O Jornal Nacional entrevistou uma advogada que conviveu com Fabrício Queiroz na casa em que ele foi preso na quinta-feira (18), em Atibaia, no interior de São Paulo.
Queiroz é suspeito de operar um esquema de rachadinha no gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro, na época em que Flávio era deputado estadual no Rio.
A casa pertence a Frederick Wassef, que até o domingo (21) era advogado de Flávio Bolsonaro. A advogada contou ao Jornal Nacional que a mulher de Fabrício Queiroz, que está foragida, passava temporadas na casa em Atibaia. Contou ainda que chegou a emprestar o carro para Queiroz usar na cidade.
Ana Flávia Rigamonti diz que começou a trabalhar na casa registrada como escritório de Frederick Wassef, em Atibaia, em maio de 2019. “Fui para atender telefone, para atender clientes que fossem lá, então fiquei mais ou menos lá para isso e prestando serviço para ele”, conta.
A advogada disse que não se lembra quando Fabrício Queiroz chegou em Atibaia, mas que enquanto os dois estavam na casa de Wassef, em 2019, conviveram e chegaram a ficar amigos.
Ana Flávia Rigamonti: Foi depois que eu estava lá.
Jornal Nacional: Você lembra o mês?
Ana: Eu não lembro se foi... Ah, eu não lembro direito o mês, mas foi depois disso. Depois de maio.
Jornal Nacional: Você foi lá por causa dele?
Ana: Não, não. O Queiroz eu não tenho, nunca fiz trabalho, não tenho nada a ver com o caso Queiroz. Eu acabei conhecendo o Queiroz ali e a gente, querendo ou não, criou um vínculo de amizade assim, porque às vezes eu estava na casa e às vezes eu não estava, então eu acabei conhecendo ele e a esposa dele.
O que ela conta é diferente do que Frederick Wassef disse ao Jornal Nacional no sábado (20).
Frederick Wassef: Mas vem cá, quem te disse que ele está morando na minha casa? De onde vocês tiraram isso?
Jornal Nacional: Por que ele estava lá quando foi encontrado?
Frederick Wassef: Vamos ver. Nós estamos aqui, numa esquina de uma padaria na rua. A gente não pode afirmar que a senhora é dessa farmácia ou trabalha aqui. Não tem nada a ver. Vamos deixar bem claro: Queiroz não era testemunha, não é testemunha, não é réu, ele um averiguado, certo? E outra coisa: jamais escondi Queiroz. Queiroz não estava escondido. Por que não estava? Porque ele sequer estava sendo procurado.
A advogada diz que nunca recebeu qualquer orientação para vigiar Queiroz. “Não, jamais. Eu não recebi, como eu te disse, nenhuma orientação a respeito de... como se eu estivesse trabalhando, você quer dizer, como se eu fosse uma vigia dele? Não, não, essa não era a minha função ali, não”, afirma.
Ana Flávia conta que Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Queiroz, que está foragida, passava temporadas na casa de Atibaia.
Ana: Ah, ela ficava um pouco. Ia e voltava, assim.
Jornal Nacional: Mas ficava vários dias? Chegava a um mês, por exemplo?
Ana: Ficava.
Ana Flávia disse que, durante os sete meses em que trabalhou para Frederick Wassef em Atibaia, emprestou seu carro particular para que Fabrício Queiroz pudesse circular pela cidade e até viajar. “Para onde ele ia, a viagem ao certo eu não ficava perguntando, mas acho que emprestei meu carro para ele entre umas três ou quatro vezes mais ou menos.”
O pedido de prisão de Fabrício Queiroz faz referência a uma pessoa chamada Ana. Os promotores não esclarecem se é a advogada Ana Flávia Rigamonti.
Em uma mensagem interceptada pelos investigadores, Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Queiroz, pede que a filha avise “Ana” que ela e o marido estavam a caminho de São Paulo.
Naquele mesmo dia, a filha de Márcia enviou à mãe a resposta de Ana: “Pode ficar tranquila que não falo nada, não”.
Num outro diálogo, no fim de 2019, em novembro, o filho de Queiroz mandou para Márcia uma mensagem de áudio encaminhada por Ana, em que ela afirma que não teria comentado com o “Anjo” sobre uma viagem de Queiroz e Márcia, pedindo que “se ele questionar alguma coisa, vocês falam que foi agora”.
“Anjo”, segundo as investigações, era como Queiroz e os parentes se referiam ao advogado Frederick Wassef.
Jornal Nacional: Vocês tinham o hábito de chamar o dr. Fred de “Anjo”?
Ana: Não, eu sempre chamei o dr. Fred de dr. Fred.
Jornal Nacional: Mas entre você, o Queiroz, a mulher? Teve alguma vez que vocês se referiram a ele como “Anjo”?
Ana: Bom, essa pergunta eu prefiro não responder.
A advogada disse ainda que não sabia responder se Frederick Wassef visitava Fabrício Queiroz em Atibaia. E que ela nunca esteve com o senador Flávio Bolsonaro, de quem Wassef era advogado até semana passada. Ana Flávia Rigamonti disse que deixou o escritório de Wassef em dezembro de 2019, por motivos pessoais.