrafo Sérgio Silva, da agência Futura Press, foi atingido por uma bala de borracha no olho e corre o risco de perder a visão. Ele está internado no hospital Nove de Julho.
Repórteres do Terra e da Rede Brasil Atual foram agredidos com cassetetes durante a cobertura.
Antes do protesto, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) declarou que não iria tolerar atos de vandalismo. Na manifestação de hoje, a PM mobilizou grande aparato, com tanques blindados, helicópteros e até a cavalaria. Além da Tropa de Choque, policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e da Força Tática atuaram na repressão, totalizando efetivo de 900 homens.
Segundo relato da repórter do UOL, Janaina Garcia, a Polícia atirou indiscriminadamente, contra manifestantes, transeuntes e jornalista a trabalho. "Não havia saída pela via nem pelas transversais, todas cercadas pelo Choque". Veja o relato.
Começo pacífico, final violento
O protesto começou por volta de 18h na praça Ramos de Azevedo, no centro, onde os manifestantes se concentravam desde 17h. De lá, o grupo, de aproximadamente 5.000 pessoas, segundo a PM, seguiu até a praça da República. Depois, caminharam pela avenida Ipiranga e chegaram à rua da Consolação, na altura da praça Roosevelt. Até então, não havia registro de ocorrências graves.
Na altura da Roosevelt, os manifestantes foram impedidos pela polícia de seguir na Consolação até a avenida Paulista. Iniciou-se uma negociação entre o comando da PM e lideranças do movimento. Em um dado momento, por volta de 19h10, começou o confronto. Segundo o jornalista Elio Gaspari, da Folha de S.Paulo, os distúrbios começaram pela ação da polícia, mais precisamente por um grupo de uns 20 homens da Tropa de Choque, que chegaram com esse propósito.